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transição

Disputa por cargos pode criar recorde de ministérios

Partidos de sustentação do governo não darão trégua na hora de negociar pastas. Número atual de ministérios já é o maior desde a redemocratização

Confira a evolução no número de ministros |
Confira a evolução no número de ministros (Foto: )

Quase R$ 50 bilhões para investimentos em 2011, além dos R$ 708 bilhões para custeio da máquina. Essas são as previsões de gastos para os 37 ministérios do Brasil em 2011. E são esses valores que atiçam tanto a cobiça dos partidos de sustentação de Dilma Rousseff (PT). Se ela fosse atender a todos os interesses já manifestados – possibilidade já descartada pelo PT –, teria de criar pelo menos outras 21 pastas. Mas, mesmo que seja instalado apenas mais um gabinete, já vai bater o recorde negativo que hoje pertence ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde a redemocratização, em 1985, nunca havia sido tão alto o nú­­mero de ministérios, secretarias especiais ou órgãos com status equivalente.

Durante a campanha eleitoral, Dilma Rousseff se comprometeu a criar pelo menos mais um ministério, voltado às micro e pequenas empresas. Ela não fez comentários sobre extinção de pastas. Na semana passada, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, reiterou esse compromisso da petista, e negou que ela vá ampliar o número de pastas para acomodar todos os aliados. "Essa não é a intenção da presidente. Durante a campanha, ela fez referência à criação de um novo ministério, mas isso não foi em função de acomodação", disse na quinta-feira.

De acordo com dados do site da Presidência do Brasil, há atualmente 24 ministérios, nove secretarias especiais e quatro órgãos que podem ser considerados com status semelhante: a Casa Civil da Presidência, a Controladoria-Geral da União, a Advocacia-Geral da União e o Gabinete de Segurança Institucional. O número de ministérios é o mesmo das gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995- 2002), mas o tucano não criou tantas se­­cretarias especiais como Lula. Entre os presidentes, Fernando Collor (1990-1992) foi o que teve a máquina mais "enxuta": tinha ao seu lado 17 ministros e um total de 27 integrantes no primeiro escalão (veja mais no infográfico ao lado).

Coalizão

Para se eleger, Dilma contou com uma aliança formada por dez partidos (PT, PMDB, PDT, PSB, PSC, PR, PTC, PCDOB, PRB, PTN), que querem uma fatia da Esplanada. Além disso, o PP, o PTB e até o PV estão se movimentando para ocupar alguns cargos. Como moeda de troca, as siglas oferecem o apoio ao Pla­­nalto para aprovação de projetos na Câmara e no Senado.

O cientista político Leonardo Barreto explica que a disputa por ministérios faz parte do jogo de­­mocrático brasileiro. "No Bra­­sil vigora um sistema de coalizão, com muitos partidos, e o presiden­­te precisa deles para governar e ter maioria no Legislativo. Em troca, precisa compartilhar cargos", diz. Segundo ele, a divisão de po­­der não ocorre apenas por fisiologismo; "faz parte do jogo", acrescenta.

O professor da PUCPR Denis Alcides Rezende, pós-doutor em Administração Pública, também sustenta que a disputa por cargos faz parte da cultura política brasileira, e que ela é inerente ao sistema de coalizão vigente. "Podemos ter muitos ministérios, mas a quantidade é uma questão secundária. É a mesma coisa que ocorre em grandes empresas, nas quais geralmente são criadas mais diretorias e ge­­rências", pondera. O grande problema, segundo ele, é a ma­­neira de prover os cargos de primeiro escalão. "O problema é colocar uma pessoa apenas pela reciprocidade dos acordos eleitorais", afirma.

Os dois especialistas argumentam que é preciso impor limites para as nomeações. "O presidente Lula, para agradar a todos, criou novos espaços. Houve uma banalização dos ministérios. É muito prejudicial essa criação indefinida de cargos com o intuito de apenas alimentar o apetite dos partidos", observa.

Sem vínculo

"A estrutura administrativa do Brasil passou a ser um es­­paço para acomodar aliados. Perdeu-se a vinculação de vá­­rios ministérios com sua finalidade", critica Belmiro Val­­verde Jobim Castor, professor do Doutorado em Ad­­minis­­tração da PUCPR. Se­­gun­­do ele, a sociedade deveria agir para barrar o inchaço da má­­quina e sua ocupação por pessoas sem a devida qualificação. "Somos nós cidadãos que pagamos por essa es­­trutura. É preciso cobrar mais responsabilidade", acrescenta.

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