
Preocupada com a bancada evangélica, que ameaçava endossar o pedido de CPI para investigar o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, a presidente Dilma Rousseff decidiu suspender o kit anti-homofobia que seria distribuído pelo Ministério da Educação para professores de escolas de todo o país saberem lidar com o assunto em sala de aula. A decisão de Dilma foi anunciada em um telefonema na terça-feira à noite da presidente ao senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), um dos líderes dos evangélicos no Congresso.
"Ela telefonou para mim e disse ter determinado ao ministro Fernando Haddad [da Educação] a suspensão do material. Afirmou que não quer o ministério envolvido em assuntos que devem ser tratados pelas famílias", disse Crivella. O efeito foi imediato na bancada evangélica, diminuindo a pressão sobre Palocci. "Diante disso não vamos endossar a convocação de Palocci", disse o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), outro líder dos evangélicos.
Na conversa com Crivella, Dilma disse que pretende se reunir com líderes evangélicos na próxima semana. O kit anti-homofobia também foi assunto do jantar de Dilma, na terça-feira à noite, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e os ministros Palocci, Miriam Belchior (Planejamento) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), no Palácio da Alvorada. A participação de Lula na reunião foi mais um indicativo de que ele está assumindo uma função extra-oficial importante no governo: a de conter a crise do Planalto com o Congresso.
Durante a reunião, Dilma disse que um vídeo presente no kit era "totalmente inadequado". "A presidente assistiu ao vídeo e não gostou e vai conversar com os ministros. Ela achou que o vídeo era impróprio para o seu objetivo", disse Gilberto Carvalho. "Não se trata de uma posição só de aparências. A presidente tem as suas convicções e acha que o material é inadequado. Ela foi muito clara nesse sentido e determinou que esse material não circule oficialmente por parte do governo."
Carvalho fez questão, porém, de dizer que a decisão da presidente não teve nenhuma relação com o caso Palocci embora parlamentares da bancada evangélica tenham deixado claro que a possível convocação do ministro foi usada como barganha. "Nós oferecemos o diálogo e eles [os parlamentares da bancada evangélica] que tomassem a atitude que achassem consequente. Eles que decidiram suspender aquela história que eles estavam falando [de convocar o Palocci ao Congresso]. Não tem toma lá dá cá", disse o ministro.



