
Brasília - A oposição cobrou da presidente Dilma Rousseff uma faxina no Ministério da Agricultura nos mesmos moldes da feita na área de transportes. Para os parlamentares oposicionistas, Dilma não pode proteger o ministro Wagner Rossi simplesmente por ele ser do PMDB e afilhado do vice-presidente Michel Temer. A pressão cresce depois que o secretário-executivo da pasta, Milton Ortolan, caiu após a revelação de seu envolvimento com o lobista Júlio Fróes.
As evidências do loteamento político e inchaço no ministério devem tornar mais duro o depoimento de Rossi no Senado, onde ele irá na quarta-feira. E o ministro inicia a semana mais fragilizado, pois a Controladoria-Geral da União mandou 12 auditores para fazer um levantamento sobre os últimos contratos e convênios feitos pelo Ministério da Agricultura.
O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), disse que o objetivo da oposição é conseguir abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito onde consiga investigar as denúncias de corrupção nas diferentes esferas do governo. Ele destacou que a postura diferente de Dilma frente às acusações na área de Agricultura confere à atuação dela no caso do ministério dos Transportes aspectos de jogo de cena.
"O Ortolan é o próprio ministro, é homem de confiança do Wagner Rossi. Eles estão juntos há anos. A presidente tem que dizer se a justiça dela é seletiva porque não dá para dizer que o Rossi está menos comprometido do que estava o Alfredo Nascimento", disse Demóstenes.
Para Duarte Nogueira, líder do PSDB na Câmara, a demissão do auxiliar direto de Rossi reforça a necessidade de investigação. "A demissão é um indício de que há muito mais a ser descoberto e investigado". A intenção dos tucanos é convidar todos os envolvidos nas denúncias a prestar esclarecimentos na Câmara. O PPS, por sua vez, pedirá que Rossi retorne à Câmara e estuda pedir investigação do Ministério Público Federal sobre as suspeitas de fraudes em licitações na pasta.
Demissão
O pedido de demissão de Ortolan foi feito no sábado. Ele tomou a decisão após a publicação de reportagem pela revista Veja segundo a qual seria conivente com irregularidades e desvios de recursos no Ministério.
A reportagem da revista afirma que Fróes redigiu um documento usado como base para o Ministério contratar sem licitação por R$ 9,1 milhões a Fundação São Paulo, mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A entidade tinha o lobista como representante e após conseguir o contrato ele teria dado pastas com dinheiro a funcionários que o tinham ajudado no processo. O lobista negou as acusações.
Inchaço no ministério acomoda apadrinhados
Contrariando a determinação do Planalto de corte de custos, o quadro de funcionários do Ministério da Agricultura foi inchado para acomodar apadrinhados. Como não podia simplesmente se desfazer de técnicos essenciais para a rotina da pasta, a solução para atender aos pedidos de aliados foi ampliar o quadro de "assessores" fazendo com que a pasta batesse recorde em número de funcionários nesta função.
Em janeiro, o ministro Wagner Rossi trocou Gerardo Fontelles por Milton Ortolan na secretaria-executiva. Mas o manteve no quadro como seu assessor especial. Agora, com a queda do apadrinhado, Rossi tem recebido sugestões para trazer de volta o auxiliar para a secretaria.
Fontelles é um técnico com larga experiência no setor e a avaliação é que seu retorno seria uma saída inteligente para o ministro se desvincular do rótulo das indicações políticas. A volta do técnico poderia ajudar também porque há uma expectativa até no próximo ministério de que as denúncias na área não terminaram.
Outra mudança ocorreu em 18 de maio. O secretário de Política Agrícola (divisão mais importante do Ministério), Edilson Guimarães, cedeu seu cargo a José Carlos Vaz. Mas foi acomodado como assessor na Secretaria de Relações Internacionais e substituído.
No último dia 20, mais uma rodada de mudanças foi feita com esse padrão: exoneração de servidores de carreira dos cargos em comissão. Desta vez, os atingidos foram técnicos que atuavam no Departamento de Comercialização e de Abastecimento Agrícola e Pecuário: o diretor José Maria dos Anjos e os coordenadores Sávio Pereira e Silvio Farnese. Todos continuam a trabalhar, e é com eles que o setor privado ainda prefere conversar quando tem dúvidas a esclarecer.



