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Uma das principais vozes da oposição no Senado, Aloysio Nunes atacou o governo Dilma. | Antônio Cruz/Agência Brasil
Uma das principais vozes da oposição no Senado, Aloysio Nunes atacou o governo Dilma.| Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Uma das principais lideranças do PSDB, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) diz que, se a Câmara abrir o processo de impeachment, o Senado “não se recusará a oficiar o funeral”.

A intervenção do Planalto no PMDB e a reviravolta no Supremo são uma pá de cal no impeachment?

Dilma faz o diabo para se aguentar no poder. A relativa folga de hoje será o pesadelo de amanhã. De todas as decisões do Supremo, a mais aberrante é a proibição das candidaturas avulsas para a comissão do impeachment. Candidaturas avulsas são frequentes no Congresso. A decisão do STF criou obstáculos procedimentais, mas a questão de fundo permanece: os fatos criminosos, a crise, a sensação de que não temos governo. Se a Câmara, por dois terços, autorizar o processo contra a presidente, estará lavrando o atestado de óbito do governo. O Senado, independentemente do papel que lhe conferiu o Supremo, não se recusará a oficiar o funeral.

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O governo avalia que foi pouca gente para as ruas e o impeachment arrefeceu. O senhor concorda?

Pobre governo cuja principal atividade é contabilizar o número de manifestantes e exibir uma falsa alegria quando as manifestações de hoje têm menos gente que as de ontem. É o que lhe sobrou, um farrapo de esperança. Tem que se contabilizar sobretudo os que não foram para as ruas e que querem o impeachment, com defecções importantes na base do governo. A Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] se reuniu e por unanimidade os diretores se manifestaram a favor do impeachment.

O senhor acha que é uma defecção importante?

Muito! É gente que se beneficiou de todas essas políticas setoriais do governo da presidente Dilma, e que agora viu derreter. A indústria brasileira, hoje, tem a mesma participação no PIB que tinha em 1940. E a sensação é que, se vier o Michel Temer, pior do que está não vai ficar. E existe uma chance de melhorar. Hoje existe o risco real de uma explosão do descontentamento popular nunca visto. Desemprego aumenta, prazo de permanência do seguro-desemprego vai se esgotando, a renda diminuindo, inclusive para os que recebem o Bolsa Família, inadimplência das empresas afetando os bancos, dependência das pessoas que não conseguirão pagar as contas levando-as a perder o que têm.

O PSDB está sendo cobrado a ajudar um eventual governo Temer.

Se nós contribuirmos para o impeachment — e nossos votos estarão lá —, estamos predispostos a assumir responsabilidades no futuro. Isso não quer dizer necessariamente participação no governo. É preciso também que, se vier a assumir a Presidência, Michel Temer diga qual seu programa mínimo para restabelecer a paz política, a credibilidade, e compor um governo diferente que este adotado até agora e do qual ele participa com sete ministérios, distribuídos aí com o único objetivo de impedir o número crítico para aprovação do impeachment. De acordo com o método que ele vai adotar e com o programa, nós podemos inclusive participar.

Seu nome chegou a ser incluído na lista de investigados da Lava Jato e depois retirado para ser investigado como caixa dois. Isso não dá munição aos adversários?

No primeiro depoimento do Ricardo Pessoa, da UTC, ele disse que eu havia pedido, além do recurso da doação de campanha, mais R$ 200 mil. Mas há um segundo depoimento, já entregue ao relator Celso de Mello, em que ele retifica o primeiro e diz que houve um equívoco, que eu nunca tratei sobre isso. O inquérito deve ser encerrado logo após o recesso judiciário. Isso aborrece muito, espero que tudo se esclareça o mais rápido possível e se encerre o caso.

Agora, um delator disse que houve pagamento de R$ 300 mil para o senador Aécio Neves. Não é um constrangimento para o PSDB?

Absolutamente, não. Se trata da declaração de um boquirroto, que coloca na mesma situação o senador Randolfe Rodrigues, um homem probo como o Aécio. E os dois já responderam à altura essa infâmia.

O senhor é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. O governo está no meio de um impasse sobre a concessão do agreement a Dani Dayan, indicado pelo governo de Israel como embaixador no Brasil. Há viés ideológico na posição do Brasil ou a chancelaria israelense está quebrando o protocolo?

As duas coisas. A causa do mal estar com a indicação de Dayan é uma nítida inclinação do governo brasileiro pró-Palestina. Os governos brasileiros, inclusive de Fernando Henrique Cardoso, sempre foram críticos em relação às ocupações [do território palestino]. Mas a simpatia do governo com a causa palestina não pode ser motivo para se rejeitar a indicação de um embaixador. No entanto, é preciso reconhecer que o governo de Israel também rompeu uma praxe diplomática ao, antes de se submeter a consulta ao país recebedor, tornar pública sua indicação. Agreement significa concordar. Quando um país indica alguém para a embaixada, o país recebedor precisa concordar. Agora, o melhor é que cada um dos lados pare de falar. O único acordo comercial que o Brasil conseguiu tirar do papel, no Mercosul, foi com Israel.

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