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“Cada vez mais as eleições estão ficando mais caras. Nós temos que saber qual custo a sociedade está disposta a pagar pela democracia. Sem isso, o Congresso será cada vez mais o palco de interesses corporativos" | Hedeson Alves / Gazeta do Povo
“Cada vez mais as eleições estão ficando mais caras. Nós temos que saber qual custo a sociedade está disposta a pagar pela democracia. Sem isso, o Congresso será cada vez mais o palco de interesses corporativos"| Foto: Hedeson Alves / Gazeta do Povo

Barros é o sabatinado desta quinta-feira

O próximo a participar será Ricardo Barros (PP). As perguntas ao candidato devem ser enviadas para o e-mail vidapublica@gazetadopovo.com.br. A entrevista acontece às 10 horas.

"Precisamos ter coisas que nos unam", diz Gleisi

Gleisi Hoffmann (PT) abriu na terça-feira (31) a série de entrevistas promovida pela Gazeta do Povo com os principais candidatos ao Senado. Em 50 minutos de sabatina, a petista não fugiu de temas polêmicos. Criticou a falta de sintonia entre as lideranças do estado e prometeu ser mediadora para garantir mais recursos federais. Falou ainda do jogo de empurra que marcou a formalização da aliança com PMDB e PDT no Paraná e da opção de não ter saído a vice de Osmar Dias.

Leia a entrevista completa e veja o vídeo

Uma das principais características da política paranaense é a manutenção do poder nas mãos de poucas famílias. O senhor exalta a figura política do seu pai, Maurício Fruet, que pertenceu a um grupo que está próximo ao poder desde a redemocratização, mas, ao mesmo tempo, se apresenta como um candidato com propostas de renovação. Não é contraditório?

Não. Até porque meu pai nunca fez política por interesse pessoal ou financeiro. Nunca ocupei cargo público – ou alguém da minha família – nomeado por ele. Entendo que ele ocupou um papel muito importante na vida do Paraná e do país. Procuro preservar essa memória, mas destacar personalidade e identidade própria. É um equívoco achar que o filho vai ter uma vida política na sombra dos seus pais.

O senhor não era a primeira opção da chapa na vaga que ocupa hoje como candidato ao Senado. Na prática, o PSDB queria um acordo com Osmar Dias. Como explicar isso para o eleitor?

É o processo de qualquer disputa partidária. Procurei esse espaço, provoquei esse debate. É um desafio. Se eu não aceito, poderia passar a ideia que não quero colaborar ou tenho receio da disputa. Poderia disputar a reeleição com o privilégio de ter sido o deputado mais votado do Paraná na última eleição – isso de­­monstra que não estou na política por causa do cargo, para fazer carreira.

Houve uma reação muito grande da bancada federal do PSDB contra a indicação do deputado Ricardo Barros (PP) como candidato ao Senado da chapa do Beto Richa. O senhor foi uma das pessoas que se posicionou contra. Isso demonstra que o PSDB acabou relegando a um segundo plano a disputa ao Senado?

Não. O PP deixou de fazer uma coligação formal com o PT em nível nacional. Isso teve um impacto pragmático, que é a questão do tempo de tevê. Impediu que o tempo fosse dado à candidata oficial do governo. A divergência foi no âmbito político porque eu sou líder da oposição e o PP é da base do governo.

Mas não passa a impressão de que vale tudo em nome da coligação?

Não, pelo contrário. Nunca houve um crítica de caráter pessoal. Tenho cobrado o que acontece na coligação do PT com o PMDB. O PMDB foi eleito para fazer oposição e logo no primeiro ano do governo Lula já era aliado. O PMDB deve ao apoio do PT a manutenção do presidente José Sarney no Senado. E aqui no Paraná nós vivemos algo que precisa sempre ser lembrado. O ministro do Planejamento [Paulo Bernardo], que é esposo da candidata do PT [Gleisi Hoffmann], veio ao Paraná e ofereceu um investimento no ramal ferroviário [entre Ipiranga e Guarapuava]. E o governador da época [Roberto Requião] acusou de ser uma negociata. O ministro esperou o governador renunciar [em abril] e entrou com uma ação de perdas e danos. Só que amanhã ele está no mesmo palanque do Requião. Isso sim é contradição. Demonstra de certa forma as atitudes que as pessoas tomam para vencer uma eleição. Não vale a pena. Não faço política abrindo mão dos princípios. Ficaria preocupado se tivesse chamado alguém de ladrão e depois ter de dividir palanque com essa pessoa.

Falando do ex-governador Roberto Requião, o senhor saiu do PMDB por problemas com ele em 2004. Considera um adversário pessoal?

De forma alguma, assunto superado. Até porque eu preciso muito do segundo voto do Requião no Senado. Minha discordância foi com o comportamento do PMDB em nível nacional, que aderia ao governo.

O senhor tem dito que o PT não trabalha com um projeto político, mas com um projeto de poder. O PSDB também tinha um projeto de poder, inclusive com a emenda da reeleição. Qual a diferença?

Quando se fala em projeto de poder é ao que estamos vendo em relação à estrutura do Estado. Olha o que aconteceu agora com a Receita Federal [a violação de arquivos de pessoas ligadas ao PSDB]. A Receita tem de ser uma instituição blindada, superior ao governo. Não se pode tratar como algo banal o vazamento de informação. No governo anterior não houve essa cooptação como vemos hoje na sociedade, com relação aos movimentos sociais, aos setores sindicais. Repare no silêncio do MST durante período eleitoral.

O senhor foi flagrado no ano passado em uma reportagem do jornal O Globo registrando presença em plenário e minutos depois no aeroporto. Isso não vai contra o seu discurso de moralização na política?

Primeiro que eu não tenho esse discurso. Isso é hipocrisia, nunca apontei o dedo para ninguém. Sou deputado por 12 anos, o mais frequente do Paraná, talvez um dos mais frequentes do Brasil. Naquele dia, é importante deixar bem claro, não tinha votação nominal na Câmara e eu participava de um ato público, oficial, representando o Congresso em um encontro da associação de procuradores municipais. Pinçar um fato isolado desse... Acaba sendo generalizado.

Qual é a saída para diminuir a quantidade de escândalos no Congresso?

Não tem saída fácil. E é uma ilusão imaginar que é o bem contra o mal ou achar que a representação de uma sociedade só tenha pessoas bem intencionadas. Cada vez mais as eleições estão ficando mais caras. Nós temos que saber qual custo a sociedade está disposta a pagar pela democracia. Sem isso, o Congresso será cada vez mais o palco de interesses corporativos.

Como o senhor vai votar em relação à criação de novos impostos? Qual a saída para a votação de uma reforma tributária?

Mais do que falar, eu já votei contra a CPMF. Tanto no governo Fernando Henrique, quanto no governo Lula. Não vivo essa contradição. O PT criticou a CPMF no governo FHC e depois, com o Lula, se tornou favorável. Ontem a ministra Dilma deu uma declaração defendendo a CPMF, ao contrário da candidata do PT ao Senado aqui no Paraná. Também é bom falar sobre como o atual governo vem tratando a reforma tributária. De 2009 a 2010 foram editadas mais de 40 medidas provisórias. Dessas, pelo menos 15 tratam de legislação tributária, que dão incentivos a setores muito organizados. Silen­­ciosamente vem sendo feita uma reforma tributária às avessas no país.

Há um chavão no Congresso de que existem os deputados da verba e os do verbo. Ou seja, há os que aparecem mais em CPIs e em discursos e os que se dedicam apenas a trazer verba para as suas bases eleitorais. O senhor é tido como um deputado do verbo. É isso mesmo? Isso é bom ou ruim?

Não. É muito pouco dizer isso. CPI é um caso excepcional, é bom deixar claro. Eu também atuei em várias outras áreas, principalmente na questão orçamentária. Procurei apresentar emendas a favor do Paraná, sempre procurando estabelecer bons projetos. Procurei também estabelecer um projeto de fiscalização do governo. Também trabalhei em leis que são importantes, como a lei da adoção, a ampliação da licença-maternidade, temas de interesse dos aposentados.

O senhor mencionou problemas de relacionamento entre lideranças paranaenses e o que isso acarreta de prejuízos para o estado. Caso eleito, como pretende se relacionar com líderes de outros partidos?

Como sempre me relacionei. A gente tem uma tendência de achar que as divergências políticas afastam as pessoas. Sempre estive a favor das causas do Paraná, tanto no governo Lerner quanto no Requião. Na verdade, não precisa convocar deputado para tomar chazinho ou para comer churrasco. A pergunta é: quais são os projetos do Paraná? Não tem. O que une o Paraná hoje? Nada. Nós não temos uma estratégia nacional. Não é preciso que o governador chame essa discussão, pode ser um secretário, o coordenador da bancada federal, o chefe do escritório de representação do Paraná em Brasília – embora lá não tenha móveis para uma reunião [Eduardo Requião tirou parte dos móveis do escritório quando deixou o cargo de secretário da Representação em Brasília, em maio]. Nós precisamos de unidade de projetos.

O senhor já mostrou interesse em concorrer à prefeitura de Curitiba. Isso é um plano que ainda passa pela sua cabeça?

Como disse Camões: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se a confiança. O mundo é composto por mudanças. Na política, por mais que a gente queira prever ou planejar, a circunstância é um fator determinante. Hoje há uma concepção tão negativa da política que as pessoas se afastam e acabam generalizando todos com uma imagem desvirtuada. Entendo também que essa é uma eleição de um corte na geração da política do Paraná. Isso o povo vai julgar, conscientemente ou inconscientemente, por ação ou omissão, informado ou desinformado. O Paraná não precisa de "um" novo líder, mas de "novos" líderes.

O senhor vai utilizar essa eleição para o Senado como um trampolim para eleição para a prefeitura de Curitiba em 2012?

Não, acho que isso é diminuir demais minha carreira política e o que significa esta eleição. São situações totalmente diferentes. Para mim é uma responsabilidade imensa disputar uma eleição como esta. Não entro nessa de discurso fácil. O Paraná já ficou muito marcado com essa promessa de "o pedágio baixa ou acaba". Não é uma palavra de ordem que muda um resultado. Eu acredito na minha vitória.

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