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Dilma em campanha: ministra durante inauguração de obra do PAC no Rio Grande do Sul | Neco Varella/AE
Dilma em campanha: ministra durante inauguração de obra do PAC no Rio Grande do Sul| Foto: Neco Varella/AE

Planalto teme que crise influencie crescimento da candidata

Dentro do governo existe a avaliação de que o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff poderá ser influenciado pela evolução da crise econômica internacional. Até agora, os efeitos da crise sobre a economia brasileira não provocaram estragos na avaliação extremamente positiva do governo e do presidente Lula.

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Brasília - O Palácio do Planalto promoveu uma guinada nos rumos da estratégia caseira para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: na semana passada, em definitivo, Dilma Rousseff trocou o figurino de "gestora" da Esplanada dos Ministérios pelo de candidata petista em 2010. O PT já patrocina sem constrangimento as andanças político-partidárias da ministra e organiza jantares com o intuito explícito de promovê-la eleitoralmente.

Desde o fim de janeiro, os compromissos da "gestora", sempre cheios de "despachos internos" para coordenar os colegas e prestar contas a Lula, vêm dando lugar a agendas típicas de candidatos, com inaugurações, viagens e fotos em profusão ao lado do presidente. Com a consolidação do nome da ministra no PT e na opinião pública, Lula deflagrou a segunda fase do trabalho político com uma meta: fazer com que Dilma apareça nas simulações eleitorais até o fim do ano com algo em torno de 15% a 20% das intenções de voto. Se alcançar esse patamar com tanta antecedência, Lula e seus aliados avaliam que o governo terá chance real de vitória em 2010.

Segundo pesquisa CNT/Sensus, divulgada este mês, Dilma tem hoje 13,5% das intenções de voto. Na mesma pesquisa, seu provável adversário, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), está disparado em primeiro lugar, com 42,8%. É justamente para encurtar essa diferença que Lula acelera o andamento da campanha de Dilma.

Reduto

O sinal mais evidente da aposentadoria da Dilma-gestora foi sua agenda na sexta-feira. Enquanto o presidente lançava no Nordeste linhas de crédito do Banco do Brasil e visitava obras, a ministra passou o dia no Rio Grande do Sul – teoricamente, seu reduto eleitoral, embora nunca tenha disputado uma eleição. No Sul, participou de inaugurações e anunciou o início da construção da expansão do Trensurb (trem metropolitano) de São Leopoldo a Novo Hamburgo, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A semana passada começou com discursos no encontro com 3,5 mil prefeitos – amplamente criticado pela oposição por antecipar o debate eleitoral –, seguidos de uma romaria de visitas com Lula em Pernambuco, na quinta-feira, vistoriando obras do PAC. O último compromisso, na sexta-feira, depois da esticada gaúcha, foi um jantar em São Paulo promovido pela ex-prefeita Marta Suplicy em sua homenagem.

A próxima mobilização pró-Dilma dentro do PT deve ocorrer no Nordeste. O ex-prefeito do Recife João Paulo Lima e Silva foi escalado por Lula para ajudar a ministra na popularização de sua imagem e organizará outro jantar para ela após o carnaval. "Ela pode falar sobre conjuntura nacional, sobre o Programa de Aceleração do Crescimento e a crise financeira. Assunto é o que não falta", disse João Paulo.

Curitiba na agenda

Curitiba é outra capital que está no roteiro de viagens de Dilma. Convidada pela presidente do diretório do PT do Paraná, Gleisi Hoffmann, ela participará de um debate com a seção estadual do partido sobre crise e crescimento econômico.

Dilma vem também sendo ajudada pelo colega de segundo andar do Palácio do Planalto Franklin Martins, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social. O jornalista tem dado dicas para que ela seja mais concisa ao responder a perguntas de repórteres na hora de apresentar os projetos do governo. Inicialmente resistente à possível candidatura Dilma, o PT foi obrigado a se render ao rolo compressor alimentado pelo próprio presidente em prol da ministra.

Na semana passada, na festa de 29 anos do PT, Dilma tentou cativar a plateia ao dizer que a legenda deve ter "orgulho" de sua trajetória. "É o partido que transformou 20 milhões de brasileiros na chamada nova classe média do presidente Lula", discursou a ministra, que é considerada "cristã nova" no PT por ter apenas nove anos de filiação.

Na avaliação do secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP), Dilma é "forte candidata" para as eleições de 2010. "Agora, devemos ampliar o contato dela com forças políticas aliadas e movimentos sociais para que possamos cada vez mais nos credenciar para a disputa presidencial", observou Cardozo.

Apesar do esforço, porém, a retórica da gerente do governo ainda não empolga e merece alguns reparos dos companheiros. "O linguajar da Dilma ainda é um pouco difícil para quem vai disputar uma eleição", constatou o ex-ministro da Saúde Humberto Costa.

A fase 2 do projeto Dilma também inclui uma atualização dos discursos adotados pela própria ministra. Na avaliação dos aliados do presidente, ela tem algumas "características duplas" que podem ser vantajosas no contato com diversos tipos de eleitores. Por exemplo, ao mesmo tempo em que pode se comunicar francamente com os movimentos sociais mais progressistas, por conta de seu passado de luta armada contra a ditadura militar, Dilma também tem espaço com o empresariado mais conservador pela atividade como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil no governo Lula.

Nessa linha, o presidente quer que ela passe a falar diretamente com o eleitorado das classes mais pobres, onde é pouco conhecida. Mas também deseja que Dilma não abandone a ponte que consolidou com o setor produtivo e empresarial durante suas atividades dentro do governo. O presidente acha que uma das vantagens de Dilma é não sofrer a rejeição desses setores.

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