
Mesmo com pontos em comum, os três principais candidatos ao governo estadual têm diferenças relevantes na visão estratégica de longo prazo para o desenvolvimento paranaense. Identificar os potenciais do Paraná, considerando as necessidades e características de cada região, é um desafio para os governantes. Inclusive porque planejar o estado para daqui a 10, 20 anos não é uma preocupação recorrente de quem concorre a cargos públicos. Inclusive porque o mandato é de apenas quatro anos e muitos políticos, preocupados com a reeleição, apostam em ações que deem resultado mais imediato. Pensando nisso, a Gazeta do Povo convidou especialistas de três áreas distintas um economista, um administrador público e um cientista político para analisarem, sob o ponto de vista de suas especialidades, visão dos candidatos sobre o futuro do Paraná. Confira abaixo:
Planejamento
Análise do administrador Denis Alcides Rezende, professor de Gestão Pública da PUCPR
Em nenhuma das declarações dos três principais candidatos ao governo aparece uma preocupação efetiva com o planejamento estratégico de longo prazo de 20 anos, por exemplo. O que se tem é apenas uma visão de governo, para um mandato (quatro anos)
Por ter uma experiência real no governo do Paraná, Roberto Requião (PMDB) pode citar projetos, inclusive com nomes e o público a que são destinados. Ele não enfatiza projetos federais e sim se baseia na experiência vivenciada.
Gleisi Hoffmann (PT) se baseia muito nos programas federais. O que ela utiliza de positivo são as visões da União e do partido. Também pode trazer experiência de outros estados e o apoio do governo federal, no caso da reeleição de Dilma.
Beto Richa (PSDB) responde de forma bem generalizada e não especifica propostas. Ele tenta ser genérico tendo em vista que está no cargo de governador. Assumir compromissos pode fragilizá-lo, considerando que pode ser questionado sobre os motivos de não ter feito antes o que está propondo agora. Por isso, Richa foca num discurso que é comum entre todos que estão nos governos atuais: estamos trabalhando nisso, mas vai ser melhor.
Para superar a falta de planejamento estratégico dos candidatos, a sociedade organizada do Paraná deveria propor projetos de longo prazo ao setor público.
Economia
Análise do economista Pery Francisco Assis Shikida, professor de Desenvolvimento Regional e de Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)
Os três concorrentes do governo do Paraná têm visões bastante centradas, com sugestões de trajetórias robustas para o Paraná daqui a 20 anos.
Gleisi surpreende pela sensatez da proposta para o futuro, articulando ações no cenário atual para projetar o futuro. Shikida diz que, se fosse para colocar em ordem, a visão da petista estaria um pouco à frente, seguida pela de Beto Richa e Roberto Requião.
Por estar no governo, Richa tem mais fundamentação para projetar a economia do estado. Tem mais base para fundamentar cenários. Todos seus planos passam pela educação a pricipal vantagem do plano dele.
Shikida alerta, porém, que a agropecuária, embora continue sendo extremamente importante, vem perdendo posição relativa na economia. Por isso, colocar a agricultura como a grande vocação do Paraná é um erro.
O economista ainda avalia que a política de reduzir o ICMS, quando não é bem gerenciada, se torna predatória. Isso causa uma guerra fiscal. Para ele, os estados deveriam apresentar vantagens naturais, estratégicas e estruturais para atrair empresas.
Outro problema observado é que nenhum dos candidatos se propõe a reavaliar as instituições do estado, que precisam avançar.
Política
Análise do cientista político Ricardo Costa de Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Os três candidatos apresentam elementos em comum e também diferenças conceituais em relação à visão política.
O que os une é a referência ou uma preocupação com a questão social e ambiental além do foco no desenvolvimento, sobretudo da agricultura e so agronegócio. A presença da preocupação ambiental é uma novidade.
Mas a visão de futuro e as estratégias políticas são diferentes. São três propostas diferentes que tem ênfases políticas diferentes. A grande questão nos três planos está em qual será o papel do estado para o futuro. Como o estado vai contribuir para o Paraná do futuro. É o papel do governo, quais políticas e quais setores serão o foco da administração pública.
No geral, Beto Richa segue a linha de seu partido (o PSDB). Por isso, destaca a preocupação com a gestão, na relação do estado com as empresas e também com as terceirizações e privatizações.
Nas respostas de Gleisi Hoffmann (PT) pode-se perceber uma ênfase na proposta de um governo mais forte e ativo. Ela cita as políticas sociais na questão da miséria, tendo sempre como foco o planejamento e o desenvolvimento humano.
Roberto Requião (PMDB) apresenta propostas de governo que já foram implantadas quando ele foi governador. Também cita a pequena propriedade rural e critica a desindustrialização.



