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começo difícil

Em uma semana do 2.º mandato, ministros já dão dor de cabeça a Dilma

Puxão de orelha presidencial e brigas entre ocupantes da Esplanada a respeito de políticas públicas marcam o início da nova gestão

Dilma desfila na Esplanada durante a posse, na quinta-feira passada: passada a festa, série de problemas para a presidente | Rodrigo Viana/Agência Senado
Dilma desfila na Esplanada durante a posse, na quinta-feira passada: passada a festa, série de problemas para a presidente (Foto: Rodrigo Viana/Agência Senado)

O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff herdou de 2014 nuvens negras sobre o Palácio do Planalto: rebelião da base aliada no Congresso, denúncias de corrupção na Petrobras, economia patinando. E o cenário político, que já era difícil, se tornou mais problemático nos primeiros dias do ano. Nem bem assumiram, os ministros recém-nomeados começaram a dar dor de cabeça a Dilma.

Com apenas um dia no cargo, por exemplo, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, levou uma bronca da presidente e foi obrigado a corrigir a informação de que o governo iria propor uma nova regra de reajuste do salário mínimo. Divergências também marcaram as posses dos ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e Kátia Abreu, da Agricultura, que defenderam publicamente posições conflitantes sobre a questão agrária. Também houve divergências entre outros ministros.

Na Esplanada

O suplente de deputado federal Reinhold Stephanes (PSD-PR) conhece como poucos o dia a dia da Esplanada. Em Brasília, o parlamentar integrou o 1.º escalão de quatro governos diferentes. Foi presidente do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) durante a gestão de Ernesto Geisel (1974-1979); ministro do Trabalho e Previdência de Fernando Collor (1992); da Previdência e Assistência Social de FHC (1995-1998); e da Agricultura de Lula (2007-2010).

Para ele, a receita é simples: divergências entre as pastas devem ser resolvidas internamente. "Você tem que falar o mínimo possível, cuidar sempre com os discursos. É preciso entender que você é ministro de Estado e, até certo ponto, está acima do governo. Por isso, tem de se comportar como tal – o que não quer dizer que você vai deixar de defender suas ideias."

Ele cita como exemplo justamente as pastas da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, que costumam ter visões distintas sobre os assuntos afins. "Se um não tiver compreensão do outro, vai haver choque. Mas há questões básicas − como terras indígenas, quilombolas, meio ambiente − que a Presidência deve indicar o caminho a seguir", afirma.

Segundo Stephanes, o Palácio precisa se antecipar e indicar o limite até onde cada ministro pode atuar nos casos limítrofes. O parlamentar conta uma situação vivida no 2.º governo Lula em torno dos transgênicos, em que os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente se posicionavam contra a liberação dos produtos. "Ironicamente, foi a Dilma, então na Casa Civil, que chamou todos os atores envolvidos e disse que esse assunto estava decidido. E nunca mais houve discussão." O porém no atual governo, analisa Stephanes, é que Dilma é mais uma "gerentona", que não tem a mesma habilidade de negociação de Lula. "O entendimento entre os ministérios depende da capacidade do governante maior de chamar todos e mostrar qual linha técnica deve ser seguida."

A partir de agora, briga será por cargos no segundo escalão

Além dos problemas na atuação dos ministros, a presidente Dilma Rousseff tem de conviver com a histórica briga por espaço no governo federal. Depois de sofrer para acomodar parte dos aliados nos 39 ministérios, agora a petista se vê pressionada pelos cargos do segundo escalão.

O deputado federal Reinhold Stephanes (PMDB-PR) argumenta que a disputa por cargos não é novidade no mundo político. O problema, na visão dele, está no fato de o governo federal aceitar as indicações partidárias de quadros sem qualificação, sobretudo quando não tem tanto respaldo popular. "Posso contar nos dedos quem, dos 39 ministros atuais, são efetivamente bons, com capacidade gerencial. O mesmo vai ocorrer nos escalões inferiores", lamenta Stephanes. "O correto seria pedir aos partidos a indicação de quadros competentes, para que a própria presidente escolhesse, e não esse loteamento em que a legenda já indica o nome do ministro", diz o paranaense.

Assessor da vice-presidência da República no mandato anterior, o paranaense Rodrigo Rocha Loures (PMDB) classifica como natural a briga por postos no governo e atribui a isso os "ruídos" que ocorrem logo após as nomeações dos ministros. "Isso [as divergências] é típico de todo processo seletivo. Muitos gostariam de ser ministros, mas só há como nomear uma pessoa por pasta", afirma. "É quase que um ritual os que entram serem questionados e os que não entram ficarem na posição de criticar."

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