
A revelação de que o presidente da Assembleia do Paraná, Nelson Justus (DEM), o ex-presidente do Legislativo estadual Hermas Brandão e o atual primeiro-secretário, Alexandre Curi (PMDB), mantiveram duas funcionárias fantasmas na estrutura de comando da Casa aparentemente passou despercebida pelos deputados estaduais.
Na sessão de ontem, a última antes das eleições, nenhum parlamentar se manifestou sobre o assunto em plenário, revelado na noite de segunda-feira pela RPC TV e na edição de ontem da Gazeta do Povo. Mesmo ao comentar o caso nos bastidores, a maioria dos deputados procurou não se comprometer e se limitou a dizer que tudo ainda precisa ser esclarecido.
Conforme revelaram a Gazeta do Povo e a RPC TV, as servidoras e irmãs Lorete Prevedelo Pequeno e Gina Prevedelo Pequeno foram funcionárias da presidência e da primeira-secretaria da Assembleia durante o período em que Gina admitiu, sem saber que estava sendo gravada, que ambas não haviam trabalhado na Casa ao menos por seis anos e meio. Na gravação, feita em fevereiro, Gina diz que ela, a irmã e a mãe (Mariles Prevedelo, também funcionária fantasma da Assembleia) moravam em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, há pelo menos seis anos e meio ou seja, desde meados de 2003. Mesmo residindo a 230 quilômetros de Curitiba, onde fica a sede do Legislativo estadual, as irmãs Lorete e Gina receberam cerca de R$ 2,1 milhões em salários.
Segundo a ficha funcional de Lorete, ela foi contratada em 1995 para um cargo comissionado (sem concurso) da presidência da Assembleia, onde permaneceu até 2008. Depois, foi transferida para o setor de administração da Casa, onde ficou até março deste ano, quando foi demitida após o início da publicação da série de reportagens Diários Secretos, da Gazeta do Povo e da RPC TV.
Gina, por sua vez, foi contratada em outubro de 2007 para ocupar um cargo comissionado na primeira-secretaria. Em março de 2009, ela foi demitida dias antes de ser publicada a primeira lista de servidores divulgada na história da Assembleia. Três meses depois, em junho, foi recontratada pela primeira-secretaria, sendo mais uma vez demitida em março de 2010 por causa das denúncias de que era fantasma.
Sem se comprometer
Questionados sobre o assunto ontem, alguns deputados preferiram não dar declarações. Outros apenas lamentaram o caso e afirmaram que a denúncia precisa ser apurada. "Isso está nas mãos da Justiça e tem de ser apurado e esclarecido", disse o líder da oposição, Élio Rusch (DEM).
O discurso foi seguido por Ênio Verri (PT). "Esperamos, agora, a manifestação dos órgãos competentes para que tomem as providências cabíveis, apurando a denúncia e punindo os responsáveis", declarou o petista. Primeiro vice-presidente da Casa, o deputado Antonio Anibelli (PMDB) afirmou que o caso "envergonha a classe política" e "desmoraliza a Assembleia cada vez mais".
Demonstrando estar mais revoltado que os colegas, Tadeu Veneri (PT) classificou a denúncia como grave e defendeu que a crise pela qual passa a Assembleia há seis meses não tem tido uma resposta condizente por parte de quem comanda o Legislativo. "Há um senso comum na Casa de que isso irá se diluir com o tempo. Mas não podemos nos esquecer de todas essas denúncias, sob pena de os mesmos erros voltarem a ser cometidos dentro de pouquíssimo tempo", criticou. "É preciso modernizar e mudar a gestão da Assembleia e dar transparência de fato a todos os nossos atos."
Já a deputada Rosane Ferreira (PV) se disse indignada e afirmou que é preciso mexer no orçamento da Casa. "Um ponto em que não se tocou é que temos o nono maior orçamento do estado, [se fôssemos um município]. São quase R$ 320 milhões [anuais]", argumentou. "Não há outra explicação [para tantas denúncias de funcionários fantasmas]. Deve haver dinheiro sobrando."
Justus e Curi não comentaram as denúncias envolvendo as duas funcionárias fantasmas. Hermas Brandão não é mais deputado hoje ocupa a presidência do Tribunal de Contas do Paraná.



