
A entrada de Marina Silva (PSB) na eleição pode pôr à prova o modelo de alianças adotado no Brasil desde 1985, conhecido como presidencialismo de coalizão. Avessa às negociações partidárias tradicionais, a ex-senadora é boa de voto, mas não tem pontes com as principais lideranças do Congresso Nacional e desaprova o pragmatismo em parcerias adotado pelo próprio PSB em diversos estados. A decisão sobre a entrada dela na vaga de Eduardo Campos, vítima de acidente aéreo, deve ser anunciada nesta semana, mas em entrevista à Folha de S.Paulo o presidente do PSB, Roberto Amaral, confirmou que ela será a candidata (veja mais na página 17).
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O presidencialismo de coalizão consiste na divisão de cargos no governo entre legendas aliadas, em troca de apoio na Câmara dos Deputados e no Senado. A fórmula foi potencializada a partir da gestão Itamar Franco (1992-1994) como receita para a manutenção da governabilidade em um sistema político fragmentado em vários partidos com representação parlamentar. Atualmente, há 32 siglas em funcionamento no país, 22 delas com assento no Congresso.
Oito partidos participaram do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff até abril, quando os ministros que participariam das eleições precisaram deixar os cargos. Juntos, PT, PMDB, PSD, PDT, PP, PCdoB, PR e PRB controlam 319 cadeiras na Câmara (62% do total de 513) e 51 no Senado (63% do total de 81).
Dos seis partidos que formam a coligação de Marina (PSB, PPS, PRP, PHS, PSL e PPL), só três têm representantes no Congresso. O PSB tem 24 deputados, o PPS, seis; e o PRP, dois (a soma deles representa 6% do total). No Senado, o único a ter vagas é o PSB (quatro, que correspondem a 5% do plenário).
Futuro incerto
"Vejo muitas dificuldades para ela [Marina] se relacionar com o Congresso. Até porque os problemas não são apenas partidários, são com as bancadas temáticas", diz o líder do Solidariedade na Câmara, o deputado paranaense Fernando Francischini. "Os ruralistas são contra a Marina pela defesa da causa ambientalista, os evangélicos acham ela incoerente em relação ao aborto", diz Francischini.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), por outro lado, acredita que Marina pode ter a força para romper com a prática do "balcão de negócios". "O Itamar também não tinha grandes laços com o Congresso e assumiu em uma situação dramática. Acertou quando chamou os maiores partidos e escolheu seus melhores quadros", afirma Simon.
Apesar do discurso de "nova política" e de que colocaria "as velhas raposas na oposição" (uma menção aos peemedebistas José Sarney e Renan Calheiros), Campos tinha interlocução com outros partidos, como PT e PSDB. Tanto que avalizou alianças regionais de todos os tipos. Das 25 coligações feitas pelo PSB em disputas de governos estaduais, em seis o partido dá sustentação a cabeças de chapa do PMDB, em quatro do PSDB e em duas do PT.
A manutenção dessas negociações é um dos principais motivos de desconfiança, dentro do PSB, em relação a Marina. Na prática, ela não teria condições de desfazer as chapas, mas poderia esvaziá-las eleitoralmente, ao manifestar apoio informal a outros nomes. Um dos exemplos é o Paraná, no qual o PSB apoia Beto Richa (PSDB), mas onde ela tem mais vínculos com a chapa de Roberto Requião (PMDB).



