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Dilma durante a comemoração da vitória: disposição para mudar o jeito de administrar o Brasil | Ichiro Guerra/ Divulgação
Dilma durante a comemoração da vitória: disposição para mudar o jeito de administrar o Brasil| Foto: Ichiro Guerra/ Divulgação

Vai melhorar?

Governistas, oposicionistas e especialistas apontam cinco ações para Dilma diminuir as tensões da eleição:

1 - Renovar a equipe – Qualquer governo reeleito não consegue transmitir a mensagem de que está realmente disposto a mudar se não apresentar novas lideranças. Além disso, boa parte dos atuais ministros foram herdados de Lula. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, está na Esplanada desde 2003.

2 - Condução da economia – Dilma já anunciou que Mantega não continua no ministério no segundo mandato. O primeiro sinal de uma mudança seria a escolha de um nome técnico e "independente", que na prática não assumisse apenas para fazer as vontades da presidente. Um dos cotados no momento é o presidente-executivo do Bradesco, Luiz Trabuco.

3 - Relação com a imprensa – Militantes do partido não pouparam críticas à revista Veja e à Rede Globo durante a festa da vitória de Dilma, em Brasília. Além de eleger "inimigos" entre os veículos tradicionais, o governo não conseguiu estabelecer um relacionamento com a mídia pautado pela transparência. A presidente também nunca permitiu que ministros atuassem como interlocutores com os jornalistas.

4 - Agenda de reformas – Dilma conseguiria desarmar os ânimos da oposição e até de aliados descontentes no Congresso Nacional se apresentasse uma agenda consistente de reformas, como a política, a tributária e a federativa. O governo não conseguiria prevalecer o seu ponto de vista em todos os momentos, mas forçaria o debate de temas que todos os partidos sabem que são prioritários.

5 - Diálogo com a oposição – Outra forma de evitar rusgas é estabelecer um relacionamento institucional de diálogo com os governadores de oposição, como é o caso do paranaense Beto Richa (PSDB). Se estabelecer um jogo de ganha-ganha, Dilma consegue que os governadores ajudem a apaziguar suas bancadas no Congresso.

Governo novo, ideias novas. A promessa de Dilma Rousseff (PT) de unir o país, dividido pela votação que garantiu a reeleição à petista, passa pela implementação do slogan de campanha da presidente. Governistas, oposicionistas e analistas concordam que o primeiro passo é mostrar com clareza que o segundo mandato será diferente do primeiro. A lista de mudanças apontadas como fundamentais incluem a composição do ministério, gestão da economia, relacionamento com a imprensa, agenda de reformas e diálogo com os governadores de oposição.

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"Não faltará a ela coragem para mudar aquilo que precisa ser mudado, em todas as áreas do governo. A campanha eleitoral ajudou a ver muita coisa", diz o ministro da Secretaria-Geral do Palácio do Planalto, Gilberto Carvalho. Há quase quatro anos no cargo, mais oito como chefe de gabinete de Lula, ele próprio admite que deve sair da linha de frente da gestão petista. Responsável pelo diálogo com os movimentos sociais, ele admitiu que o governo precisa sentar com os "bons nomes" da imprensa – apesar de manter as críticas à revista Veja, que às vésperas do segundo turno publicou uma reportagem com declarações do doleiro Alberto Youssef de que Dilma e Lula sabiam dos casos de corrupção na Petrobras.

O nome mais aguardado do novo primeiro escalão é o do ministro da Fazenda. Durante a campanha, Dilma anunciou que não manteria Guido Mantega, mas há suspense sobre o perfil do escolhido. "A sinalização de que o processo de reconciliação é para valer passa em primeiro lugar por essa decisão. É aí que precisa estar a mensagem de que ela está disposta a mudar", diz o presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli.

O especialista diz que, durante a campanha, Dilma consolidou uma imagem de "mãe" para o eleitorado, enquanto Aécio era o "herói". "Não é uma missão das mais fáceis ser ao mesmo tempo ‘mãe’, aquela que protege os mais pobres, e ‘herói’, aquela que está disposta a mudar, a fazer reformas. Então ela precisa escolher ministros que pelo menos tenham autonomia", complementa.

Um dos parlamentares mais críticos à gestão Dilma durante o primeiro mandato, o senador Alvaro Dias (PSDB) diz que há mecanismos de reaproximação inclusive com a oposição no Congresso Nacional. "Tudo depende da agenda que ela propuser. Se colocar em discussão reformas que todos sabemos que são fundamentais, como a política e a federativa, é claro que estamos dispostos a debater", declarou.

Para o tucano paranaense, Dilma também geraria um ambiente de "bem-estar" promovendo uma reforma administrativa interna, que independe do Congresso. "É só seguir a nossa pregação constante: reduzir a máquina e o aparelhamento das estruturas públicas. E dá para fazer por conta própria."

Líder dos governos Fer­­nando Henrique Cardoso e Lula na Câmara, o deputado federal eleito Ricardo Barros (PP) afirma que outro caminho para conseguir diminuir os conflitos é se aproximar dos governadores de oposição, como Beto Richa (PSDB). "Não tem segredo, é trabalhar em conjunto, respeitosamente, que ambos os lados se dão bem. Se ela tratar os governadores bem, eles vão induzir as suas bancadas a tratá-la bem", cita Barros.

Disputa acirrada eleva a tensão e preconceito na internet

Rogerio Waldrigues Galindo

A suposta "divisão" do país em duas metades, que teria sido revelada pela disputa apertada entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), foi motivo de discussões acaloradas e até mesmo de demonstrações de preconceito nas redes sociais desde o anúncio do resultado das urnas. Eleitores decepcionados com a reeleição da presidente responsabilizavam nordestinos, pobres e beneficiários do Bolsa Família pela escolha que consideravam "errada". Os mais extremados chegaram a falar em deixar o Brasil ou em dividir o país em dois, afirmando que os eleitores do Sudeste e do Sul tomariam decisões melhores.

Para cientistas políticos, a revolta dos eleitores tem a ver com o fato de a disputa ser muito acirrada e com uma dificuldade de compreensão dos motivos que levam as pessoas a votar como votam. Segundo Fernando Azevedo, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), desde 2006 a eleição no Brasil tem sido profundamente marcada por um voto "retrospectivo e econômico". "O sujeito olha a sua vida antes e depois e julga se o governo melhorou algo para ele", afirma.

De acordo com o estudo publicado por Azevedo sobre as eleições mais recentes do país, até 2002 os presidentes se elegeram com um voto mais homogêneo: tanto Fernando Henrique Cardoso quanto Lula em sua primeira vitória tiveram votos de todas as classes sociais. Depois, com a aposta do governo em políticas de melhoria das condições de vida dos mais pobres, veio uma clivagem econômica: os mais pobres se tornaram, em sua maioria, governistas.

Para Renato Perissinoto, professor de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o preconceito com o voto dos mais pobres surge não só pela incapacidade de algumas pessoas de se colocar no lugar de quem votou diferente delas, mas também pelo fato de o governo petista ter investido muito mais nas classes mais pobres do que na classe média. "Houve melhorias mais sensíveis nas condições de vida de quem tinha menos, até porque é mais fácil causar mudanças quando a situação é muito ruim", diz. Para Perissinoto, Dilma terá de fazer reformas que agradem à classe média para mitigar essa insatisfação.

Separatismo

Para especialistas em Direito, muitos internautas ultrapassaram não só os limites da ética, mas chegaram a cometer crimes em seu "desabafo". Além de incursões em racismo ou preconceito de classe, alguns sugeriram a divisão do país, o que vai contra a Constituição e é considerado crime. "A Lei de Segurança Nacional considera isso crime", lembra Mesael Caetano dos Santos, da Comissão de Igualdade Racial e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Paraná.

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