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Obra viária: gasto com urbanismo até abril foi de R$ 435,2 milhões ante R$ 398,6 milhões em 2011 | Antônio More/ Gazeta do Povo
Obra viária: gasto com urbanismo até abril foi de R$ 435,2 milhões ante R$ 398,6 milhões em 2011| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Lei proíbe alta excessiva nas despesas com publicidade

A Lei Eleitoral (n.º 9.504/97) não é suficientemente clara a respeito das condutas do agente público durante a campanha política. Alguns gestores entendem que, nos três meses que antecedem o pleito – ou seja, de julho até 28 de outubro, data do segundo turno –, é proibido fazer despesa com publicidade que não seja caso de grave e urgente necessidade pública.

Mas um estudo feito pelos consultores da Câmara Federal Vander Gontijo e Eugênio Greggianin sustenta que "não há nenhuma restrição a gasto com publicidade no período pré-eleitoral propriamente dito". Segundo eles, a única restrição é para que o gasto não exceda a média das despesas com publicidade nos últimos três anos, ou no ano anterior (vale o montante que for menor). Segundo eles, isso pode levar a um gasto alto durante todo o mandato, para que o governante possa manter o mesmo ritmo no ano eleitoral.

Debate eleitoral

Os gastos da prefeitura de Curitiba com propaganda já viraram tema da eleição deste ano. Ainda em dezembro de 2011, os partidos de oposição conseguiram uma decisão judicial favorável para barrar propaganda de telemarketing de Luciano Ducci e de anúncios que entendiam ter caráter de promoção pessoal. Na semana passada, a Justiça negou o retorno dos anúncios.

No fim de maio, a vereadora Professora Josete (PT), da oposição, fez um pedido de informação à prefeitura, para saber sobre os contratos de publicidade firmados pela prefeitura de Curitiba. O prazo para resposta ainda não venceu.

Sem dívida

A Lei de Responsabilidade Fiscal também tem restrições para os governantes em ano de eleição: a partir de maio, não se pode assumir nenhuma obrigação de despesa que não possa ser integralmente cumprida dentro do mandato. Não é permitido, por exemplo, deixar dívidas ao sucessor, a não ser que haja saldo para quitar os restos a pagar.

Município nega influência da eleição

Apesar de o prefeito Luciano Ducci (PSB) ser candidato à reeleição, a prefeitura de Curitiba sustenta que a disputa não influencia a execução orçamentária. A única ressalva é quanto aos gastos com comunicação social, que são vedados nos três meses que antecedem o pleito.

"Não há influência na execução do orçamento. Nem poderíamos fazer isso. Há todo um planejamento a ser seguido, e também temos dificuldade para implantar algumas coisas", diz o secretário municipal de Finanças, João Luiz Marcon.

Segundo ele, a prefeitura até pretendia investir mais neste ano, mas houve dificuldades. Além da falta de repasse de recursos para obras do PAC, ele diz que a construção civil está muito aquecida, e por isso é normal ocorrerem atrasos na execução de obras públicas. "Está faltando mão de obra e até empresas para participarem das licitações. Também já sofremos com a falta de insumos, como o cimento. Há uma série de fatores externos à prefeitura. Por isso afirmo que a questão política não tem essa influência tão forte", destaca.

Audiências públicas

Marcon diz ainda que as obras realizadas pela prefeitura atendem aos pedidos dos cidadãos nas audiências públicas. "A grande parte das demandas sai dali. A prefeitura está apenas atendendo."

Os relatórios financeiros da prefeitura de Curitiba no primeiro quadrimestre comprovam o que está bem visível para quem mora na cidade: muitos gastos com obras urbanísticas e mais propaganda sobre essas realizações. Enquanto as despesas totais empenhadas cresceram 6,9% em relação ao mesmo período de 2011, os gastos com urbanismo subiram 9,2%. E as despesas administrativas – que incluem a comunicação social –, aumentaram 18,1%.

Considerando apenas a propaganda, a alta foi de quase 50% (49,2%) – R$ 11 milhões de janeiro a abril deste ano, contra R$ 7,4 milhões no início de 2011. Esse tipo de despesa costuma aumentar nos primeiros meses de anos eleitorais. Em 2008, quando também houve disputa municipal, a variação havia sido de 40% no mesmo período. A prefeitura alega que a lei restringe gastos com propaganda no segundo semestre (leia mais na reportagem ao lado).

Nas áreas com influência direta na vida de cidadão, as que receberam mais verbas na comparação com o ano passado foram ciência e tecnologia, cultura, comércio e serviços. Mas essas áreas representam uma porcentagem muito pequena de tudo o que foi gasto (veja infográfico). Por outro lado, a habitação, esporte e lazer e a área de trabalho receberam menos verbas.

"Obedecendo aos parâmetros legais de investimentos mínimos, é possível aumentar ou diminuir os recursos em algumas áreas por determinado momento", explica Denis Alcides Rezende, professor do Doutorado em Gestão Urbana da PUCPR. "Historicamente, no Brasil, é muito comum que nos anos eleitorais ocorra a destinação de mais verbas para obras mais visíveis, como as urbanísticas", acrescenta.

Esse comportamento ocorre em outras esferas de governo. Segundo o estudo Nível de Investimento Público Estadual de 2000 a 2009, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), há uma concentração maior de investimentos nos anos eleitorais.

"Por um lado, para o cidadão é bom, porque ao menos as obras estão sendo feitas. Mas também pode-se questionar por que é que essas obras não foram executadas ao longo de quatro anos, e se concentram na reta final dos mandatos", diz Rezende. Segundo ele, a propaganda acaba se tornando um "direito embutido" para quem comanda a máquina governamental. "A oposição só vai poder se mostrar a partir de julho, quando começa a disputa. Até lá, há esta brecha legal para quem ocupa o cargo fazer a propaganda. É uma coisa legal, prevista, mas não deixa de ser imoral."

Queda no investimento

A arrecadação municipal evoluiu bem no período, e atingiu 34,1% do total do ano – um pouco acima do esperado. Mas a prefeitura está enfrentando algumas dificuldades. Os investimentos no período caíram 25%. De acordo com o secretário municipal de Finanças, João Luiz Marcon, não houve a destinação de recursos a algumas obras previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

Marcon também justifica a queda nas despesas de habitação. "Tivemos problemas com empresas que não concluíram obras, por problemas financeiros. Foi preciso anular esses contratos e dar início a novas licitações, o que levou tempo", explica ele. Segundo ele, as obras já foram retomadas.

O governo federal também reduziu o valor dos investimentos no primeiro quadrimestre deste ano, conforme reportagem publicada pela Gazeta do Povo em 27 de maio. Mas, nesse caso, o tombo foi bem menor do que o de Curitiba: a redução foi de 5%.

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