
A palavra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais usou no depoimento prestado à Polícia Federal (PF) no último dia 4 foi “não”. Durante quase três horas, Lula negou ser dono do triplex no Guarujá e do sítio em Atibaia, e disse não conhecer o esquema de corrupção na Petrobras.
NUVEM DE PALAVRAS: Veja o que Lula mais falou em depoimento à PF
Todas as vezes em que as respostas poderiam complicar a vida do ex-presidente, a resposta foi parecida: “Não sei”, dizia aos investigadores. Foi essa a frase usada pelo ex-presidente quando questionado, por exemplo, das questões financeiras referentes ao Instituto Lula.
O ex-presidente afirmou não saber qual o salário dos diretores do instituto e se o presidente Paulo Okamotto solicita doações. Ele também negou ter conhecimento sobre como são feitas as doações e o montante anual que o instituto recebe.
Lula disse ainda desconhecer como as doações são aplicadas e negou ter conhecimento das empresas que teriam recebido dinheiro da Lils Palestras e do Instituto Lula. Uma das empresas – a G4 –, porém, tem como sócio um dos filhos de Lula.
Esquema na Petrobras
Durante a oitiva, o ex-presidente negou ter conhecido o ex-deputado José Janene (morto em 2010), apontado pelos investigadores como um dos mentores do esquema na Petrobras. Janene seria o responsável pela indicação de Paulo Roberto Costa na diretoria da estatal. Lula disse não saber se o ex-deputado Pedro Correa – condenado na Lava Jato – participou da indicação.
O ex-presidente também disse que não sabia do envolvimento do ex-ministro José Dirceu no esquema de corrupção na Petrobras. “E sinceramente não acredito”, completou. Aproveitou ainda para fazer um elogio a Dirceu. “Acho que poucas pessoas têm a cabeça privilegiada do ponto de vista político que tem o José Dirceu”, disse Lula.
Quando o assunto da oitiva foi o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, também condenado na Lava Jato, Lula voltou a dizer que não acreditava no envolvimento dele no esquema. “Eu tinha conhecimento que o Vaccari era um companheiro extraordinário, foi um grande dirigente sindical e foi um grande dirigente do PT. Eu não acredito que o Vaccari tenha acertado percentual com empresa pra receber, não acredito, não acredito”, disse Lula.
Para analista, negativa de Lula é compreensível
Para o cientista político da PUC-SP Pedro Fassoni, é preciso observar o depoimento do ex-presidente Lula à Polícia Federal como um passo preliminar de investigação dentro da operação Lava Jato. “A gente tem que conceder o benefício da dúvida e respeitar a presunção de inocência”, diz.
Fassoni aponta que, só a partir das possíveis provas coletadas com o mandado de busca e apreensão cumprido juntamente com a coleta do depoimento, é que se poderá comprovar ou não se o ex-presidente participou de ilícitos. “Por enquanto, ninguém conseguiu provar que ele sabia de algo”, observa.



