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Eleições 2010

Ela foi a “papisa da subversão”

Luísa, Wanda, Stela, Marina, Ma­­ria Lúcia. Os militares abandonaram os codinomes de Dilma Vana Rousseff Linhares, em 1970, para chamá-la de Joana D'Arc ou Papisa da Subversão. "A figura feminina de expressão tristemente notável", que "ingressou nas atividades subversivas em 1967" e "jamais esmoreceu", dizem os autos do processo 366/70, guardados em um cofre do Superior Tribunal Militar (STM) du­­rante as eleições, com acesso negado até a Dilma, para, segundo os militares, não tumultuar o processo eleitoral.

Para encontrar documentos e partes dos processos, o Globo percorreu arquivos do Brasil Nunca Mais, guardados na Unicamp, e o Arquivo Público do Estado, onde repousam documentos do Dops, a polícia política. Diz o texto de indiciamento de Dilma no Dops: "Manipulava grandes quantias da VAR-Palmares. (...) Verifica-se ser uma das molas-mestras e um dos cérebros dos esquemas revolucionários. Trata-se de uma pessoa de dotação intelectual bastante apreciável". Ela foi acusada de, entre outras atividades, ter participado do roubo do cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, de onde teriam sido tirados US$ 2,4 milhões.

O interrogatório citado pelos policiais foi extraído sob tortura. Dilma foi presa em São Paulo, aos 22 anos, pela Operação Bandei­­rantes, em 16 de janeiro de 1970, com documentos falsos.

Não consta porte de arma. Já presa, numa ocasião foi levada à casa de João Ruaro Filho e, segundo depoimento dele, assumiu a responsabilidade pelo material de esquerda encontrado.

Poucas vezes Dilma falou da tortura, mas, na carta em que pede indenização pelo tempo da ditadura, conta que foi submetida à "cadeira do dragão", onde o preso era amarrado para rece-ber choques elétricos nas orelhas, na língua e nos órgãos genitais. Dilma foi condenada em dois processos pelo mesmo crime. Recebeu pena de quatro anos em um e 13 meses no outro.

Seus advogados conseguiram baixar a pena para os 13 meses. Mas ela já tinha cumprido quase dois anos e meio na Torre das Donzelas, nome dado à ala das presas políticas do Tiradentes.

Militares

Segundo o SNI, foi encontrado um documento que mostra planos da VAR-Palmares para tirá-la da cadeia. Uma autoridade seria sequestrada para troca por presos políticos, como Dilma. Pelos depoimentos da época, Dilma ingressou na resistência em 1967, quando era noiva de Cláudio Galeno, seu primeiro marido e um dos líderes da Polop em Belo Horizonte.

Dilma saiu do movimento de estudantes e entrou nas alas operárias. A estudante de Economia partiu para o estado da Gua­nabara, unindo-se ao Colina, no fim de 1968. Em 1969, mudou-se para São Paulo e participou das tratativas para fundir o Colina e a VPR (de Carlos Lamarca) na VAR-Palmares. Já era casada com o gaúcho Carlos Araújo, líder da VAR-Palmares.

O grupo de Lamarca achava o Colina muito estudantil, e a turma de Dilma temia que o movimento se militarizasse. Antonio Espinosa disse à revista Brasi­leiros, em 2009, que Dilma só teria integrado o comando nacional da VAR-Palmares depois do racha e nunca participou do assalto ao cofre de Adhemar de Barros. Na ocasião do racha, Dilma distribuía dinheiro aos integrantes e formava os quadros de militância. Para a polícia e o juiz auditor José Paulo Paiva, Dilma "chefiou greves e assessorou assaltos a bancos" — ela nega, e não há acusação dos militares sobre ações armadas.

O depoimento de Dilma no Dops tem 19 páginas. No fim, quando a polícia pergunta se ela se arrepende, diz que não se arrepende de nada.

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