
Depois de horas em estúdios e segredos guardados a sete chaves, os programas do horário eleitoral gratuito dos candidatos começam a ser exibidos a partir de hoje na televisão e no rádio. Tanto cuidado se justifica pelo peso que os dois meios de comunicação, principalmente a tevê, têm na decisão de voto do eleitor. Segundo especialistas, a campanha de verdade começa agora, quando as pessoas tomarão contato diário com os candidatos. E o tom adotado pelos concorrentes pode ser decisivo para mudar o quadro eleitoral ou consolidá-lo.
O horário eleitoral gratuito se inicia hoje com a propaganda dos candidatos à Presidência (amanhã começam os programas dos candidatos a governador).
O presidente Lula, embalado por sua alta popularidade, deve ser um dos personagens centrais da programação, tanto na propaganda nacional como na estadual. No fim de março deste ano, Lula atingiu a sua melhor avaliação desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2003. Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem, 78% da população considera seu governo ótimo ou bom o que o torna o maior cabo eleitoral do país.
Além da popularidade, Lula tem um discurso muito bem aceito pelos eleitores o que pode convencer a população a votar nos candidatos que ele indica, diz o especialista em análise de discurso Carlos Piovezani, professor da Universidade Federal de São Carlos.
Líder nas pesquisas, 11 pontos à frente do tucano José Serra (segundo o Ibope de ontem), Dilma Rousseff (PT) vai tentar aproveitar esse fato. Sua propaganda buscará passar a imagem de uma mulher guerreira, que foi braço direito de Lula como ministra das Minas e Energia e da Casa Civil.
"A [campanha da] situação vai projetar o futuro como continuidade, a ser melhorado aquilo que vem dando certo", afirma Piovezani. "Para a oposição, o passado é ruim e o futuro tende a ser administrado de forma diferente." Serra, por sinal, adotou como lema de campanha o slogan de que "o Brasil pode mais".
Tucanos em lados opostos
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, atrás de Dilma nas pesquisas, deve tentar tirar votos cativos de Lula ao mostrar-se como um homem do povo, filho de um fruteiro. Ao mesmo tempo, especula-se que a estratégia de campanha tenderá a se tornar mais agressiva, ao tentar associar Dilma ao "radicalismo" do PT estratégia que busca dissociar o Partido dos Trabalhadores do presidente Lula.
O tom mais agressivo da propaganda tucana pode ocorrer se Dilma crescer ainda mais nas pesquisas o que é dado como quase certo por alguns especialistas, principalmente porque muitos eleitores mais simples saberão, a partir do horário eleitoral, que Dilma é a candidata de Lula.
O presidente do instituto de pesquisas Vox populi, Marcos Coimbra, aposta no crescimento de Dilma. Em artigo publicado no jornal Correio Braziliense na semana passada, ele diz que as intenções de votos da candidata até agora são fruto de um processo de difusão da informação que alcançou o eleitor popular fundamentalmente através do chamado "boca a boca" o que tende a se intensificar com a propaganda no rádio e na tevê.
Já o tucano Beto Richa, líder nas pesquisas pelo governo do Paraná (com 46% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha), não deve em princípio adotar um tom mais agressivo como pode ocorrer com Serra no plano nacional. Em princípio, o programa deve destacar sua biografia e apresentar propostas.
O candidato ao Palácio Iguaçu Osmar Dias (PDT), por sua vez, também vai tentar associar-se à imagem de Lula durante a propaganda eleitoral. Segundo colocado nas pesquisas de intenções de votos na disputa pelo governo estadual (34%, segundo o Datafolha), ele espera mudar o quadro "surfando" na popularidade de Lula.
Sem ataques
As direções das campanhas de Richa e Osmar prometem que na programação não haverá ataques. A cientista social Samira Kauchakje, professora do curso de Sociologia e do Mestrado em Gestão Urbana da PUCPR, diz que esse deverá será o tom da campanha ao menos num primeiro momento. Mas, segundo ela, se o discurso não tiver boa repercussão, a estratégia muda, podendo partir para um tom mais agressivo. "Posso apostar que a estratégia vai ser muito menos de apresentar a programática partidária e muito mais de satisfazer o eleitor, no sentido de fazer com que o eleitor ouça aquilo que ele quer."
Peso decisivo
Samira explica ainda que a campanha no rádio e na tevê podem mudar o rumo de uma eleição. "A campanha na tevê e as propagandas eleitorais têm um peso significativo. Os próprios candidatos aguardam esse período para ver se modificam o quadro", diz.
Segundo ela, estudos indicam que muitos telespectadores e ouvintes decidem em quem votar vendo o horário eleitoral gratuito, sobretudo na tevê poder que a internet, novidade desta eleição, ainda não tem. "Eleitores têm definido seu voto a partir da campanha na televisão."
Serviço: O Ibope ouviu 2.506 eleitores brasileiros entre os dias 12 e 15 de agosto. A margem de erro é dois pontos porcentuais para mais ou para menos. O registro no TSE está com o nº 23.548/2010.
O Datafolha ouviu 1.221 pessoas em 46 municípios do Paraná entre os dias 9 e 12 de agosto. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no TSE com o protocolo 22.777/2010 e no TRE-PR com o número 18.123/2010.



