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política e religião

Judaísmo preza paz, justiça e verdade

O rabino Pablo Berman: crescimento do papel das mulheres na política é visto com bons olhos | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
O rabino Pablo Berman: crescimento do papel das mulheres na política é visto com bons olhos (Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo)

Nos últimos 40 anos, a pequena comunidade judaica de Curitiba (formada por cerca de 600 famílias) produziu personagens relevantes para a política local, caso do ex-governador do Paraná Jaime Lerner e do ex-prefeito Saul Raiz. Por si só, esse fato evoca questões a respeito de como o Judaísmo conforma o pensamento político de seus fiéis. Para o líder da comunidade judaica no Paraná, o rabino Pablo Ber­­man, os livros sagrados do Judaísmo são pródigos em mensagens e lições para os políticos. "A Torá é muita clara ao observar que Deus manifesta a percepção de que seu povo, em algum momento, terá um líder temporal, um rei. Uma das coisas que esse rei deve fazer é copiar de próprio punho a Torá, o Pentateuco, para ganhar consciência de que o poder mais alto pertence a Deus. Isso, evidentemente, tem a ver com reconhecer Deus e com reconhecer a justiça", observa.

Ao longo de sua história, explica, o Judaísmo produziu obras que se aprofundaram em relação à política. Uma delas é o Pirkei Avot, A Ética dos Pais. "Nesse livro – que se dirige a toda a humanidade – afirma-se que o mundo se sustenta sobre três coisas, sem as quais não pode existir: justiça, verdade e paz", explica o rabino. "Das três, a mais importante é a paz." O bom governante pauta sua conduta pela promoção dos três valores.

Questionado sobre o que o Judaísmo mais condena nos maus políticos, o rabino Pablo Berman explica que a religião atribui uma importância muito grande à relação palavra x ação. "A tradição judaica tem muito cuidado em relação a promessas. É muito fácil falar coisas que, mais tarde, não serão cumpridas. O melhor é tomar cuidado com as palavras, fazer mais e falar menos e, principalmente, cumprir o que for prometido", diz. Algo que coloca boa parte dos políticos brasileiros em maus lençóis.

Receio

Quando o assunto se volta às atuais eleições, o rabino se torna mais circunspecto. Segundo ele, o pluralismo que caracteriza o pensamento judeu faz com que a comunidade não apele a seu líder religioso em momentos de escolha política. "Isso pode acontecer em Israel, onde religião e política estão mais próximas, mas não fora de lá." Mesmo assim, acredita, certos temas são objeto de preocupação do grupo. Deles, o mais premente em termos locais é o que se refere à aproximação entre os presidentes Lula e Ahmadinejad.

"O líder iraniano fala o tempo todo em destruir Israel. Ao mesmo tempo, nega repetidamente o Holocausto, episódio em que morreram 6 milhões de judeus", observa. "Eu, como rabino, vejo com tristeza e preocupação um político que se apóia em argumentos como esse. Da mesma forma, me preocupo com líderes mundiais que apóiam personagens tão sinistros." O rabino, no entanto, evita afirmar que a posição brasileira pró-Irã possa interferir no voto do eleitorado judaico. "As pessoas são livres. Eu, pessoalmente, porém, estou preocupado."

O rabino vê com bons olhos o crescimento do papel das mulheres na política brasileira. "Na tradição judaica, a mulher tem importância fundamental na vida institucional, na formação da família e na educação. Há, inclusive, um episódio bíblico no qual Abraão leva um problema a Deus, que lhe diz: 'Para solucionar a questão, você deve escutar sua mulher, Sarah'".

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