
Nove dias de um intenso bombardeio de denúncias envolvendo lobbies na Casa Civil já tiveram como saldo três demissões no governo federal. Depois da ministra-chefe da pasta, Erenice Guerra; e de Vinícius Castro, funcionário apontado como sócio do filho de Erenice num esquema de favorecimento; foi a vez do diretor de Operações dos Correios, coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva, deixar o cargo. Ele é suspeito de defender interesses da empresa de transporte de carga Master Top Linhas Aéreas (MTA) na estatal.
"Assim que eu receber a carta [de demissão], vou levá-la a quem de direito", disse o presidente dos Correios, David José Matos, referindo-se ao ministro das Comunicações, José Artur Filardi. O próprio coronel confirmou, depois da reportagem publicada ontem pelo jornal O Estado de S.Paulo, a decisão de deixar a diretoria. A partir de terça-feira, acrescentou, voltará a ser consultor de empresas aéreas, mercado em que atua há 15 anos.
De acordo com a reportagem, o coronel seria testa de ferro do empresário argentino Alfonso Conrado Rey, verdadeiro dono da MTA. A empresa também se beneficiava do tráfico de influência feito em seu favor por Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil. Quando a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu a licença de voo da MTA, foi Israel quem conseguiu, numa suposta operação que juntou tráfico de influência e cobrança de propina como revelou a revista Veja da semana passada a certificação da transportadora. O filho da ministra também teria indicado Vinícius Castro para o cargo de assessor da Casa Civil. Castro atuou ao lado de Israel na Anac e, segundo as denúncias, teria ajudado a fazer o tráfico de influência no governo.
Ex-coronel da Aeronáutica, Eduardo Rodrigues Silva faria parte de um grupo de executivos e advogados que tem uma rede de empresas de fachada espalhadas por Uruguai, Estados Unidos e Brasil. Documentos do Banco Central mostrariam que o grupo trabalha para fazer da MTA o embrião da empresa de logística e carga aérea que o governo Lula promete criar após as eleições, um negócio de cerca de R$ 400 milhões.
Ainda conforme os documentos, o coronel se envolveu no esquema para viabilizar a MTA no Brasil, com recursos externos e driblar a legislação que limita a participação de capital estrangeiro, em no máximo 20%, em uma empresa aérea. O esquema teria diso montado em 2005. A rede, com pelo menos seis empresas de fachada, tem sede em apenas dois endereços: em Campinas e em Montevidéu, no Uruguai. Em outra ponta, sustentariam o esquema empresas com sede nos EUA, ligadas ao argentino Alfonso Conrado Rey.




