
Acostumados a bater de frente com o governo, líderes de ONGs jamais cogitariam abraçar a vida partidária marcada por uma dinâmica muito diferente daquela experimentada por quem gosta de botar a mão na massa e alcançar resultados mais rápidos há alguns anos. A lógica, porém, parece estar mudando, pelo que se percebe em São Paulo, Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Nos três estados, três ongueiros pretendem sair candidatos a uma vaga no Legislativo local e um ao Senado (veja abaixo a lista dos candidatos ongueiros).
Convidada pelo PV para ser candidata à deputada estadual de Santa Catarina, a ambientalista e fundadora da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Miriam Prochnow, diz que ainda está estudando o convite do partido, mas vê com naturalidade a mudança de lado. "É um direito de todo cidadão, não importa a que setor ou área ele pertença. Apesar de não ser comum, a mudança é bem-vinda."
O objetivo da candidatura, segundo ela, seria a oportunidade de aprovar projetos na área da educação ambiental e de energias renováveis. Apesar de a vida política apresentar desafios totalmente novos, Miriam diz estar pronta. "Já tenho experiência com esse lado, pois trabalhei 14 anos junto à Câmara pela aprovação da lei da Mata Atlântica."
No Paraná, ainda não se tem notícia de candidaturas vindas do terceiro setor. No estado, os ongueiros possuem opiniões distintas sobre a iniciativa dos colegas que devem ser candidatos nas eleições deste ano. "Acho natural e até fundamental essa participação. Não podemos falar mal dos políticos e ao mesmo tempo não fazer nada para mudar o que está errado", diz Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e fundador do grupo Dignidade, que atua em Curitiba.
Para Reis, não há incompatibilidade de propósitos entre as duas experiências. "Os meios são distintos, mas o objetivo é o mesmo. Quem tem experiência e vontade pode e deve se candidatar para ajudar a ampliar alguns projetos que estão aí, dando um show no governo."
Já na opinião do diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clóvis Borges, a diferença de perfis entre o empreendedor social e o político pode dificultar o exercício pleno do mandato. "Geralmente, líderes de ONGs têm perfil condizente com o buscado pelo setor, que prima pela inovação, criação e o dinamismo. O ambiente político exige algo totalmente diferente. Quem não tem esse perfil pode ter o desempenho político comprometido", afirma.
Borges, no entanto, acredita que a preocupação de algumas entidades de perder a credibilidade por possuir um de seus membros envolvidos com a política não se justifica. "Hoje, infelizmente, as próprias ONGs já estão desacreditadas pela falta de seriedade de algumas. Se o objetivo é legítimo, deve-se correr o risco".



