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Sebastião Rodrigues  parou de vender leite por causa do péssimo estado da Estrada Boiadeira: “Ouço falar da conclusão desde que cheguei" | Albari Rosa / Gazeta do Povo
Sebastião Rodrigues parou de vender leite por causa do péssimo estado da Estrada Boiadeira: “Ouço falar da conclusão desde que cheguei"| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Municípios têm poucos médicos

A concentração do atendimento em Campo Mourão leva as pequenas cidades da Região Centro-Oeste a manterem apenas alguns médicos na cidade para prestar o atendimento básico. Ou­­tros casos são encaminhados para Campo Mourão. "Isso é gravíssimo. Se tem uma emergência, tem que botar a pessoa em uma ambulância e trazer para Campo Mou­­rão.

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Há 20 anos, Sebastião Rodrigues trocou Lon­­drina por um pequeno sítio às margens da BR-487, a cerca de 50 quilômetros de Cam­­po Mourão. Parte da esperança de melhorar a vida da mulher e dos dez filhos estava baseada na possibilidade do asfaltamento da rodovia conhecida como Estrada Boiadeira. Depois de duas décadas no local, o desenvolvimento econômico esperado pelo agricultor de 70 anos não aconteceu. Com isso, presenciou a saída de nove filhos para outras regiões, em busca de oportunidades. Mais recentemente, outro desalento: há quatro meses, vendeu 15 vacas porque o caminhão que transportava leite não conseguia mais entrar na propriedade.

"Quando chove, a gente sai de carroça ou a pé. De carro não sai. Tem que esperar quatro ou cinco dias", lamenta Rodrigues. Sem a renda mensal obtida com a venda de 80 litros de leite por dia, ele transformou a área de 5 alqueires de pasto em lavoura de mandioca. O agricultor não tem dúvidas ao afirmar que a falta de conclusão da Estrada Boiadeira é um fator predominante para a falta de perspectivas para ele e o único filho que continua na agricultura. "Ouço falar na conclusão da estrada desde que cheguei aqui. Já vieram várias vezes fazer medições, mas até agora nada. Ainda tem umas marcações da última vez que estiveram aí."

O caso da Boiadeira é o reflexo mais claro da precária infraestrutra de transporte rodoviário na Região Centro-Oeste do estado. "Os investimentos em estradas são o que falta para consolidar a região como o maior entroncamento rodoviário do Paraná", avalia o prefeito de Campo Mourão, Nelson Tureck. A BR-487 ligaria a região a Porto Camargo, no Mato Grosso do Sul, servindo de alternativa para o transporte de produtos agropecuá­­rios do estado vizinho para as in­­­dústrias do Paraná ou para o Porto de Paranaguá. Por enquanto, é apenas um sonho antigo.

A obra começou em 1986, mas está parada desde 2003 por causa de irregularidades encontradas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no processo de licitação. Ainda está nos planos do governo federal e consta na relação de obras do Plano de Aceleração do Cres­­ci­­mento (PAC) 2. Somente 25 quilômetros entre Campo Mourão e No­­va Brasília, em Araruna, estão prontos. Falta asfaltar 40 quilômetros de Nova Brasília a Cruzeiro do Oeste e todo restante do trecho, cerca de 60 km até o Mato Grosso do Sul.

Ainda é necessário asfaltar a BR-158 e duplicar a BR-487, que ligam Campo Mourão à Região Centro-Sul, nas proximidades de Pitanga, caminhos para Curitiba e o litoral do estado. Grande parte do tráfego do Centro-Oeste se concentra na BR-317, que liga a região a Maringá e a Região Sudeste do país. A rodovia, que é de responsabi­­lidade da concessionária Viapar, também precisa de melhorias. Co­­mo outras regiões agrícolas do Paraná, uma estrada de ferro para o escoamento dos grãos também teria impacto significativo na economia.

Olhando para os números agrícolas fica mais fácil de entender a importância da logística no Centro-Oeste. Os municípios do entorno de Campo Mourão produzem 14% de toda a produção de soja do Paraná: 1,9 milhão de toneladas em uma área de 585 mil hectares.

População

A falta de pavimentação ou melhorias nas estradas aparece ainda como uma reivindicação da população em levantamento feito pela Paraná Pesquisas com exclusividade para a Gazeta do Povo. O item é o quarto mais citado como principal problemas da Região Centro-Oeste, com 18% das consultas. O primeiro é saúde (47%) e a seguir vêm segurança pública (45%) e drogas (26%).

A deficiência das rodovias já aparecia no início da década como um dos principais problemas da região, segundo estudo do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). "A mesorregião chama a atenção, comparativamente às demais mesorregiões do estado, pelos indícios de que acentuou-se (...) um processo de desarticulação regional, cujas principais evidências são: a redução da população, a perda de posição, por vários municípios, no ranking do IDH-M e o baixo desempenho de seu mercado de trabalho".

A análise pessimista vai na contramão da pujança da agricultura na região, que tem como símbolo a sede da maior cooperativa agrícola da América do Sul, a Coamo. A cooperativa se espalhou pelo estado e hoje tem cerca de 21 mil agricultores associados, além de 4 mil empregados que trabalham na armazenagem, no processamento e na comercialização de produtos agrícolas e seus derivados, com receitas da ordem de R$ 4,6 bilhões.

Nem todos usufruem da riqueza produzida em volta da Coamo. Apesar de ter cerca de 3% da população total do Paraná, o Centro-Oeste tem 5% das pessoas consideradas em situação de pobreza pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – caso do agricultor Sebastião Rodrigues. Uma maior atenção a essa parcela da população, formada por pequenos agricultores ou moradores de bairros periféricos de Campo Mourão, poderia diminuir a redução gradual da população, prevista também pelo IBGE. O órgão estima que, até 2020, 10% das pessoas que moram hoje na região procurarão oportunidades em outras regiões por causa da falta de opções locais.

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