
Pouco esclarecedor. Assim foi o depoimento do presidente da Câmara de Curitiba, João Cláudio Derosso (PSDB), sobre as denúncias de que teria favorecido sua mulher, Cláudia Queiroz Guedes, em contratos de publicidade do Legislativo municipal no valor de R$ 5,1 milhões.
Num depoimento de cerca de três horas ao Conselho de Ética da Câmara, Derosso foi evasivo nas respostas relativas ao contrato que assinou com sua mulher. E se negou a responder em público a qualquer pergunta que envolvesse Cláudia, alegando se tratar de "questão íntima". Para ele, até mesmo o fato de Cláudia ser funcionária da Câmara no momento da licitação, o que é proibido por lei, seria uma "questão íntima".
O vereador alegou ainda que todos os contratos estão dentro da legalidade e que não houve nenhuma infração à Lei de Licitações. Derosso também disse ser vítima de uma espécie conspiração político-eleitoral para prejudicá-lo.
O único detalhe dado por Derosso sobre os contratos de publicidade da Casa foi a verba recebida por meios de comunicação de Curitiba. De acordo com ele, a Oficina de Notícia gastou R$ 3,6 milhões, do total de R$ 5,1 milhões, com diversos veículos da capital. Entretanto, Derosso não respondeu o que foi feito com o resto do dinheiro. Questionado pelo vereador Juliano Borghetti (PP), Derosso disse também que faria um levantamento da quantia gasta por meio da empresa Visão Publicidade que administrou R$ 26,8 milhões. O período vigência dos contratos com as duas agências foi de 2006 ao início deste ano.
Perguntas
Favorecido por perguntas amenas feitas por vereadores aliados, especialmente as de Valdemir Soares (PRB), Derosso aproveitou a sessão para criticar a imprensa e insinuar que existem interesses políticos por trás das denúncias contra ele.
O fato de ele estar sendo cotado como um possível candidato a vice-prefeito na chapa de Luciano Ducci (PSB) em 2012, estaria por trás "ataques". "A mídia política viu que era importante bater, sem respeito e sem ética, fazendo com que o vereador Derosso virasse um leproso da noite para o dia", comentou, em terceira pessoa. O presidente também anunciou que iria processar jornalistas que "dissessem besteiras".
Em determinado momento do depoimento, o Valdemir Soares perguntou se havia lhe ocorrido renunciar ao cargo de presidente. "Em hipótese alguma, vereador!", disse Derosso. "As forças ocultas da nossa cidade e da nossa imprensa querem que eu renuncie. Mas não o farei."
Só publicidade
A sessão de ontem do Conselho de Ética abordou exclusivamente os contratos de publicidade firmados pela presidência da Câmara com as empresas Oficina de Notícia, da mulher de Derosso, e a Visão Publicidade. Além da questão da propaganda, Derosso também é acusado de realizar contratações irregulares de funcionários da Assembleia e de nepotismo.
Originalmente, o Conselho de Ética planejava fazer uma sessão em que as "questões íntimas" de Derosso fossem tratadas de forma secreta, não aberta para o público. Mas a ideia foi abortada. Mesmo assim, Derosso se ancorou neste argumento para se esquivar de perguntas mais delicadas. O presidente do Conselho, o vereador Francisco Garcez (PSDB), disse que, diante dessa situação, deve convocar uma sessão fechada em breve para que as perguntas "íntimas" sejam respondidas.
Nova denúncia
O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) formalizou ontem uma nova denúncia, com pedido de investigação ao Ministério Público. Ele pede averiguação dos contratos com a Visão. Segundo a denúncia, a Câmara teria gasto R$ 12 milhões para imprimir 45 edições do jornal Câmara em Ação. A tiragem do informativo, de cerca de 20 páginas, chegou a passar dos 200 mil exemplares em alguns meses. Apesar disso, não foram encontrados exemplares impressos.
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