
O estilo combativo de José Serra à frente do Ministério das Relações Exteriores, evidenciado no discurso de posse na quinta-feira da semana passada (19), tem como objetivo reconquistar um lugar de destaque para o Brasil no cenário mundial, mas também tem potencial para criar problemas em série para o governo interino de Michel Temer.
O tucano é conhecido por ser teimoso e de difícil convivência. O segundo volume dos “Diários da Presidência” de Fernando Henrique Cardoso, lançado nesta semana, dá detalhes do temperamento de Serra. “Serra é uma pessoa que tem demonstrado na prática ser alguém excepcional, porém não consegue corrigir certos problemas de relacionamento”, diz trecho do livro.
FHC relata a dificuldade que teve para convencer Serra, que já havia sido ministro do Planejamento (1995-1996) a assumir o Ministério da Saúde em 1998. Nesse meio tempo, ele perdeu a disputa pela prefeitura de São Paulo para Celso Pitta. O ex-presidente conta que Serra “ia e voltava, queria uma pasta ligada ao Emprego, ao Trabalho, um superministério que incluísse o BNDES e a Caixa Econômica”.
No Planejamento, Serra bateu de frente com a equipe econômica, e FHC queria evitar isso na segunda vez, e por isso o avisou: “Você é determinado, honesto, tem sentido público, não obstante, está no ponto mais baixo da sua carreira.... Acho que você tem que perceber que é um problema seu. Você sabe que eu o queria como ministro de algo na área social e não na área econômica, mas você quis o Planejamento, e deu no que deu. Não podia ser diferente (choques com a área econômica)”.
Agora, na gestão de Temer, há novas chances de embates. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é mais ortodoxo que Serra, e toda a equipe econômica é fiscalista. O tucano, porém, ficará responsável pelo comércio exterior, num Itamaraty “turbinado” como agradecimento – Serra foi o primeiro do PSDB a se aproximar de Temer, quando o impeachment de Dilma ainda não havia passado pela Câmara. Como as ações da Fazenda vão influenciar diretamente a capacidade de exportação do Brasil, serão inevitáveis os pitacos de Serra.
Também há possibilidade de embates com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e da Defesa, Raul Jungmann. Na posse no ministério, Serra disse que quer atuar junto com as duas pastas e a Receita Federal, ligada à Fazenda, para atuar na segurança das fronteiras do Brasil: “Hoje o lugar geométrico do desenvolvimento do crime organizado no Brasil”.



