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Opinião

Mais fatores externos, menos Palácio Iguaçu

Desde 2010 é possível notar, pelos dados de atividade econômica apurados pelo Banco Central, que há um descolamento da economia do Paraná em relação à média do país. É um fenômeno que resulta de dezenas de fatores, na maioria pouco influenciados pelo Palácio Iguaçu. A dinâmica mudou no pós-crise de 2008-2009. A economia do Paraná se recuperou com mais força do que a maioria dos estados e se manteve à frente durante os três anos seguintes. O que vemos hoje é que a diferença se estreitou e o desempenho do estado já se parece mais com o do resto do país.

O que explica o descolamento? Ele começou ainda em 2010, por isso é difícil atribuí-lo a uma mudança no clima de negócios, embora esse seja um fator de longo prazo ao qual precisamos prestar atenção. Não houve no período, também, grande mudança na política de investimentos públicos, sempre abaixo do necessário para aumentar a competitividade do estado. Temos poucos dados sobre investimento privado, embora haja poucas razões para acreditar que o empresário paranaense foi mais otimista e empreendedor do que a média do país.

Há outras pistas mais concretas. A indústria paranaense se beneficiou da política de incentivos aos setores automotivo e de máquinas agrícolas. Por isso a reação forte já em 2010. O estado também parece ter aproveitado bem a maior disponibilidade de crédito no mercado, com crescimento da carteira de financiamentos acima da média nacional, segundo o BC. Ao mesmo tempo, o varejo paranaense teve um desempenho melhor que o do Brasil, provavelmente influenciado pelo acesso ao crédito. Bons preços agrícolas até a última safra ajudam a fechar a conta. E, não podemos deixar de lado, outros estados, como São Paulo, se recuperaram mais lentamente, o que também explica nossa maior participação no PIB nacional.

Guido Orgis, editor-executivo de Economia.

A robustez da economia paranaense e o seu desempenho na comparação com os números nacionais têm sido utilizados em uma disputa particular entre dois dos três principais candidatos ao governo do estado. No debate promovido pela TV Band, no último dia 28, Roberto Requião (PMDB) e Beto Richa (PSDB) citaram números do PIB para defender seus respectivos governos.

INFOGRÁFICO: Confira a trajetória da economia paranaense nos governos Richa e Requião

Requião diz que, em seus últimos anos de governo, a economia paranaense cresceu mais fortemente do que no governo Richa. O tucano, por outro lado, afirma que em sua gestão o Paraná cresceu o dobro do Brasil. No segundo governo Requião (2007 a 2010), o Paraná, de fato, cresceu 20,8%, com uma média anual de 4,8% ao ano. De 2011 a 2013, três primeiros anos da gestão Richa, o Paraná cresceu 12,5%, com uma média anual de 4%.

A comparação dos dois mandatos do peemedebista com os três primeiros anos do tucano, porém, é favorável a Richa. A média anual de crescimento do Paraná nos oito anos de Requião foi de 3,7%, ante 4% de crescimento do PIB nacional. Já no governo Richa, o estado cresceu 4% ao ano, com o Brasil crescendo 2,1%.

O tucano tem batido na tecla de que resgatou a confiança do empresariado que estava, segundo ele, "receoso" em investir no Paraná. O governo afirma que o programa Paraná Competitivo abriu 180 mil novas oportunidades de trabalho. "Não somos nós que estamos falando. Quem mostra nosso avanço é uma das mais prestigiadas revistas de economia do mundo, a The Economist. Passamos o Rio Grande do Sul e Minas Gerais e somos hoje o terceiro estado em competividade do país", declarou o governador, em sabatina promovida pelo site RicMais e pela Universidade Positivo, na semana passada.

Requião, por sua vez, afirma que privilegiou as pequenas e médias empresas com facilitação burocrática e isenção de impostos. Segundo ele, o governo Richa age no sentido contrário, ao privilegiar a política de substituição tributária. A substituição concentra na indústria toda a cobrança do ICMS, antes realizada em várias etapas da cadeia – o que prejudica setores da economia. "Assumi um Estado quebrado. Conseguimos recuperar fazendo como a dona de casa faz com as finanças de casa: despesa abaixo da receita. Em 2008 e 2009, durante a crise, baixamos o imposto de 100 mil itens, o que manteve o comércio forte. Hoje há uma substituição tributária que está quebrando os empresários", diz o peemedebista.

Papel menor

Economistas ouvidos pela reportagem minimizam a atuação dos governadores na condução da economia. "O crescimento recente do PIB paranaense deve-se a dois fatores: explosão do crédito e boom das commodities", afirma o economista Neio Peres Gualda, professor da Universidade Estadual de Maringá. Segundo ele, a força da agricultura explica mais o PIB paranaense do que as iniciativas governamentais. "Uma das coisas mais importantes que o governo do estado pode fazer é não atrapalhar e criar um ambiente propício para o empresário, principalmente o pequeno", diz Gualda. O professor de Economia da PUCPR Carlos Magon Bittencourt tem posição semelhante. "O estado não é uma ilha. Depende muito da condução da política e das escolhas do governo federal, que é quem conduz a questão econômica."

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