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São Paulo - O "candidato do conflito", que conquistou na luta partidária o direito de disputar a Presidência, ficou nas urnas de 2002. Mais maduro e com a experiência de uma derrota, o José Serra de 2010 é outro. Em vez de trabalhar no confronto para fazer maioria, e dar a largada em meio ao racha partidário, ele quebrou o isolamento político, firmou-se como candidato natural e de consenso na aliança de oposição, que em São Paulo reúne PSDB, DEM, PMDB, PTB e PPS.

Foi a fórmula encontrada para não permitir que outro tucano com currículo de bom gestor e um diferencial – a fama de político jeitoso e agregador – furasse a fila do PSDB e lhe tomasse a pole position na corrida presidencial. O ex-governador mineiro Aécio Neves bem que tentou virar pré-candidato, convencido de que, independentemente da posição na fila, sua melhor hora era agora. Em vão.

A esperança do tucanato de Minas era de que voltasse à cena o "Serra brigão" de 2002, que se lançou rompido com concorrentes como o ex-ministro da Educação Paulo Renato e o hoje senador Tasso Jereissati (CE) e, quatro anos mais tarde, confirmou pecha de arreliento, desentendendo-se com o então governador paulista Geraldo Alckmin.

Mesmo depois de Serra deixar clara sua postura de presidenciável, aliados de Aécio ainda apostavam no apego dele ao governo paulista, no cenário de reeleição fácil, e sua renitência em passar a cadeira de governador a Alckmin. Erraram.

Os planos de Serra eram outros. Na verdade, a candidatura a presidente começou a ser construída na escolha, a dedo, do candidato a vice-governador. Alberto Goldman o substituiria nos nove meses finais de governo, com a garantia de lealdade absoluta e competência em dose suficiente para terminar bem sua administração.

Feito

Mais do que uma campanha tranquila, a chapa puro-sangue para governador foi uma das vitórias que reforçaram o primeiro lugar na fila dos candidatos do PSDB: Serra é o único governador de São Paulo eleito em primeiro turno na história política do estado. Isso, depois de ter vencido o PT de Marta Suplicy na briga pela prefeitura da capital.

Dois anos mais tarde, o apoio ao projeto vitorioso de reeleição de seu vice na prefeitura paulistana acabou lhe valendo a consolidação da candidatura entre parceiros do DEM, do PTB e dissidentes do PMDB. Depois de engolir o vice imposto pelo DEM, ele assimilou o companheiro de chapa a tal ponto que Gilberto Kassab se tornou um dos principais articuladores de sua marcha rumo ao Palácio do Planalto.

Após se recompor com Kassab e ajudá-lo a se reeleger, seu primeiro grande lance foi trazer o até então desafeto Geraldo Alckmin para seu campo. Sem espaço político depois da derrota para o DEM na prefeitura, Alckmin foi convidado por Serra para ser seu secretário de Desenvolvimento. Com a jogada, impediu que o ex-governador consumasse o flerte com Aécio Neves e migrasse para o projeto presidencial do concorrente.

O ato uniu a cozinha de Serra: o PSDB paulista fechou com ele, em peso, no projeto presidencial. Também tratou de se aproximar de Tasso Jereissati e trouxe Paulo Renato Souza para o governo paulista. O ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso passou a dirigir a Secretaria de Educação paulista.

No governo do Estado, também aumentou os convênios com prefeituras, repassando, pela atuação do secretário-chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, verbas para prefeitos de partidos de oposição, o que lhe valeu a simpatia de boa parte da classe política em São Paulo. A missão dada a Aloysio teve outra serventia, a de mostrar que ele não é centralizador.

Palanques

Embora tenha deixado claro que o governo de São Paulo estava em primeiro lugar, exercendo o cargo até o último dia do prazo legal, Serra não descuidou de outras praças, Brasil afora, sempre mirando a campanha presidencial. Ao mesmo tempo em que recorria aos "nervos de aço" para resistir à pressão dos aliados que queriam candidatura já, passou a articular pessoalmente os palanques regionais, com objetivo de diminuir os entraves nos estados.

Convocou líderes tucanos e de outros partidos para montar alianças estaduais e arrumar a casa. Evitou, assim, o fantasma de 2006, quando a campanha presidencial de Alckmin naufragou, em grande parte, pela ausência de palanques e com aliados se engalfinhando em vários Estados.

Foi Serra quem articulou pessoalmente o apoio à candidatura de Paulo Souto (DEM) ao governo baiano e, no Rio, para fechar a tríplice aliança PSDB-DEM-PV em torno de Fernando Gabeira (PV) para governador.

No último ano, Serra também trabalhou para ampliar sua inserção em redutos tipicamente lulistas, especialmente no Nordeste, onde é conhecido pela boa gestão à frente do Ministério da Saúde. Além de uma série de viagens à região, Serra fez duas rodadas de entrevistas em rádios com alcance popular. Ao mesmo tempo, os soldados do partido tratavam de alardear que o PSDB é a favor do Bolsa-Família, que será mantido e ampliado no governo tucano.

Popular

De olho no público de baixa renda, Serra também investiu na comunicação popular. Participou de todos os principais programas de auditório da tevê brasileira, como os de Hebe Camargo, Luciana Gimenez, Ratinho e José Luiz Datena, para quem, surpreendentemente, acabou anunciando a intenção de concorrer ao Planalto.

Durante seu governo, Serra foi extremamente pragmático na relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, consequentemente, com Dilma Rousseff. Protegeu o estado de suas pretensões eleitorais, ao mesmo tempo em que amarrou uma operação de venda do banco estadual ao Banco do Brasil, o que lhe valeu mais R$ 5 bilhões para investir e sabe-se lá quantos votos a mais. Outro exemplo de parceria bem-sucedida com o governo federal é o Rodoanel, em que a União entrou com um quarto dos R$ 6 bilhões investidos.

Desta vez, Serra ainda contou com a sorte. No pior momento de sua candidatura, quando começou a despencar nas pesquisas de intenção de voto e amargar a subida da adversária, ele chegou a vacilar, embora estivesse convencido de que, aos 68 anos, essa era sua última chance.

Decidiu seguir em frente porque, nem nessa hora, Aécio ameaçou sua pole position.

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