• Carregando...
 | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Reeleito no 1.º turno, o governador Beto Richa (PSDB) ainda não digeriu a discriminação que ele alega ter sofrido da União durante o 1.º mandato. Mas a partir de agora, com a liberação de recursos bilionários em empréstimos, ele reafirma que "o melhor está por vir". Dizendo que vai priorizar o social no próximo mandato, o tucano diz apostar na vitória de Aécio Neves (PSDB) na disputa pela Presidência para as coisas ficarem "mais fáceis". Em entrevista à Gazeta do Povo, Richa também não fechou as portas para uma reaproximação com o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT). "Vamos esperar", afirma. As primeiras palavras do senhor ao ser confirmada a reeleição foram que "o melhor está por vir". Quais garantias o senhor pode dar aos paranaenses de que isso de fato irá ocorrer?

Primeiro, que adquirimos mais experiência, conhecemos melhor a estrutura do governo, conseguimos sanear boa parte das dívidas que herdamos, em particular do governo anterior. Sofremos uma forte discriminação do governo federal, e conseguimos, por decisão do Supremo Tribunal Federal, a liberação de alguns empréstimos que estavam bloqueados lá em Brasília. Então, conseguimos resolver essas situações, e eu posso acreditar que o melhor está por vir. Até porque, já temos para o ano que vem uma série de indústrias para serem inauguradas – a maior parte desses investimentos no interior do estado –, gerando mais riquezas e também mais empregos e renda para a nossa população. Temos grandes obras de infraestrutura para serem inauguradas já no começo do ano que vem, além dos diversos investimentos, programas e ações que anunciamos para o segundo período de governo. E acreditando na vitória do Aécio. Daí, as coisas ficarão muito mais fáceis.

O senhor também tem dito que vai priorizar a área social no segundo mandato. Que tipo de medidas específicas pretende tomar nesse setor?

O social sempre tem que ser priorizado. É fazer um governo para as pessoas, em especial para aqueles que mais precisam do poder público, que são as famílias mais carentes e mais pobres da nossa sociedade. Sempre fiz isso, com todas as nossas ações pensando nas pessoas, no seu crescimento. Acredito que nenhuma administração se justifica se não melhorar a vida das pessoas, principalmente das que mais precisam. Um grande programa que temos é o Família Paranaense, tanto que o Aécio adotou como proposta o Família Brasileira, que seria um avanço ao Bolsa Família. Nós damos uma atenção a essas pessoas que estão na extrema pobreza. Já tiramos 92 mil famílias dessa situação no Paraná, e a meta para o próximo governo é chegar a 200 mil famílias atendidas por esse programa. É um programa que tem contrapartida, na medida em que a família que é atendida tem que comprovar que os filhos estão matriculados na escola, com observância da frequência; as crianças têm que estar sendo atendidas pela rede pública de saúde; e o pai e a mãe da família têm que participar de programas de capacitação profissional e qualificação de mão de obra, para em dois anos terem condições de ser absolvidos pelo mercado de trabalho e daí ter o próprio sustento através do seu emprego e viver com mais dignidade com seus familiares. E essas famílias têm prioridade em todos os programas do governo, seja habitacional, de capacitação profissional.

O seu governo não investiu 12% na saúde nos três primeiros anos do atual mandato – os números do quarto ano ainda não estão fechados. O que será feito nos próximos quatro anos para garantir o mínimo de investimentos no setor conforme determina a Constituição?

Na saúde, nós avançamos bastante. Embora meus adversários maldosamente exploraram isso na campanha. Mas quando você não atinge num ano, tem quatro meses do ano seguinte para atingir essa meta. Nós atingimos, tanto é que, no início deste ano, eu apresentei uma suplementação orçamentária de R$ 900 milhões. E agora, a avaliação do Tribunal de Contas apontou que nós atingimos mais de 13% de investimentos referentes ao ano passado. Então, atingimos a meta, e este ano também chegaremos em torno de 13%. Na educação, por exemplo, foram 35% de investimentos, 5% além da exigência mínima constitucional. Superamos nessas duas áreas essenciais o investimento mínimo e, para o próximo ano, é continuar avançando com mais intensidade ainda. Nossa meta é abrir mais mil leitos nos hospitais regionais, cerca de 500 leitos de UTI, 11 centros regionais de especialidades médicas – além dos 13 já entregues ou que estão em obras, sendo concluídos −, que hoje é um grande gargalo no Brasil inteiro na área de saúde, essas longas filas por espera de exames e consultas especializadas. Também vamos continuar investindo em hospitais públicos e filantrópicos, como fizemos neste período. E houve também o reconhecimento do Ministério da Saúde, que é um reconhecimento insuspeito, de que Paraná e Santa Catarina tiveram os melhores desempenhos do Brasil no diagnóstico do setor. Os dados do ano passado mostram que o Paraná é o estado brasileiro que mais reduziu a mortalidade materna e ainda atingimos a menor taxa de mortalidade infantil da nossa história. No transplante de órgãos, saltamos do 10.º lugar para o 3.º, graças ao grande avanço proporcionado pelos helicópteros e aeronaves do estado nessa programação de atendimentos de urgência e emergência na área de saúde. Mais de mil pessoas foram transportadas por esses helicópteros, muitas vidas foram salvas. É um sucesso absoluto, com grande aprovação popular. Temos bases em Guarapuava, Cascavel, Londrina e a central em Curitiba. Essas aeronaves não param. A ideia é criar mais duas bases regionais de resgate aéreo.

O senhor mencionou investimentos de 35% do orçamento na educação, mas, no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o Paraná caiu cinco posições no ranking durante o seu mandato. Quais as explicações para isso? Que medidas serão tomadas para reverter essa queda?

Foi um problema nacional. No ranking mundial, o Brasil está entre as piores nações por falta de investimentos e políticas públicas que garantam a qualidade no ensino. É importante destacar que o Paraná não atingiu a meta, mas 16 estados não atingiram. A grande maioria dos estados brasileiros não atingiu as suas metas de avanço na educação na avaliação do Ideb. E escolas particulares também não atingiram. Então, tem que haver uma reflexão nacional. Agora, não foi por falta de investimentos. Investimos e muito na área de educação: 35%. Estão aí os números, que passam pelos crivos rigorosos e criteriosos do Tribunal de Contas. E também garantimos avanços aos profissionais de educação. Os professores receberam 60% de aumento no seu salário. É o maior aumento da história do Paraná. Garantimos a ampliação da hora-atividade em mais de 50%, saltando de 20% para 33%. Isso tudo, o governo anterior entrou no Supremo com uma Adin contra o piso nacional dos professores, que hoje estamos acima, e contra a hora-atividade, que nós concedemos. 30 mil professores aguardavam o reconhecimento do curso da Vizivali por dez anos. Em seis meses, resolvemos essa situação. Foram mais de 2 mil obras em escolas, de ampliação, reforma e construção. Em qualquer escola da rede estadual que você entrar e perguntar da qualidade da merenda, é unanimidade a melhora na qualidade da alimentação dos nossos alunos. E a gente sabe que merenda de qualidade ajuda a combater a evasão escolar, e uma criança melhor alimentada e nutrida aprende melhor. É unanimidade que a melhora foi substancial, antes era carne enlatada e alimentos em conversa. Nós também quadruplicamos o repasse aos prefeitos para o transporte escolar: eram R$ 27 milhões no governo anterior e hoje estamos em mais de R$ 93 milhões anuais. Encontramos no estado 18 escolas profissionalizantes engavetadas, R$ 199 milhões de recursos federais engavetados há dois anos, o governo federal requerendo o retorno desse dinheiro pela não aplicação. Colocamos em prática e boa parte das escolas já estão concluídas e em funcionamento e outras em fase de conclusão das obras. Cada uma delas abriga de 1 mil a 1,2 mil alunos, garantindo a formação de mais de 20 mil jovens. Era um recurso federal, mas todo o funcionamento e custeio das escolas, que é o mais caro, se dá por conta do estado. E o governo anterior, não sei o porquê, engavetou isso, talvez por incompetência ou por falta de recursos para essa contrapartida, que somam em torno de 20% das obras. Nós tiramos isso do papel e é uma realidade que queremos avançar, para garantirmos a formação profissional para muitos jovens do estado.

O índice de mortes violentas no Paraná voltou a crescer a partir do segundo trimestre do ano passado. Que medidas serão tomadas na área de segurança pública no segundo mandato para combater a criminalidade?

Às vezes, acontecem situações atípicas que acabam, momentaneamente, aumentando o índice de criminalidade. Pode ser uma chacina, uma briga entre gangues, e isso contribui para, naquele momento, elevar o índice de criminalidade, o número de homicídios. Pode ser uma coisa pontual. Mas, enfim, os investimentos aconteceram, o Paraná é um dos estados do Brasil que mais reduziu a criminalidade, não há dúvida disso. Temos visto a comparação do quadro nacional. E vamos continuar investindo. Volto a dizer que herdei o estado com o menor efetivo de policiais militares. Quando tomou posse, o governo anterior recebeu 17 mil policiais e entregou 16 mil ao fim de oito anos, com aumento da população e da criminalidade. Na contramão, o efetivo diminuiu. Nós ampliamos o efetivo em 10 mil policiais, e a proposta para o próximo mandato é de mais 10 mil policiais contratados. Nós adquirimos 1.415 novas viaturas, e a ideia para o próximo mandato são 800 viaturas novas por ano. As 14 UPSs implantadas pelo estado também deram bom resultado, sempre priorizando os levantamentos técnicos da Secretaria de Segurança Pública, que apontavam regiões e comunidades com maiores índices de criminalidade, dominadas por criminosos. Onde foram implantadas as UPSs, tivemos grande redução do crime. Cito o exemplo da região do Interlagos em Cascavel, onde sempre que vou a população me aborda, me agradece, porque houve uma redução de 90% no número de homicídios. Vamos ampliar as UPSs também. Temos ainda o Projeto Vigia − uma inovação baseada na experiência exitosa de Nova Iorque −, que vai reunir todas as câmeras de vigilância de forma integrada na capital, numa sala de situação, para acompanhar o monitoramento de todas essas câmeras públicas e particulares, de empresas. Também temos 100 módulos policiais sendo implantados nesta primeira fase e mais 300 para o segundo período de governo. Temos ainda 20 penitenciárias em ampliação e em construção, para abrigar 9 mil detentos e zerar a situação de detentos custodiados de forma irregular em delegacias de polícia. Segundo o Ministério da Justiça, o Paraná estava na pior situação do Brasil nessa questão. Dos mais de 50 mil detentos custodiados irregularmente, 16,6 mil estavam no Paraná. Já tiramos 7 mil e ainda faltam outros 9 mil. Zeramos em Curitiba e região metropolitano e mandamos para as penitenciárias, que é o lugar adequado para manter esses detentos. Além disso, fizemos uma licitação para a aquisição de 5 mil tornozeleiras para o regime semiaberto, que também vão aliviar as penitenciárias. Por coincidência, a pedido da Justiça Federal, a primeira foi usada pelo Paulo Roberto Costa.

Sobre penitenciárias, durante a campanha, o senhor deu a entender que poderia haver algum viés eleitoral nas rebeliões que estavam ocorrendo.

Não, não. Eu falava que tinha alguma orquestração. Eu não apontava se foi alguma coisa política. Isso eu não posso acusar, não tenho provas disso.

De qualquer forma, as rebeliões seguem ocorrendo – a mais recente em Guarapuava. São 21 rebeliões em dez meses. Por quê? Como o governo pretende evitar esse tipo de situação no próximo mandato?

É uma onda de rebeliões em penitenciárias que estamos contendo, vamos acabar com isso. Estamos vendo em Santa Catarina até pior, uma onda de incêndios a ônibus, aterrorizando as pessoas nas ruas. Primeiro, nós temos a Polícia Militar entrando nessas penitenciárias, até para regularizar essa situação, e, paralelamente, a investigação que está em curso na Polícia Civil tentando identificar os responsáveis, os líderes dessas rebeliões, para poder punir de forma exemplar.

A tarifa de energia foi reajustada em 24,86% neste ano, mas ainda ficaram represados pouco mais de 13%. Esse porcentual será repassado ao consumidor? Quando?

Primeiro, é importante esclarecer que esse é um problema do governo federal. Ficou muito claro em veículos de circulação nacional mostrando seguidamente, com muita intensidade e frequência, a má gestão, a incompetência do governo federal no setor elétrico, que levou a essa situação de reajuste exorbitante da conta de luz em todo o Brasil. Houve má gestão quando não fizeram o planejamento de investimentos em energias renováveis, em parques eólicos, em hidrelétricas que estavam previstas em diferentes regiões do Brasil, e não fizeram. Aí veio a estiagem e, para não ter racionamento de luz nem apagões no Brasil, eles recorreram ao acionamento de usinas térmicas, que, além de poluentes são caríssimas. Agora, têm de repassar ao consumidor esse custo. Inclusive, com bancos emprestando às distribuidoras de energia para poder bancar todo esse custo altíssimo, para não quebrar as companhias de energia do Brasil. Então, nós estamos inseridos nesse contexto. Desse custo todo do aumento concedido no Paraná, apenas 1,6% é custo Copel. O resto é incompetência do governo federal, está muito claro. Quem pediu agora esta semana autorização da Aneel foi o governo do Rio Grande do Sul: 35% de reajuste na conta de luz. Um governador do PT. Isso desfaz de forma clara e muito evidente a maldade que os meus adversários quiseram fazer no período eleitoral, dizendo que o aumento da conta de luz era uma responsabilidade exclusivamente nossa. Nós diferimos parte do reajuste sugerido pela Aneel, que era de 34%. Eu não autorizei que a Copel fizesse esse reajuste porque os consumidores não iriam suportar. E aí, busquei um ponto de equilíbrio, um ponto médio, que os consumidores pudessem de certa forma suportar e que também não representasse um prejuízo incalculável para a Copel, que é uma empresa dos paranaenses, uma empresa pública fortalecida por sinal no nosso governo, premiada em todos os anos do nosso governo pela qualidade dos serviços prestados, pela sua solidez. Com a minha reeleição, as ações da Copel subiram 6%, demonstrando a confiança do mercado na governança e na gestão profissional que implantamos na Copel. Enfim, nós buscamos um ponto de equilíbrio. Não fiz o que o governo federal, por exemplo, fez. Para evitar neste momento eleitoral o reajuste do preço dos combustíveis, eles causaram um prejuízo incalculável à Petrobras. Eu não fiz politicagem nem demagogia. Assumi o risco eleitoral de uma medida responsável como governador deste estado, de preservação da Copel. Então, aplicamos 24% de reajuste e o resto ficou diferido para o ano que vem. E, apostando na vitória do Aécio e no seu modelo de gestão, que ele resolva esse problema no setor elétrico e quem sabe nem precisemos conceder no ano que vem esse porcentual que ficou diferido.

O senhor sempre citou o diálogo como melhor caminho para tratar do pedágio no estado. Em quase quatro anos, porém, o cenário é praticamente o mesmo dos dois mandatos de Roberto Requião (PMDB). O assunto continuará a ser tratado com base no diálogo ou o senhor pretende agir de outra maneira nos próximos quatro anos?

Os avanços são inquestionáveis. Primeiro que, na campanha de 2010, fiz um discurso diferente dos meus adversários. Enquanto uns falavam no fim do pedágio, na redução das tarifas − sempre uma enganação, uma demagogia para conquistar o voto dos eleitores, e depois nada acontecia −, eu disse que ia despolitizar esse tema e tratá-lo com a responsabilidade que ele merece. Criamos a Agência Reguladora para tirar do campo político e tratar no campo técnico para termos os objetivos alcançados, sem enganação aos paranaenses. Chamamos os concessionários para uma conversa, fazendo prevalecer o interesse público. E aconteceu a retomada das obras de duplicação e dos investimentos em todas as regiões do Paraná, que estavam paralisados há 10 anos. A própria Gazeta do Povo fez uma pesquisa há cerca de dois anos sobre o pedágio e o grande porcentual dos entrevistados mostrou que a principal preocupação era a duplicação dessas estradas, enquanto um porcentual muito menor estava preocupado com a tarifa. Embora eu ache que a tarifa é mesmo muito alta. Isso prejudica o desenvolvimento do estado, a competitividade dos produtos paranaenses, na medida em que se tem de pagar uma grande tarifa. Imagine que transportar uma tonelada de soja da região Oeste do estado até o Porto de Paranaguá é mais caro que o frete do porto até a China. Temos que reavaliar essa situação, mas é um contrato que foi firmado em governos anteriores e não se consegue mexer, têm força jurídica. Ainda assim, nós conseguimos fazer avanços. Tivemos uma luta com as concessionárias, que não queriam mas acabaram cedendo em relação à planilha de custos do DER, que é bem inferior às de mercado. Também reduzimos substancialmente a taxa interna de retorno. Então, houve avanços sim, dentro das nossas possibilidades e vamos continuar o diálogo. Para o próximo governo, nossa expectativa é duplicar mais 750 quilômetros de rodovias, com recursos do estado, das concessionárias e com PPPs. Isso vai garantir um importante desenvolvimento para o Paraná, em especial para o interior do estado. Porque hoje temos dificuldades em levar indústrias para algumas regiões por falta de estradas em melhores condições.

A aliança que elegeu o senhor tinha 17 partidos neste ano contra 14 em 2010. Como todos eles serão acomodados no segundo mandato?

Com todos que integraram a nossa aliança, que foi ampla, tivemos uma conversa em altíssimo nível, para uma composição programática. Eu não aceito sentar para conversar em termos que não sejam éticos. Foram conversas republicanas, para um projeto de interesse do Paraná. Foram baseadas em programas e projetos na crença dos bons avanços que o Paraná teve no nosso período de governo, e nunca envolveram barganhas por cargos, por espaço na nossa administração. Eu já provei isso nas minhas duas eleições de prefeito de Curitiba e na primeira eleição de governador. Agora, é evidente que partidos têm pessoas qualificadas e que podem ser aproveitadas no nosso governo. E eu sou muito criterioso com isso, porque tenho a absoluta convicção de que o sucesso da minha administração passa obrigatoriamente pelo bom desempenho dos meus secretários. As pessoas escolhidas sabem que, se não tiverem um bom desempenho, serão sumariamente desligadas do governo. Além desse critério todo na escolha dos que formam a minha equipe, eles assinam comigo os contratos de gestão, no qual assumem o compromisso de cumprir metas e desafios que estão elencados no meu plano de governo, foram apresentados na campanha e aprovados nas urnas. Me sinto muito tranquilo. E com toda a franqueza, nenhum partido da minha coligação tem qualquer compromisso de ser acomodado no próximo governo. Alguns serão por serem pessoas qualificadas que estiveram conosco e que pertencem a um ou outro partido. Mas compromisso de ter que atender indicação partidária, não tenho com nenhum partido. Então, eu jamais vou cometer qualquer loucura, não apenas na qualificação, mas em relação a questões éticas e de observância das leis, da aplicação correta dos recursos públicos. Eu sou intolerante com corrupção e não aceito qualquer tipo de desvio de conduta.

O Ezequias Moreira, que é réu confesso no caso da sogra fantasma, permanecerá no cargo de secretário especial de Cerimonial e Relações Internacionais no segundo mandato do senhor?

Ainda não formei equipe para o próximo governo. Estou avaliando. Não vou anunciar nenhum secretário antes do momento adequado. Todos serão anunciados no mesmo momento no final do ano.

Mas aliados do senhor dão como certa, por exemplo, a nomeação do Eduardo Sciarra (PSD) para a Casa Civil e especulam outros nomes, como Flávio Arns (Educação) e Fernando Francischini (Segurança Pública).

As mudanças serão mínimas. Eu estou satisfeito com a equipe que tenho hoje, pessoas competentes, qualificadas, resultados muito bons em cada uma das secretarias, em que pese todas as dificuldades que enfrentamos. Haverá um ou outro ajuste pontual, o mínimo de secretarias será alterado. Nem tem espaço para qualquer tipo de barganha que pudesse ter sido feita.

O seu programa eleitoral utilizou um depoimento do ex-governador Orlando Pessuti contra o Requião. O Pessuti terá algum cargo no segundo mandato? Especula-se que ele possa ocupar a presidência da Sanepar.

Não conversei com ele ainda. Mas é uma pessoa qualificada, foi governador do estado, foi deputado, tem credibilidade junto aos paranaenses, tem qualidades e virtudes. Pode ser aproveitado no governo sim. Mas não tem nada pré-estabelecido com o Pessuti.

A mais de três meses para o início da nova legislatura na Assembleia, quatro aliados do senhor já demonstraram a intenção de disputar a Presidência da Casa. O senhor já conversou com eles sobre isso? Pretende intermediar um acordo para evitar um bate-chapa?

Eu procurei nunca me envolver em questões pertinentes à Assembleia. Eu sempre trabalhei reconhecendo a independência desse poder. Tivemos uma boa relação, em altíssimo nível, republicana. Eu tenho essa facilidade, através do diálogo, do entendimento, das boas práticas, de conquistar a confiança de muitos. Como prefeito, tive um grande apoio na Câmara de Vereadores, do mais alto nível. Como governador também tive um grande apoio na Assembleia. E agora, nesta eleição, ampliamos ainda mais o número de deputados aliados, o que demonstrou que, quando o candidato a majoritária tem um bom desempenho, consequentemente se elegem mais candidatos na proporcional. Me lembro quando fui prefeito na reeleição, elegemos uma quantidade enorme de vereadores, enquanto a bancada do PT se encolheu. E agora de novo, caíram de sete para três deputados. Essa é uma demonstração de confiança no nosso governo e com quem está aliado a nossas propostas. Então, com relação à Assembleia, sempre tive o comportamento de não me envolver. Não quero ser hipócrita e dizer que não torço para que um aliado seja vitorioso. Os quatro candidatos, todos eles nossos aliados, são muito fortes e com amplas condições de eleição. Qualquer um deles tem qualidades suficientes para conduzir muito bem a Assembleia, dando continuidade ao trabalho iniciado pelo Rossoni.

Depois de um mandato como governador, quais as diferenças que o senhor viu entre comandar a prefeitura de Curitiba e o governo do Paraná?

Em Curitiba, está tudo mais perto, tudo mais à mão. Dá um problema em algum bairro, você corre lá e atende. No estado, pelas dimensões, as coisas não estão tão próximas, tão ao seu alcance. É mais difícil pelas dimensões e também pelas diferenças regionais. Em Curitiba, eu estava sempre presente, inclusive nas audiências públicas que promovemos. Algo similar fizemos no estado, com as visitas a todos os municípios do Paraná, porque eu acredito que faz melhor quem conhece. E eu fui conhecer cada canto do estado. A estrutura da prefeitura estava mais ajustada, mais redondinha, uma situação muito melhor. No estado, pegamos, além das dívidas todas, um estado desmantelado. Assumi faltando professores em sala de aula. Estamos contratando nesse período 30 mil professores, 10 mil policiais. Herdei um estado com o menor efetivo de policiais militares per capita do Brasil, um número inaceitável para um estado como o nosso. Era um estado desmantelado, não tinha a defensoria pública, que nós criamos, a Agência de Defesa Agropecuária, que já abre mercados externos dos mais exigentes e rigorosos para receberem produtos do Paraná. Nós estamos modernizando e reestruturando o estado, isso sem aumentar o tamanho do governo. Ao contrário, nós enxugamos a máquina. E vamos agora, no segundo período do governo, eliminar no mínimo mais duas estruturas. Há um ano e meio, já eliminamos mil cargos em comissão. O IBGE fez um levantamento nacional apontando que o Paraná é o estado com o menor número de cargos comissionados em relação ao número de servidores.

Essas estruturas a serem eliminadas envolvem secretarias?

Secretarias, diretorias, agências. A Agência Paraná de Desenvolvimento, por exemplo, nós vamos unir com a Secretaria da Indústria e Comércio, ou algo parecido.

Aliados bastante próximos ao senhor afirmam que o seu grupo político está conversando com o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), para ser candidato à reeleição com o apoio do PSDB na eleição de 2016 – hoje, ele é apoiado pelo PT. O senhor confirma essas conversas? Ou trabalha com outros nomes?

Honestamente, eu não parei para pensar nisso. Eu acho que tudo tem o seu devido momento. Mas a classe política tem essa mania – não sei se chamaria de defeito – de nem bem acabar uma eleição já começar a pensar na outra. No momento, ainda estamos em eleição, trabalhando firmemente pela vitória do Aécio, que vai ser importante para o Brasil e fundamental para o estado do Paraná. Na última vinda dele aqui, inclusive, ele assumiu o compromisso de fazer 12 anos em 4, recuperando o tempo que se perdeu com a discriminação, as ofensas contra o estado, para cobrir o que o Paraná deixou de receber nesse período. Eu trabalho hoje para o Paraná dar a ele o maior número de votos, proporcionalmente, do Brasil.

Mas o senhor descartaria uma reaproximação com o Fruet?

Vamos esperar. Não posso fazer essa avaliação nesse momento, até porque tenho vários aliados que podem vir a ser candidatos. Não posso afirmar aqui, mas ouvi algumas conversas que alguns partidos aliados têm bons nomes para disputar a prefeitura de Curitiba. Vamos aguardar. Não sei qual é a vontade do Gustavo, porque hoje ele está aliado com o PT. Não sei se essa aliança se mantém ou se ele vai rompê-la. Mas é incompatível para nós um projeto onde o PT esteja.

Seu pai, José Richa, sempre é lembrado como um dos melhores governadores que o Paraná teve. E o senhor acabou de ser reeleito, algo que ele não conseguiu em 1990. Que imagem o senhor espera que os paranaenses tenham do senhor quando deixar o Palácio Iguaçu daqui a quatro anos?

Eu tenho muito orgulho do pai. Falo sobre ele com muita emoção, com muito carinho. Tive o privilégio de conviver com ele, recebendo o aprendizado da boa prática política. Foi uma pessoa que só construiu o bem, que é lembrada por todos onde passo – das pessoas mais simples, lá no meio da roça, a grandes empresários, grandes jornalistas. Todos lembram deles com muita saudade. Já ouvi muito no Congresso, até de pessoas do PT, que ele foi uma das pessoas mais íntegras que passaram por lá. Quando ouço essas coisas me emociono muito e, ao mesmo tempo, tenho consciência da grande responsabilidade que carrego hoje, dando sequência ao trabalho dele, em que pese eu ter o meu temperamento, a minha visão, em um outro tempo. E os ensinamentos que recebi, cultuo todos os dias da minha vida, não só no campo político, mas no pessoal também. Isso de que eu superei o meu pai, não concordo muito com isso. Ele foi um grande líder nacional e, só pelo fato de eu ter vencido mais eleições que ele, não quer dizer que eu o superei. Eu tenho um grande orgulho dele e espero no futuro, quando deixar a atividade política, ser lembrado assim como ele por todos os paranaenses: um político honrado, decente, que praticou a boa política e contribuiu para o desenvolvimento do estado e deu uma vida melhor a todos os paranaenses. Enfim, que cumpri a minha obrigação e correspondi à expectativa de todos. E quero que os meus filhos tenham em relação a mim o mesmo sentimento que tenho em relação ao meu pai.

Há menos de dois meses, o Ministério Público Estadual abriu um inquérito para apurar a suposta existência de funcionários fantasmas no gabinete do senhor quando foi deputado estadual, num desdobramento das investigações do esquema gafanhoto. O que o senhor tem a dizer sobre esse processo?

Isso não é de agora, é de anos atrás. Eu até conversei com alguns procuradores, que me diziam que o processo ficou parado em Brasília por vários anos e agora retornou para cá, no meio da minha reeleição. Isso é uma denúncia de 2007. Foi uma armação dos meus adversários, e eu é que estou curioso para saber por qual razão isso não foi julgado até hoje. A impressão que dá é que eles estão requentando o assunto a todo o tempo para tentar me desgastar. Minha vida é limpa, não tenho um processo, qualquer denúncia de corrupção, de obras superfaturadas. Só na prefeitura, eu fiz 10 mil obras, milhares de contratações de serviços. Agora no governo do estado, também milhares de licitações. E não tem uma denúncia de desvio de dinheiro. E agora inventaram essa situação de funcionários fantasmas, como se eu precisasse me apropriar do salário de um funcionário para viver. Isso é inaceitável, uma brincadeira. Inclusive, quando surgiu essa denúncia, eu já estava na prefeitura, com milhares de cargos em comissão. No governo da mesma forma. Eu eliminei mil cargos comissionados no ano passado. Então, não tem o menor fundamento essa acusação leviana, essa armação. Espero que isso seja investigado o mais rápido possível e não fique sendo requentado por mais anos, tentando me desgastar.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]