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Norte Pioneiro

Cursos superiores não acompanham a vocação da economia regional

Ygor, Luís Guilherme, Felipe, Edson e Lucas, moradores de Santo Antônio da Platina: sonho de fazer uma faculdade esbarra na pouca oferta de cursos superiores na região do Norte Pioneiro | Albari Rosa / Gazeta do Povo
Ygor, Luís Guilherme, Felipe, Edson e Lucas, moradores de Santo Antônio da Platina: sonho de fazer uma faculdade esbarra na pouca oferta de cursos superiores na região do Norte Pioneiro (Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo)

Cinco amigos e um problema em comum: apesar da vontade de estudar e trabalhar com a agricultura, todos têm dúvida a respeito do que conseguirão. Ygor, Edson, Felipe, Luís e Lucas moram em Santo Antônio da Platina, uma cidade com um dos maiores comércios do Norte Pioneiro – mas, como os demais municípios da região, com forte base econômica na agricultura. A gurizada enxerga o futuro no campo, mas não tem possibilidade de se qualificar por causa da falta de oferta de cursos na área.

Apesar da existência de 12 instituições de ensino superior na região, apenas o campus em Ban-deirantes da Universidade Es­­­­tadual do Norte do Paraná (Uenp) oferece dois cursos voltados à agricultura: Agronomia e Medicina Veterinária. Para quem tem condições de pagar uma faculdade particular ou arcar com os custos e morar longe de casa, é possível fazer uma faculdade em Ou­­rinhos, no estado de São Paulo, ou disputar vagas nos concorridos vestibulares de Londrina e Ponta Grossa.

Ygor Biaggioni Batista tem 19 anos e quer fazer Medicina Veterinária. Sua opção mais próxima é a Uenp, a 60 quilômetros de distância. Como o curso é integral (manhã e tarde), para Ygor é difícil ir e voltar todos os dias. A melhor opção seria morar em Ban­­­deirantes, o que torna mais difícil tornar o sonho realidade, já que as despesas aumentam. Ele sabe que é muito complicado seu plano dar certo, mas ainda acredita. "Pretendo arrumar um trabalho à noite e morar lá. Mas tenho que apelar para a ‘mãetrocínio’", brinca, ao contar como pretender arranja, cerca de R$ 600 por mês para se manter em outra cidade.

Luís Guilherme Schmeiske, também de 19 anos, sabe que o total das despesas para fazer uma faculdade fora é muito maior. Ele estudou Zootecnia em Ponta Grossa, em uma faculdade privada, durante cerca de um ano. Gastava cerca de R$ 1,6 mil por mês e teve de desistir. Agora, quer tentar outro curso da Uenp. "Preferi estudar por aqui porque é mais barato", revela.

Felipe Eleotério Martins quer estudar agronomia e também tem como única opção Bandeirantes. Os outros dois, Edson Guilherme Vieira e Lucas Martins Rodrigues, sonham com o curso de Zootecnia, que não existe na região.

Diploma na gaveta

O número de matrículas em cursos superiores na região cresceu 10% entre 2004 e 2008, mas a maioria da oferta de vagas é para profissões com pouco apelo econômico, como Magistério, Admi-nistração, Ciências Contábeis e algumas faculdades na área da Saúde. A procura por cursos profissionalizantes também cresceu no período (2,3%), apesar de ter caído em 2007 e 2008 na comparação com 2006 (veja na página anterior). O problema é que o diploma acaba servindo apenas para decorar a parede ou ficar guardado em uma gaveta, sem sentido prático.

É o caso de Charles Rodrigo Toniette, um dos integrantes da família (veja matéria principal, na página 17) que cria frangos. Ele é casado e não tem filhos. É formado em Administração por uma faculdade de Wenceslau Brás, mas não usa nada do que aprendeu no curso superior. "É muita teoria. Eu achava que era mais prática (a faculdade) do que teórica", diz.

A vontade de Charles era ter cursado Zootecnia, como os três amigos de Santo Antônio da Platina. Não fez isso porque não o curso não existia na região. Ele se conforta com o fato de pelo menos ter crusado uma faculdade. Imagina que isso possa ajudá-lo no futuro. "Se um dia criar frango der problema, pelo menos eu tenho um curso superior, tenho uma saída", aposta.

Leia amanhã: Expedição retrata o Norte Central paranaense.

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