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Religião e política

Panfleto mostra divergência dentro da Igreja Católica

Ala que estimula o posicionamento político da entidade teria encomendado material que prega voto contra o PT; outro grupo orienta apenas o voto “a favor da vida”

O panfleto apreendido em São Paulo: trechos de material divulgado no dia 26 de agosto pela Regional Sul 1ª da CNBB | Luiz Carlos Murauskas / Folhapress
O panfleto apreendido em São Paulo: trechos de material divulgado no dia 26 de agosto pela Regional Sul 1ª da CNBB (Foto: Luiz Carlos Murauskas / Folhapress)

A apreensão de cerca de 1 milhão de panfletos que pregavam voto contra o PT e a presidenciável Dilma Rousseff por causa do posicionamento favorável à descriminalização do aborto, no domingo, em São Paulo, revelou um racha dentro da Igreja Católica. Parte dos bispos e padres estimula o posicionamento eleitoral da entidade, inclusive com aconselhamentos aos fiéis. A ala é liderada pelo bispo dom Luiz Gonzaga Bergonzini, da diocese de Guarulhos, que teria encomendado o material. Outra seção orienta apenas o voto consciente e a favor da vida.

"Não precisa nem ser teólogo para verificar que há conflitos internos, incongruência de opinião dentro da nossa religião", disse o padre João Carlos Almeira, diretor geral da Faculdade De­­honiana, em Taubaté (SP). João­­zinho, como é conhecido artisticamente, tem 30 CDs gravados e seis livros publicados. "É preciso ampliar a discussão", acrescentou.

A cisão ficou ainda mais evidente nesse fim de semana. O texto que deu origem ao material impresso impedido de circular pela Justiça Eleitoral continha trechos do "Apelo a todos os brasileiros e brasileiras", divulgado em 26 de agosto pela Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), braço paulista da organização. Entre outras coisas, o material orientava os eleitores religiosos a votar "somente em candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto". O texto, distribuído em Belo Horizonte (MG) e também em celebrações em homenagem à Nossa Senhora, em Aparecida (SP), foi assinado por dom Nelson Westrupp, presidente da Regional Sul 1, por dom Benedito Beni dos Santos (vice-presidente) e por dom Airton José dos Santos (secretário-geral).

O uso político e a consequente suspensão do apelo, porém, obrigou Westrupp a voltar atrás no discurso. Em nota veiculada no site da CNBB de São Paulo, ele recrimina "a instrumentalização de suas declarações e notas e enfatiza que não patrocina a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos". "Não indicamos nem vetamos candidatos ou partidos", prosseguiu, sem entrar em detalhes sobre a mudança repentina.

A questão, porém, é que nem todos concordaram com o novo posicionamento de Westrupp. Em entrevista ao portal de notícias G1, dom Beni dos Santos reprovou a versão apresentada pelo companheiro de diretoria. "O texto é legítimo e foi aprovado no dia 26 de agosto, em São Paulo. A comissão episcopal representativa do Regional Sul 1, que engloba diversos bispos, fez uma nota no dia 26 de agosto, pedindo que esse apelo aos brasileiros e brasileiras tivesse ampla divulgação e isso ficou a critério de cada bispo. A divulgação começou a ser feita antes do primeiro turno e continua agora, antes do segundo turno. De modo que é um documento legítimo assinado pela presidência do Regional Sul 1 em nome do conselho episcopal", ressaltou ele, que é bispo em Lorena (SP), aumentando a polêmica.

O posicionamento da CNBB Paraná, de acordo com o secretário executivo padre Carlos Alberto Chequim, é mais moderado, sem tomar partido de nenhum dos candidatos. "Isso [posicionamento da regional de São Paulo] é uma iniciativa isolada, que não representa a CNBB como um todo. Somos a favor dos valores éticos, da vida, não da instrumentalização da religião", afirmou.

Atitude errada

Para dom Vilson Dias de Oliveira, responsável pela comunicação da regional paulista, o grupo errou ao se posicionar claramente contra o PT na carta de 26 de agosto. "O erro foi a apresentação de siglas partidárias. Isso não poderia ter acontecido. Você pode fazer uma nota tranquilamente, mas a partir do momento em que cita nomes e cita partidos políticos, você fere as pessoas", reconheceu o bispo de Limeira, no interior de São Paulo.

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