
Brasília - A presidente Dilma Rousseff deu ontem indicativos de que o tratamento das denúncias de corrupção envolvendo integrantes do PMDB será diferente do dispensado ao PR alvo da "faxina" no Ministério dos Transportes. Dilma defendeu nesta segunda-feira, publicamente, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, cuja pasta tem sido denunciada por suspeita de irregularidades. Rossi é peemedebista e foi nomeado por indicação do vice-presidente Michel Temer. O PMDB é o principal partido da base aliada de Dilma no Congresso, juntamente com o PT.
"Não há razão para ter qualquer questão em relação ao ministro Wagner Rossi", disse Dilma aos jornalistas. "Ele [Rossi] já tomou as medidas e estamos sem sombra de dúvidas reiterando a confiança no ministro", afirmou. Anteontem, o Planalto já havia emitido uma nota em que defendia Rossi.
No último sábado, o então secretário-executivo do Ministério, Milton Ortolan, se demitiu após a revelação da revista Veja de que um lobista atuava dentro do ministério influenciando contratos e licitações. O ex-diretor financeiro da Companhia Nacional de Habitação (Conab) Oscar Jucá Neto havia denunciado uma semana antes que o PMDB e o PTB haviam montado um "consórcio" para desviar dinheiro do ministério.
Prestigiado
Prestigiado por Dilma, Rossi convocou ontem a imprensa para uma entrevista coletiva. E disse tem o apoio da presidente. "Ela [Dilma] tem me dado motivos para que eu me sinta firme e confortável [no ministério", afirmou.
Durante a entrevista, Rossi deixou claro que sua estratégia é se desvincular das supostas irregularidades na pasta. Ele pediu à imprensa que, se souber de irregularidades, que avise o ministério para que providências sejam tomadas. Os problemas, segundo ele, são derivados de ações de subordinados seus sobre as quais ele não tem controle direto. "Eu não tenho como controlar tudo", afirmou mais de uma vez o ministro.
Ele também especulou que as denúncias contra sua pasta podem ser fruto de disputas entre grupos rivais dentro do ministério e da Conab. "Quem conhece a administração pública sabe que, às vezes, você muda a equipe, e a equipe anterior e a equipe atual se hostilizam por baixo do pano. Isso acontece", disse o ministro.
Rossi reconheceu ainda que o loteamento político das diretorias (entre aliados do PMDB, PTB e PT) da Conab são um problema. "Isso tem criado problemas, eu não vou negar", afirmou o ministro. Antes de ser nomeado ministro, ainda no governo Lula, Rossi foi presidente da Conab.
Rossi considerou legítima a indicação de parentes de líderes de seu partido, o PMDB, para cargos na Conab. Reportagem de domingo do jornal Folha de S.Paulo mostrou que receberam cargos no órgão um filho de Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado; a ex-mulher de Henrique Eduardo Alves (RN), líder da sigla na Câmara; um neto do deputado federal Mauro Benevides (CE); e um sobrinho do ex-governador Orestes Quércia, peemedebista morto no ano passado.
Em relação à reportagem da revista Veja, que afirma que o lobista Júlio Fróes tinha uma sala no ministério e que redigia editais de licitação e elaborava pareceres, Rossi afirmou que determinou ontem a instauração de uma sindicância. Rossi voltou a negar que conhecesse Fróes, mas admitiu tê-lo cumprimentado uma vez dentro do ministério, ao sair de seu gabinete.



