
Depois de muitos anos em que as urnas davam ao horizonte brasileiro um tom avermelhado, o país amanheceu na última segunda-feira com um céu mais azul e favorável para a revoada dos tucanos rumo a 2018. O PSDB foi o partido que teve melhor desempenho nas eleições municipais. E se fortaleceu para a sucessão presidencial.
Foi a sigla que mais recebeu votos no país: 17,6 milhões no total. A segunda que mais elegeu prefeitos: 793. A primeira com mais eleitos nas 93 cidades grandes e médias, com mais de 200 mil eleitores, onde se forma a opinião pública nacional. Foram 14 vitórias nesses municípios – incluindo São Paulo, a joia da coroa. E o número pode aumentar, chegando a 33 após o segundo turno.
Confira o desempenho por partido no Brasil
“O quadro ficou muito bom para o PSDB”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Segundo Monteiro, as eleições municipais preenchem 98% dos cargos eletivos disponíveis no país (535 mil das 560 mil vagas). E os prefeitos e vereadores eleitos no domingo passado serão os principais cabos eleitorais em 2018. Embora haja quem diga que isso é muito mais importante para eleger deputados federais do que um presidente, conquistar prefeituras e vagas nas câmaras municipais é considerado vital para qualquer partido. E por esse critério, o PSDB está bem posicionado.
“Mas isso não significa que a eleição de 2018 está decidida; apenas indica uma tendência”, diz Monteiro. A cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirma que será preciso levar em conta outros fatores nos próximos dois anos: a economia, o desempenho do governo Temer (apoiado pelo PSDB) e a avaliação dos prefeitos e governadores tucanos.
Bicadas
A divisão interna do PSDB também é outro componente que pode prejudicar a sigla em 2018. Antes mesmo de alçar voo em direção ao Planalto, os tucanos já começaram a se bicar dentro do ninho.
Na festa da vitória, domingo passado, o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, aproveitou para lançar seu padrinho político, o governador paulista Geraldo Alckmin, à Presidência. O senador mineiro Aécio Neves, outro tucano que sonha em vestir a faixa presidencial, sentiu o golpe e contra-atacou. Defendeu a realização de prévias internas para a escolha do nome do partido à sucessão de Temer. “O candidato do PSDB [à Presidência] será aquele que tiver mais condições de unificar a legenda em todo o país”, disse Aécio. “Para vencer a eleição presidencial, é preciso que o partido esteja unido nacionalmente.”
O mineiro sabe o que diz. Alckmin tem força apenas no PSDB paulista. “Hoje o Aécio domina a máquina partidária”, diz um político que conhece bem como funcionam as engrenagens do partido. “Alckmin tenta se projetar em função da eleição do Doria. Mas isso é pouco. E o [José] Serra [ministro das Relações Exteriores, outro tucano que almeja a Presidência] está isolado dentro do partido.”
Diante desse cenário, o político que pede para não ter seu nome divulgado aposta que nem mesmo as prévias vão ocorrer. Assim, a tendência é que Aécio imponha seu nome. Mas ele adverte para o risco de o mineiro ser abatido em voo: “A Lava Jato pode mudar todo o cenário eleitoral”. Apesar de não haver nenhuma acusação formal contra o mineiro, Aécio foi citado várias vezes por delatores da operação como participante de um esquema de corrupção em Furnas, estatal do setor elétrico.



