
Quem passava pelo Centro de Londrina na manhã desta terça-feira (22) presenciou uma cena rara, com muitas empresas fechadas em pleno horário comercial. A ação fez parte do “Fecha Londrina”, movimento encabeçado pelas lideranças empresariais da cidade para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Entre as 10h e 10h30, o comércio e as indústrias interromperam suas atividades. Nas fachadas dos estabelecimentos, foram colocadas faixas pretas como sinal de luto e cartazes com os dizeres: “Fechado pelo bem do Brasil”.
Na região central, muitos trabalhadores participaram de uma passeata na Rua Sergipe, tradicional via de comércio do município. A maioria dos manifestantes vestia a cor preta. Com faixas e palavras de ordem, o grupo também criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pediu para que o PMDB deixe o governo federal e defendeu o trabalho realizado pelo juiz Sérgio Moro e pela Operação Lava Jato.
A Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil) não divulgou dados sobre como foi a adesão dos empresários na manifestação. No entanto, informou que aproximadamente duas mil pessoas estiveram na marcha. Até o início da tarde desta terça, a Polícia Militar não havia divulgado uma estimativa de público.
O protesto também atingiu o setor da construção civil. Na Gleba Palhano, na zona sul da cidade, operários que trabalham em obras na região foram liberados pelas construtoras. Os trabalhadores fizeram manifestações na Avenida Ayrton Senna.
Indignação
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Londrina teve apenas 92 postos de trabalho criados (6.405 admissões e 6.313 desligamentos) em janeiro deste ano. Situação bem diferente da registrada no mesmo período de 2015, quando a cidade atingiu o saldo de 1.556 vagas criadas (8.888 contratações e 7.332 demissões)
Segundo a Secretaria de Emprego e Renda de Londrina, desde o ano passado, mais de 1.150 vagas de emprego foram fechadas no comércio local. Situação complicada que motivou muitas empresas a interromperem suas atividades por meia hora. É o caso de uma loja de bijuterias na Rua Sergipe, onde Rose Macedo trabalha como gerente. “Acho que todos deviam participar [do protesto] porque a crise está pegando todo mundo. Nada mais justo que a gente fechar as portas também”, justificou.
Para o presidente da Acil, Valter Orsi, o protesto mostra a indignação do setor produtivo londrinense diante das dificuldades que vem enfrentando com o prolongamento da crise política e o agravamento da crise econômica. “Londrina sempre se posicionou e novamente demonstrou que respeita as pessoas sérias e que condena os corruptos, os caras que não respeitam a nação e só pensam em corrupção. Londrina endossa o Brasil, querendo impeachment já! Nós precisamos de um novo governo, precisamos resolver esse problema político, aquecer a economia e gerar empregos. ”
Cobrança dos políticos
De acordo com Orsi, as ações do Fecha Londrina vão continuar ao longo dos próximos dias. As entidades empresariais devem montar um painel que será instalado no Calçadão de Londrina. No local, serão colocados os nomes dos deputados federais e senadores do Paraná e o posicionamento de cada um sobre o afastamento de Dilma. “A maioria dos brasileiros apoia o impeachment. As ruas já provaram isso. Precisamos de políticos que representem nosso desejo.”
Outro lado
A reportagem tentou contato com o diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) em Londrina, mas ninguém atendeu aos telefonemas. Em nota encaminhada para a RPC, o partido avalia que “as manifestações fazem parte da democracia e representam um direito da sociedade expor livremente os seus posicionamentos”.
“Ressaltamos que, no atual momento histórico, existe uma tendência de radicalização, que desconsidera importantes conquistas sociais do governo federal nos últimos anos. Consideramos que a generalização, tentando incluir todo o partido ou todos os filiados nas denúncias, não corresponde com a verdade. Defendemos os valores democráticos e esperamos uma solução para a crise política do País”, informou o diretório municipal do PT.



