
Encorpada pelo apoio do único irmão de Eduardo Campos e de diversas lideranças políticas nacionais, a possível candidatura a presidente de Marina Silva terá de passar por um acerto de contas com o PSB. O partido comandado por Campos até a morte no acidente aéreo de quarta-feira ainda é a casa temporária de Marina. A transitoriedade do acordo fechado pelos dois duraria até que o partido construído pela ex-senadora, a Rede Sustentabilidade, seja reconhecido pela Justiça Eleitoral.
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INFOGRÁFICO: Dilemas na trajetória da possível candidatura de Marina Silva
Se a negociação continuar nos mesmos termos e a ambientalista ocupar o posto deixado pelo pernambucano, o PSB poderia até ganhar a eleição, mas não exerceria a Presidência. Além disso, há temores de que Marina possa rever alianças estaduais costuradas por Campos. Ela não aprovou as coligações com o PSDB em São Paulo e no Paraná e com o PT no Rio de Janeiro.
O anúncio oficial da decisão sobre o substituto de Campos só deve ser feito após o funeral, que pode durar até domingo. As reuniões entre os principais nomes do PSB começaram ontem, em São Paulo. Na saída, o deputado federal e presidente do Conselho de Ética da Câmara, Júlio Delgado, disse que Campos gostaria de ver Marina candidata nenhum outro dirigente, contudo, foi explícito sobre um posicionamento oficial.
O gesto mais significativo partiu de Antonio Campos, irmão de Eduardo. "Como filiado ao PSB, membro do diretório nacional com direito a voto, neto mais velho vivo de Miguel Arraes, presidente do Instituto Miguel Arraes e único irmão de Eduardo, que sempre o acompanhou em sua trajetória, externo a minha posição de que Marina Silva deve encabeçar a chapa presidencial", diz o texto.
Somaram-se no apoio a ex-senadora nomes de partidos de fora da coligação (formada por PSB, PPS, PHS, PRP, PPL e PSL), como os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-RS). Em entrevista à Gazeta do Povo, Simon afirmou que Marina é "a grande saída para o PSB" e que está conversando com membros do partido para que a decisão seja consolidada. O gaúcho foi o responsável pela aproximação entre Campos e Marina, em outubro do ano passado.
Outras opções
Um dos problemas do PSB caso Marina não assuma a candidatura é a falta de outras opções. Ao longo dos últimos anos, Campos se consolidou como nome central do partido, mas com poucas sombras. Políticos tradicionais como os irmãos Cid e Ciro Gomes deixaram a legenda por não concordar com o afastamento do PT (ambos migraram para o Pros no final do ano passado).
Na linha sucessória, o presidente do partido é o cearense Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula, mas sem expressão eleitoral. Também estão na cúpula Júlio Delgado (MG), o líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque (RS), e o senador Rodrigo Rollemberg (DF). Dos demais partidos da coligação, o nome mais forte é o presidente do PPS e deputado federal Roberto Freire (SP).
Dentre eles, Delgado e Freire são os mais cotados para assumir a candidatura a vice. O primeiro, pela atuação no Conselho de Ética e em Minas Gerais, onde o pai é candidato a governador. Apesar de eleito por São Paulo, Freire é pernambucano, como Campos, e carrega a experiência de ter sido candidato a presidente pelo PCB, em 1989.
Freire quer coligação com o mesmo ideal
Agência Estado
O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), defendeu ontem que o nome escolhido pela coligação para comandar o projeto presidencial liderado por Eduardo Campos deve assumir os mesmos compromissos do socialista. "A Marina [Silva] ou qualquer outro dirigente do PSB tem de entender que, quando Eduardo fez essa opção [de se lançar candidato], ele se colocou como uma alternativa ao que aí está e não para ser uma sublegenda de quem quer que seja", disse.
Para Freire, o objetivo da aliança é garantir um segundo turno nas eleições a fim de tentar, juntamente com a oposição, a derrota do projeto liderado por Lula e pelo PT. "A candidatura de Campos era fundamental para isso", afirmou.
O líder do PPS não quis afirmar se Marina, até agora vice, seria a substituta natural para conduzir a chapa. Disse que "provavelmente" vai haver uma predisposição de Marina para conversar sobre a indicação após o enterro do socialista. Pela legislação eleitoral, a coligação o dia 23 para escolher uma nova chapa.




