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O lulismo, ou o petismo, con­­seguiu o que o PSDB sonhou e não atingiu: um projeto de longo prazo com base nas urnas.

Em meados da década de 1990, o PSDB chegou ao poder supostamente com um plano de permanecer 20 anos no comando do país. Na época, parecia fazer sentido. Pela primeira vez um partido organizado chegava à Presidência por eleições diretas depois da ditadura (o PRN de Collor era praticamente inexistente). E Fernando Henrique, com a popularidade trazida pelo Plano Real, navegava em águas tranquilas.

Em 2002, tudo mudou. O PT, que havia perdido três eleições consecutivas com Lula, descobriu a fórmula para o sucesso. O ex-sindicalista, que já tinha parcela importante da população a seu lado pela postura combativa, re­­solveu adotar a postura "paz e amor" que lhe tirava a antipatia de mais uma parte do eleitorado. Somado ao desgaste do governo FHC, foi o suficiente para pôr fim aos 20 anos desejados por Sérgio Mota.

O que ninguém parecia imaginar, não falando nem em 94, mas em 2002, é que o PT, sim, conseguiria fazer um projeto eleitoral para mais de uma década. No go­­verno, Lula se mostrou hábil para jogar para todas as platéias ao mesmo tempo. O discurso de paz e amor resultou num governo em que a ideia era fazer, mais ou me­­nos nos moldes de Golbery, o chefe da Casa Civil no governo Geisel, um sistema de pêndulos.

No caso de Geisel, o presidente, que queria a abertura, para encerrar o ciclo militar, fazia um gesto em direção à democracia para, logo a seguir, fazer outro que agradasse aos militares linha dura, que queriam permanecer no po­­der indefinidamente. No caso de Lula, a ideia era agradar aos mais necessitados, com Bolsa Família, para, não a seguir, mas ao mesmo tempo, garantir lucros extraordinários aos banqueiros com taxas de juro altíssimas.

Conseguiu o que queria: um governo popular, com aceitação recorde entre as classes mais po­­bres, sem o veto das classes mais altas. Ao mesmo tempo, aproveitando o poder de combatividade do PT, que não tem paralelo em nenhum outro partido do país, demonizou o projeto anterior do PSDB, único a lhe fazer sombra durante todo o governo.

O resultado foi um poder eleitoral, no jeito de dizer do próprio presidente, nunca antes visto na história deste país. Parece exagero? Façamos um teste. Pense em um presidente popular no nosso passado. Disse Getulio? Ou quem sabe JK? Pois é. Nenhum deles conseguiu eleger o sucessor (Ge­­tulio apoiou Dutra contra a vontade e não fez campanha). Lula conseguiu.

Mais do que isso: Lula foi o primeiro presidente eleito em 80 anos a fazer seu sucessor. E isso sem contar que se contava de uma candidatura manca, de uma política que nunca havia disputado eleições. A conclusão é óbvia. O lulismo, ou o petismo, conseguiu o que o PSDB sonhou e não atingiu: um projeto de longo prazo com base nas urnas.

Rogerio Waldrigues Galindo é repórter de Vida Pública e autor do blog Caixa Zero.

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