
Empossado interinamente na presidência do Conselho de Ética do Senado, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) acatou ontem o pedido do PSol e abriu processo por quebra de decoro parlamentar contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Esse é o primeiro passo para a cassação do mandato, se ele for considerado culpado. Demóstenes será notificado e terá dez dias para apresentar defesa prévia. O relator será escolhido por sorteio amanhã. A escolha seria hoje, mas o líder do PT, senador Walter Pinheiro (BA), alertou que, de acordo com o regimento, o relator deve ser nomeado dois dias após a abertura do processo.
Valadares afirmou que a representação do PSol atendia todas as exigências do regimento do Senado. "Não se trata de fatos anteriores ao mandato e não dá para dizer que são improcedentes. São de conhecimento público e objeto de inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal."
Demóstenes é acusado de envolvimento em atividades ilícitas do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e de atuar como seu operador político. A assessoria de imprensa do senador afirmou que ele não comentaria a abertura do processo por quebra de decoro.
Punição
O sentimento no Senado é de que Demóstenes dificilmente escapará de um processo de cassação, porque não teria como explicar os diálogos telefônicos, gravados com autorização da Justiça, em que aparece fazendo suposto tráfico de influência em favor de Cachoeira.
"As instituições brasileiras estão diante de uma crise gravíssima, e as instituições são feitas por homens públicos. É um momento difícil porque não é de bom tom representar contra um colega", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP).
Até agora, a maior dificuldade do Conselho de Ética foi arranjar um presidente para iniciar os trabalhos. O cargo era ocupado pelo senador João Alberto (PMDB-MA), que se licenciou do mandato para assumir uma secretaria no governo do Maranhão.
Como a tarefa de julgar um colega é considerada espinhosa, ninguém no PMDB a quem cabe a presidência do conselho, por ter a maior bancada quis ser nomeado para o cargo. O PT ofereceu o nome do senador Wellington Dias (PT-PI), mas os peemedebistas não aceitaram. A saída foi eleger o senador mais velho do colegiado, no caso, Valadares. Ele permanecerá como interino porque o cargo é da cota do PMDB. "E eu posso deixar de aceitar? É uma missão", disse Valadares, que também não almejava a função.



