
Eles estão em todas as eleições, ainda que seja difícil identificá-los. São os famosos "laranjas", nomes desconhecidos do eleitorado e sem chances de eleição, mas que são lançados para servir a candidaturas mais fortes. Geralmente são eles que fazem o "serviço sujo" durante a campanha eleitoral, com críticas mais pesadas e denúncias contra adversários. Também podem ser os protagonistas de batalhas jurídicas nos bastidores ou atuar como meros "agregadores de votos" para um determinado partido ou coligação nas eleições proporcionais.
Segundo especialistas, vários aspectos podem caracterizar a "laranjice" eleitoral. O mais comum é a agressividade: candidatos a cargos majoritários que atacam constantemente algum dos principais concorrentes podem estar a serviço de outro. Mas há também o "laranja jurídico", que entra com ações na Justiça para impedir a divulgação de materiais de campanha ou pesquisas; e o "laranja legislativo", utilizado pelos partidos para preencher cotas ou tentar aumentar o número de votos na legenda.
"Laranja é o candidato que está a serviço de outro", define o diretor do instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. "Não é algo moderno. O eleitor demora um tempo para perceber quem são os laranjas, mas com o tempo ele descobre." Para Hidalgo, quando a crítica ou a denúncia são consistentes, não é preciso utilizar um laranja. "Quando o candidato fala a verdade não há uma percepção de que está 'batendo' no outro, o duro é quando cria factoides. Esse é o papel do laranja, porque bater nunca é bom."
Toma lá dá cá
Apesar da dificuldade para caracterizar um laranja e de comprovar os acordos, nos bastidores da política são comuns os comentários sobre a troca de favores: um candidato menos cotado que aceita "trabalhar" para outro com chances de vitória pode ser contemplado com um cargo na futura administração. "Se o candidato parceiro foi eleito, o laranja pode ser contemplado com cargo ou algo assim", afirma o cientista político Doacir Quadros, professor de Ciência Polícia do grupo Uninter.
Para Quadros, a possibilidade de o eleitor identificar os laranjas majoritários é maior do que a chance de os laranjas das eleições proporcionais serem descobertos. "Nas majoritárias é mais visível, porque o laranja passa a ser extremamente agressivo, e o que tem se observado é que o eleitorado se incomoda muito com isso. Por outro lado, o candidato emparelhado com o laranja fica com uma imagem positiva", avalia. "Na eleição proporcional, o eleitor tem mais dificuldade para identificar, porque a quantidade de candidatos é maior."
Para o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Mário Sérgio Lepre, a melhor maneira de identificar os laranjas é observar os candidatos que atacam constantemente uma determinada candidatura. "O laranja é um indivíduo que está a serviço de outro, mas é difícil apontar exatamente. A não ser que comece a atacar especialmente um dos adversários. Em alguns casos, é perceptível que ele atua em uma linha auxiliar de outra candidatura e ataca adversários."



