
Acuada pelo descontrole da base no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff vai retomar uma das tarefas que considera mais indigestas: o corpo a corpo das negociações com líderes partidários. As tentativas de recompor alianças vão se expandir em reuniões pelas próximas semanas e testar os nervos da petista. Com a perda de espaço dos parlamentares do PT, ela mira caciques de outras legendas para recuperar a governabilidade.
O “amigo” mais desejado é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Apesar de ter ido contra o governo em diversas votações no primeiro semestre – em especial, nas pautas relacionadas ao ajuste econômico –, Renan é visto como único capaz de agir como antagonista do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu declaradamente com o Planalto há três semanas.
As pontes com o alagoano são fundamentais para manter algum controle sobre um eventual processo de impeachment e também sobre o julgamento das contas de Dilma.
Renan, em parceria com o ex-presidente José Sarney, teria o trânsito que falta ao governo no Tribunal de Contas da União para evitar a rejeição das contas de 2014, alvo de polêmica sobre as “pedaladas fiscais” (maquiagem contábil para fechar o balanço anual do governo dentro da lei orçamentária). Além disso, no caso de abertura de processo de impeachment pela Câmara, será o Senado quem vai julgar Dilma.
Um dos instrumentos para agraciar o senador seria o estreitamento da parceria da gestão Dilma com Renan Filho (PMDB), governador de Alagoas. Além do “tubarão” Renan, outros dois “peixes grandes” estão na lista do governo – os líderes do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). O primeiro teve o genro, o advogado Ricardo Fenelon Junior, 28 anos, recém-nomeado para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Já Picciani, escudeiro de Cunha na Câmara, abriu um canal de diálogo com Dilma a partir do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB).
O Planalto luta ainda para manter na base partidos médios como o PP (5 senadores e 39 deputados) e recuperar outros que romperam com o governo, como o PTB (3 senadores e 25 deputados) e o PDT (6 senadores e 19 deputados).
“A iniciativa de conversar é boa, mas quem garante que a coisa vai além da conversa?”, questiona o deputado paranaense Alex Canziani (PTB).
Vice-líder do governo ao longo da primeira gestão Dilma, o petebista diz que o Planalto passa por uma crise de “liderança”. “Os líderes do PT não têm mais credibilidade exatamente porque não tem autonomia para entregar nada.”
Presidente do PT no Paraná, o deputado Enio Verri diz que os petistas perderam espaço na defesa dos interesses do governo porque foram encurralados pelo presidente da Câmara. “É uma situação muito difícil. Tanto que a maioria da bancada preferiu encarar a briga nas bases do que no plenário”, diz Verri.
Atual vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) conta que já foram três reuniões sem respostas efetivas de Dilma. “Acho que ela ainda não foi convencida de que precisa mexer no governo – e muito”, diz.
A principal alteração, segundo Barros, é dar mais autonomia aos partidos que comandam os ministérios, ou seja, retomar a política de “porteiras fechadas”.
“Não adianta nada um partido ter ministro se não puder implantar seu programa partidário no ministério”, diz. Para Barros, porém, a situação é cada vez mais complicada para Dilma. “O governo precisa se dar conta de que a sua principal moeda para a formação das coalizões, que são os cargos, está ficando podre. Quando os líderes rejeitarem postos porque não vale a pena o desgaste de integrar o governo, não tem mais como negociar.”



