
Políticas e estratégias de defesa dos direitos do consumidor vêm sendo ignoradas na propaganda política e nos debates eleitorais pelos candidatos ao governo estadual e federal. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) mostra que 72% dos eleitores entendem que os candidatos não estão comprometidos com os direitos do consumidor. E a maioria dos internautas que responderam à pesquisa no site da entidade não soube identificar o tema no programa de nenhum candidato aos principais cargos em disputa nas eleições do dia 3 de outubro.O gerente de informação do Idec, Carlos Thadeu de Oliveira, avalia a situação como preocupante e atribui a falta de atenção ao assunto à ausência de apelo eleitoral do tema. "Infelizmente estamos em um momento político em que nenhum candidato quer se comprometer com projetos de médio ou longo prazo. As promessas e propostas são feitas basicamente com efeito eleitoreiro. É mais fácil propôr um aumento no salário mínimo e dizer você vai ter mais dinheiro para consumir do que dizer eu vou mexer neste sistema para garantir que seus direitos sejam respeitados."
Para Oliveira, o momento econômico que o país vive exige maior atenção ao assunto. "O mercado consumidor aumentou, mas a rede de proteção ao consumidor é insuficiente para atender à demanda", afirma.
A coordenadora institucional da associação de consumidores Pro Teste, Maria Inês Dolci, ressalta que a política de defesa do consumidor pode ser uma importante plataforma de governo, por estar relacionada com diferentes áreas, como Direito, cidadania, meio ambiente, economia e educação.
Ela avalia que os candidatos têm evitado discutir o assunto para não trazer à tona graves problemas envolvendo setores econômicos importantes, como elétrico, financeiro e de telefonia. "Neste momento não é interessante para alguns candidatos ter embates com empresas poderosas, que, inclusive são grandes financiadoras de campanhas", diz Maria Inês.
Compromisso público
Na expectativa de induzir este debate, o Idec e demais organizações membros do Fórum Nacional de Entidades Civis de Defesa do Consumidor (Fnecdc) lançaram uma plataforma pedindo a adesão dos candidatos à presidência da República a dez propostas para fortalecer a defesa dos direitos dos consumidores no país. O documento foi enviado a todos os candidatos.
Um dos pontos do documento sugere o fortalecimento do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), conferindo ao órgão maior autonomia administrativa e orçamentária, com a possibilidade de transformá-lo em secretaria especial ou ministério.
"O SNDC tem hoje pouco mais de 20 funcionários, para um país em via de se tornar a quinta economia do planeta, com um mercado consumidor que gira em torno de 130 milhões de pessoas", argumenta Oliveira, do Idec. Outra proposta do documento é a inclusão da educação para o consumo como disciplina no currículo educacional do país.
Até sexta-feira, apenas os candidatos Plínio de Arruda Sampaio (PSol), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) se comprometeram com a Plataforma dos Consumidores. Dilma Rousseff (PT), Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB), Rui Costa Pimenta (PCO) e Zé Maria (PSTU) não se manifestaram.
Voto consciente
Pelo site idec.org.br o consumidor também pode enviar uma cópia das propostas da entidade e exigir um posicionamento dos candidatos. "Para que o consumidor consciente vote de forma consciente é importante conhecer o perfil do candidato, sua plataforma política e ver se ele traz um passado de ficha limpa e com compromisso na defesa dos consumidores", orienta Maria Inês, da Pro Teste.



