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investigação

Documentos ligam doleiro a Carlinhos Cachoeira

PF encontrou depósitos de empresas de fachada ligadas ao esquema do bicheiro em contas de empresas fictícias de Youssef

Em 2012, Cachoeira foi denunciado como o operador de uma organização de jogo ilegal | Rossewelt Pinheiro/ ABr
Em 2012, Cachoeira foi denunciado como o operador de uma organização de jogo ilegal (Foto: Rossewelt Pinheiro/ ABr)

Transações bancárias e depoimentos à Justiça Federal apontam ligação entre o doleiro Alberto Youssef e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, duas figuras de escândalos nacionais recentes. A Polícia Federal (PF) encontrou depósitos de empresas de fachada ligadas ao esquema de Cachoeira em contas de empresas fictícias de Youssef. As operações financeiras, que somam R$ 3,65 milhões, foram realizadas em 2010, durante o período de campanha eleitoral.

INFOGRÁFICO: Veja os documentos que mostram o envolvimento entre os esquemas operados por Alberto Youssef e Carlinhos Cachoeira

As investigações apontam semelhanças entre os dois: tanto Youssef quanto Cachoeira são investigados por lavagem de dinheiro e mantinham contato com grandes empreiteiras e com políticos de vários partidos. Foram encontradas pistas de suposto envolvimento do bicheiro com parlamentares de pelo menos seis siglas (PT, PSDB, PP, PTB, PPS e PCdoB) ; já Youssef operava principalmente para o PP, mas também teria feito serviços para o PT e o PMDB, segundo as investigações até o momento.

Na operação Monte Carlo, deflagrada pela PF em 2012, Cachoeira foi denunciado como o operador de uma organização de jogo ilegal em Goiás e no Distrito Federal. Ele ficou preso por alguns meses e hoje responde ao processo em liberdade. Youssef foi condenado pelo caso Banestado e está em processo de delação premiada na Lava Jato.

Depoimento

Waldomiro Oliveira, apontado como um dos laranjas de Youssef – responsável por receber valores em sua conta pessoal e repassar ao doleiro –, relatou em depoimento à Justiça Federal que a ligação entre o chefe e o bicheiro chegou a ser notada durante a CPI do caso Cachoeira no Congresso, em 2012. Waldomiro conta que entrou um repasse de uma empresa ligada à Cachoeira em uma das contas de Youssef, o que chamou a atenção dos integrantes da CPI.

"Era um dinheiro que entrou na conta, e parece-me que foi alguma coisa com relação a alguma empreiteira. Não sei claramente. Hoje eu sei que é a Delta", disse ele no depoimento. Ele se refere à empreiteira Delta, investigada no escândalo Cachoeira por supostamente diluir verba pública em empresas laranjas. Não houve na CPI nenhuma condenação à empresa, que ficou por um período na lista de inidôneas para firmar contratos com a União. Atualmente a empresa está em processo de recuperação judicial.

Na época, a Delta era a que mais havia fechado contratos dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "O aparente sucesso ocultava as intrincadas relações da Delta Construções S/A com a organização criminosa comandada por Carlos Cachoeira", diz o relatório da CPI.

Contadora

Em depoimento à CPI mista que investiga a Petrobras, este ano, a contadora Meire Poza, que trabalhou para Youssef, diz que foi procurada por Oliveira, a pedido do doleiro, para resolver a contabilidade da RCI Software e Hardware, da MO Consultoria e da Empreiteira Rigidez –três empresas de fachada de Youssef. Ela teria se negado a fazer o trabalho.

"Mesmo eu não tendo feito o serviço, pedi que ele retirasse [os documentos], mas ele nunca retirou. Olhando esses documentos, eu sei que existiam lá alguns contratos que especificavam algumas obras", disse ela aos parlamentares em outubro.

Investigação e CPI detalham repasses

Na denúncia que originou a Lava Jato, o Ministério Público Federal (MPF) apontou repasses de empresas ligadas a Carlinhos Cachoeira para a MO Consultoria, de Alberto Youssef. A Rock Star Marketing Ltda realizou 13 depósitos que somam R$ 1,2 milhão para a empresa do doleiro. Em 9 de junho de 2010 foram depositados R$ 450 mil, e no dia 15 de julho mais R$ 750 mil.

A empresa JSM Engenharia e Terraplanagem também aparece entre as depositantes da MO Consultoria. Em 20 de julho de 2010 foram depositados R$ 300 mil. A Rock Star e a JSM receberam juntas um total de R$ 49 milhões, em 2010, da Delta.

O relatório final da CPI do Cachoeira relaciona um depósito de R$ 196 mil da empresa Alberto e Pantoja, em novembro de 2010, na conta da RCI Software e Hardware, empresa controlada por Youssef. Entre os dias 18 de outubro e 4 de novembro de 2010, a CPI também apontou depósitos que somam R$ 753.560,00 da empresa G&C na conta da RCI.

Os parlamentares chegaram à conclusão de que a Alberto e Pantoja e a G&C eram controladas pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, mas não conseguiram ligar a RCI ao doleiro Alberto Youssef na época. A ligação foi descoberta pela PF apenas durante as investigações da Lava Jato. Criticada na época por ter acabado em pizza, a CPI terminou sem indiciar ninguém.

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