
Documentos e anotações apreendidas na casa e no escritório de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato, revelam que uma série de empresas pagariam propinas a ele por contratos firmados com a estatal. Os porcentuais normalmente iam de 2,5% a 10%, mas, em alguns casos, chegariam a 50%. A documentação foi obtida pela RPC TV.
Costa deixou a Petrobras em 2012 para montar a Costa Global, uma empresa de consultoria. Para a PF, o ex-diretor utilizava seus contatos na estatal para intermediar contratos. Alguns e-mails demonstram os pedidos de ajuda. "Caso tenhamos sucesso com a ajuda do senhor em fechar esse negócio, teremos um lucro líquido de aproximadamente US$ 140 milhões, onde 50% será para minha empresa e 50% para vocês, que estão diretamente engajados nesse projeto."
Em outro e-mail, um deputado federal do Rio de Janeiro pede "valiosa ajuda" para a empresa de um "grande amigo". Costa responde: "Grato amigo, vou fazer alguns contatos e mantenho você informado."
Um dos contratos mais valiosos que parecem na listagem de Costa é com a Astromarítima Navegação S.A., que funciona no Rio de Janeiro. A empresa possui seis contratos que chegam a R$ 490 milhões.
Em 28 de novembro de 2013, um mês após a assinatura do primeiro contrato da Astromarítima com a Petrobras, Paulo Roberto Costa menciona a empresa em uma planilha.
No trecho em que se refere aos contratos em andamento, o documento confirma que a Astromarítima Navegações S.A. pagaria comissão de 5% do valor bruto, até o limite de R$ 110 milhões, e mais 50% sobre o montante que ultrapassasse este valor.
Procurado, o advogado de Costa, Fernando Augusto Fernandes, afirma que as anotações não revelam vínculo com a Petrobras.
"Essas anotações se referem a contratos obtidos pela empresa do Paulo Roberto, declarados e legais e que, nesse caso, se refere a tentativa de investimento ou venda desta empresa. Nenhuma relação com a Petrobras", afirma Fernantes.
A Astromarítima afirmou ontem, em nota, que trabalha com a Petrobras há 30 anos e que nunca fez qualquer "proposta escusa" para conseguir contratos com a estatal.
Os documentos indicam que, na negociação com a empresa, Costa não agia sozinho. As anotações mostram que o ex-diretor dividia os percentuais com Raulo Motta, proprietário da Energio, uma empresa de energia que tinha sociedade com a Costa Global. Juntas, as duas adquiriram uma refinaria no Sergipe, em um negócio de R$ 120 milhões. Motta afirmou que apenas indicou a empresa de Costa a um amigo, acionista da Astromarítima, e que nunca recebeu remuneração por essa indicação.
Empresas doaram R$ 49 milhões para campanhas
Chico Marés
Empresas citadas em lista apreendida pela Polícia Federal (PF) na casa do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa movimentaram pelo menos R$ 49,9 milhões na campanha de 2010. A maior parte desse valor (73%) foi paga a partidos da base aliada do governo Dilma Rousseff, mas a oposição também foi beneficiada especialmente em campanhas estaduais. No Paraná, essas empresas doaram R$ 2,5 milhões. A maior parte desse dinheiro foi para o PDT.
A PF apreendeu na casa de Costa, que está preso desde 20 de março, uma lista de empresas com contratos com a Petrobras que teriam sido convencidas pelo ex-diretor a doar recursos para diversas campanhas eleitorais em 2010, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo. Na lista, constam as empresas Engevix, UTC/Constran, Mendes Júnior, Iesa, Hope RH e Toyo Setal, além de anotações sobre os executivos contatados e sua disposição de colaborar ou não para a campanha.
Dessas seis empresas, cinco doaram para a campanha. Apenas a Toyo Setal não consta na lista de doadores no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A lista de beneficiários vai do PT, que recebeu um total de R$ 18,7 milhões, ao PSDB, que ganhou R$ 10,3 milhões.
Essa tendência é ainda maior quando se trata de doações para diretórios e campanhas nacionais. De R$ 16 milhões doados, R$ 14,4 milhões foram para partidos que fizeram campanha para a presidente Dilma Rousseff. R$ 18,8 milhões foram doados diretamente para candidatos, como os ministros Aloizio Mercadante (PT) e Marta Suplicy (PT); a lideranças da oposição, como Aécio Neves (PSDB) e ACM Neto (DEM).
No Paraná, as cinco empresas doaram R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 1,9 milhão foi destinado ao comitê e ao diretório do PDT o partido lançou Osmar Dias (PDT) como candidato a governador. Gleisi Hoffmann (PT) recebeu R$ 250 mil da UTC Engenharia para sua candidatura ao Senado, enquanto Beto Richa (PSDB) ganhou R$ 125 mil da Engevix para sua campanha ao governo. Os diretórios do PT e do PRTB também receberam doações.



