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Pobreza

A Bolsa e o bolso no Norte Pioneiro

Seis por cento da população da região recebe o Bolsa Família. É o terceiro maior índice do estado, um indicador que revela a necessidade de gerar emprego e renda

Flozindo e Ana Venâncio (à direita) com três netas e uma filha: família de boias-frias que precisam do Bolsa Família | Brunno Covello/ Gazeta do Povo
Flozindo e Ana Venâncio (à direita) com três netas e uma filha: família de boias-frias que precisam do Bolsa Família (Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo)

Ana e Flozindo Venâncio, de 69 e 68 anos, ganharam a vida como boias-frias. Tiveram 15 filhos, mas só 9 chegaram à idade adulta. Dois ganharam o mundo e sete deles moram na mesma rua em que vivem os pais, na cidade de Santa Amélia, no Norte Pioneiro. Seis deles acordam de madrugada e vão cortar cana para dar sustento aos 19 netos de Ana e Flozindo. A única filha que não trabalha como boia-fria, Marilena, fica em casa porque está doente. Sente muita dor nos joelhos, ombros e cotovelos. Sequelas do ofício, exercido por 20 anos.

Toda a família, inclusive noras e genros, trabalham com afinco na agricultura. Ganham R$ 25 por dia. Não é suficiente. Dos sete filhos de Ana e Flozindo, apenas um não ganha Bolsa Família para complementar a renda. "É quase nada. Dá para comprar o material [escolar], um pouco de comida e olhe lá", diz Marilena, mãe de duas meninas. Ela recebe R$ 135 mensais do benefício.

Dependência

A família Venâncio faz parte de uma estatística preocupante: 6% da população do Norte Pioneiro depende do Bolsa Família – terceiro maior índice do estado, acima da média do Paraná (4%). Sem o benefício, teriam uma condição de vida bem pior do que a atual. A família mora em casas simples em uma rua sem asfalto e sem coleta de esgoto. Apesar disso, eles não reclamam. Se perderem a chance de cortar cana não têm outra oportunidade de emprego. "Há cinco anos, saíam de 8 a 10 ônibus para levar gente cortar cana. Hoje são dois", diz Regiane, uma das filhas de casal Venâncio.

Em Santa Amélia, 11% dos 3,7 mil moradores recebem o Bolsa Família. A falta de oportunidades econômicas cria um marasmo na cidade. "Você precisa ter um capital de giro grande porque ninguém tem dinheiro", conta Paulo de Tarso, dono de uma revenda de gás. Segundo ele, o fiado representa mais de 90% das vendas. O dinheiro chega no fim do mês, junto com o pagamento das aposentadorias e dos benefícios sociais.

Dinamizar a economia do Norte Pioneiro e devolver o desenvolvimento experimentado na fase áurea da expansão do café – nas décadas de 50 e 60 – passa pelo aumento do nível de instrução da população para gerar novos negócios. "Precisamos atrair indústrias para transformar o que é plantado, como soja e milho, para vendermos um produto com mais valor agregado", comenta o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Cornélio Pro­cópio (Sicov), Valter da Silva Barros. "Uma coisa que falta no Norte Pioneiro é um grande polo [industrial]", diz Julio Takeshi Suzuki Júnior, diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

O que o Norte Pioneiro precisa para se desenvolver? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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