
Criou mal-estar no ninho tucano a declaração do coordenador da campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência, Agripino Maia (DEM), que ontem acenou com apoio à adversária Marina Silva (PSB) num eventual segundo turno entre ela e a presidente Dilma Rousseff (PT). Agripino reforçou o temor da campanha tucana de ficar para trás na corrida eleitoral. "O sentimento que nos move e nos mantém unidos PSDB, DEM e Solidariedade é garantir a ida de Aécio para o segundo turno. Se não for possível, avalizar a transição para o segundo turno. Ou seja, com uma aliança com Marina Silva, por exemplo. É tudo contra um mal maior que é o PT", disse em entrevista publicada ontem no site do jornal O Estado de S. Paulo.
Um dos coordenadores da campanha de Aécio, Alberto Goldman, classificou de "inconveniente" a declaração de Agripino. Já o presidente do diretório regional do PSDB em São Paulo, Duarte Nogueira, procurou minimizar os efeitos danosos da declaração à campanha tucana.
Aécio, por sua vez, evitou entrar na polêmica, em entrevista pouco antes de sua participação no debate entre os presidenciáveis realizado ontem no SBT. "Não conheço essa declaração. Nós temos uma proposta para o Brasil. E, por ser a melhor para o Brasil, estou extremamente confiante de que será a vitoriosa. Nós buscaremos o apoio da sociedade brasileira também no segundo turno. No momento da reflexão maior, no momento da decisão do voto, vai prevalecer dentro daquelas alternativas que se colocam como mudança, aquela que é capaz de transformar esse sentimento de mudança em algo real e melhor para a vida dos brasileiros", afirmou.
Numa clara crítica a Marina, o candidato do PSDB afirmou ainda que não quer "apresentar só sonhos à sociedade brasileira". A mudança de tom reflete uma nova tendência na campanha tucana, a de concentrar todos os esforços em tentar desconstruir a imagem da ex-senadora.
Repercussão
O presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, soube ontem, por meio de jornalistas, da declaração de Agripino Maia. A princípio, Amaral não acreditou na notícia. "Não é verdade, ele está dizendo isso? Então não tem segundo turno", disse, após diferentes jornalistas comentarem a notícia. "Ele jogou a toalha", completou. Amaral evitou dizer diretamente que o apoio do PSDB será bem-vindo no segundo turno, mas disse querer os votos do eleitor do Aécio.
"Se o preço para nos livrarmos do PT for a Marina, pagaremos"
Rogerio Waldrigues Galindo
Presidente do PSDB no Paraná, o deputado estadual Valdir Rossoni disse ontem que a estratégia do partido continua sendo a de apostar todas as fichas na candidatura de Aécio Neves (PSDB). No entanto, Rossoni admitiu que existe desde já a possibilidade de um apoio a Marina Silva (PSB) no segundo turno.
Rossoni afirmou que "é Aécio" até 5 de outubro. Ou seja, até a data do primeiro turno não haveria chance de desistência. O que ocorreria depois depende do resultado das urnas. Mas o presidente local do partido deixa claro qual seria o caminho a ser seguido na eventualidade de um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina. "Somos anti-PT. Se o preço para nos livrarmos do PT for a Marina, pagaremos esse preço", disse o deputado.
Eduardo Sciarra (PSD), coordenador da campanha de Beto Richa (PSDB), afirmou por outro lado que não há nada no horizonte que leve a pensar em um apoio a Marina. "Estamos recebendo o Aécio em Cascavel na sexta-feira. Tudo continua exatamente como antes", diz. Segundo Sciarra, nenhuma campanha se decide antes de 10 de setembro.



