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Novos rumos

Em busca de votos, Serra vai “resgatar” FHC e valores cristãos

Estratégia do tucano no 2.º turno será defender o legado do PSDB na Presidência e atacar a ambiguidade de Dilma e do PT em relação a temas polêmicos, como o aborto

“Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra", José Serra, candidato do PSDB à Presidência | Weslei Marcelino / Reuters
“Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra", José Serra, candidato do PSDB à Presidência (Foto: Weslei Marcelino / Reuters)

Brasília - A virada para o segundo turno da eleição presidencial ressuscitou o legado dos governos Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) para a campanha do tucano José Serra. Também reforçou o lado "cristão" do candidato, que usou ontem o primeiro grande evento político após a eleição de domingo, em Brasília, para criticar a postura de Dilma Rousseff (PT) sobre o aborto.

A estratégia para diferenciá-lo da petista associando-o à herança de FHC e aos valores cristãos ficou clara no discurso de 42 minutos, que terminou embalado pelo novo jingle de campanha – "O Serra é do bem".

O anti-Lula

Se no primeiro turno Lula chegou a ser citado com reverência na propaganda tucana, agora a ordem é partir para o ataque. "O brasileiro não está cobrando um governo de santinhos, mas de gente séria", disse Serra, criticando irregularidades cometidas na atual gestão. E, após chamar os petistas de "duas caras", complementou: "Não queremos um Brasil parecido com a casa da mãe Joana".

O resgate das ações de FHC (PSDB) e de Itamar (PPS) atende pedidos de correligionários de peso como o senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves, e o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. "O Brasil de hoje não foi descoberto em 2003. Somos partes fundamentais do bom momento que vive o país", defendeu o mineiro.

Serra enfatizou a importância do Plano Real para a economia e disse que é sempre bom lembrar os responsáveis por sua implantação: Itamar e FHC. Fez vários elogios a Itamar, que estava presente. Como recomendação ao aliado, Itamar disse que Serra deveria seguir mais a própria cabeça e menos os marqueteiros.

O candidato também garantiu que está preparado para o embate sobre privatizações ocorridas no governo FHC – que deve ser proposto por Dilma. "Não me venham com trolóló de factoides dessa natureza." Adiantou que usará como argumento o sucesso da abertura das telecomunicações, que popularizou a telefonia no país. Também adiantou que mostrará uma suposta incoerência de Lula: o PT nunca se esforçou para desfazer qualquer privatização após assumir o Planalto.

A reaproximação de Serra com o passado se deve em grande parte ao efeito "Aloysio Nunes". O senador eleito em São Paulo pelo PSDB foi o único entre os principais concorrentes a cargos majoritários no Brasil que utilizou formalmente o apoio de FHC no horário eleitoral gratuito. Recebeu 11 milhões de votos e ficou em primeiro lugar no estado, embora todas as pesquisas indicassem que ele ficaria atrás de Marta Suplicy (PT) e Netinho de Paula (PCdoB), aliados de Lula.

Ambiguidade de Dilma

Além do resgate de lideranças internas, Serra também deixou claro que pretende aproveitar a onda de ataques de líderes religiosos contra Dilma. O alvo escolhido ontem foi a ambiguidade da adversária ao se posicionar sobre a legalização do aborto. Embora ela tenha sustentado, durante a campanha, que é contra legalizar a interrupção da gravidez, a petista já declarou o contrário duas vezes – em entrevistas à Folha de S. Paulo, em 2007, e à revista Marie Claire, em 2009.

"Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra", disse, sem mencionar diretamente Dilma. Serra também falou que sua opinião é até contestada por amigos, que o acham "atrasado", mas afirmou que tem "razões íntimas para ter essa convicção".

O erro, para ele, é Dilma não ter uma posição clara. "Erra quem quer enrolar, ficar enrolando. Chegou-se ao máximo de estampar em primeira página [de jornais] que o PT iria tirar o aborto do programa de governo." Serra disse que as mudanças do programa são um desrespeito às pessoas e que, com ele, essa "decepção" não ocorrerá.

Antes do discurso do tucano, o presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia, já havia tocado em temas religiosos. "Vai acontecer o que o PT nunca imaginou: uma vitória retumbante da oposição, daqueles que representam a liberdade de imprensa, os valores cristãos", afirmou o parlamentar.

Serra refutou, no entanto, que a nova estratégia eleitoral do PSDB e de aliados significará uma guinada à direita na campanha. Ele contou que acha curioso quando ele e sua coligação são chamados de "conservadores". "Nada é mais neoliberal e conservador do que a atual condução da política econômica do país."

Para reforçar a tese de que é "do bem", disse que vai responder aos ataques do PT com "serenidade". "Às falanges do ódio que insistem em dividir a nação, vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdade nós vamos dizer sobre eles."

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