
De olho nas eleições municipais e em busca de uma reaproximação com o eleitorado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff prepara um "pacote social" para ser anunciado no próximo domingo, Dia das Mães. Entre as medidas previstas está o reajuste do valor do Bolsa Família o que deverá ampliar o orçamento anual do programa em R$ 1,6 bilhão.
Há também a intenção de acabar com o limite de filhos por família imposto hoje para participação no programa. Além disso, também estão previstas medidas voltadas à saúde de crianças de até seis anos, como a distribuição gratuita de remédios contra asma e ações para reduzir o porcentual de crianças com anemia no país.
O pacote para turbinar a área social será anunciado por Dilma em cadeia nacional, durante pronunciamento em homenagem ao Dia das Mães. No dia seguinte, a presidente promoverá uma solenidade no Palácio do Planalto, com a presença de prefeitos, governadores e parlamentares para divulgar as novas ações de combate a pobreza.
O conteúdo da mensagem da presidente ao país e até a simbologia da data escolhida para o anúncio do pacote social faz parte de uma estratégia para mudar o foco da gestão de Dilma, tida como técnica, para o campo social. Essa é a avaliação de especialistas em comunicação e ciência política ouvidos pela reportagem.
Para o cientista político Wilson Ferreira Cunha, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), a guinada do governo Dilma para o fortalecimento das políticas sociais tem caráter eleitoral. "É jogo para plateia, o que é a marca do governo Lula/Dilma", disse. Cunha desconfia dos programas sociais petistas, que para ele são parte da estratégia de manutenção do poder. "Eles podem ter o valor imediato, paliativo. Mas não se erradica a pobreza com salários públicos permanentes", critica.
O cientista político Augusto Clemente, doutorando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vê a iniciativa de turbinar os programas sociais já existentes como "parte de uma manobra [de Dilma] para aproximá-la daquele eleitor que a escolheu exatamente para continuar as políticas de governo Lula". Para ele a exposição recorrente da presidente em rede nacional, é também estratégia para superar a falta de carisma e a dificuldade de comunicação da presidente. "[Isso vem] do fato dela não ter se forjado politicamente em debates no Congresso, nem rotina das campanhas eleitorais", avalia.
Rede nacional
Já a escolha da data para o anúncio pode ser interpreta de forma simbólica para identificar a presidente com a figura materna e aproximá-la do eleitorado mais humilde, segundo a coordenadora do Núcleo de Opinião da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Célia Retz. "Falando em rede nacional talvez ela não alcance este eleitor, mas é certeza que todo mundo fica sabendo que ela está agindo para tentar suprir a carência econômica da população."
Para o professor de Ciência Política Adriano Codato da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a forma de comunicação do governo e mesmo a postura mais crítica de sua recepção pela opinião pública são sinais intitucionalização da democracia no Brasil. "A população vai adaptando a luta social ao calendário político e os políticos vão adaptando ações em função do calendário eleitoral."



