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Irregularidades

Ex-prefeitos contam como era a máfia dos sanguessugas

Alguns dos gestores municipais do período em que o escândalo veio à tona dizem que, para receber as ambulâncias, era “obrigatório” participar do esquema

Affonso Guimarães, ex-prefeito de Campo Largo: edital vinha pronto | Anderson Tozato-arquivo/Gazeta do Povo
Affonso Guimarães, ex-prefeito de Campo Largo: edital vinha pronto (Foto: Anderson Tozato-arquivo/Gazeta do Povo)

Muitos dos ex-prefeitos paranaenses que são réus nas ações judiciais que apuram responsabilidades sobre a compra superfaturada de veículos – no esquema que ficou conhecido, em 2006, como máfia dos sanguessugas – alegam que só se envolveram pois não havia outra maneira de conseguir ambulâncias na época.

Reportagem publicada ontem pela Gazeta do Povo mostrou que pelo menos 28 ex-prefeitos paranaenses são hoje alvos da Justiça por causa do esquema – o texto também trazia a justificativa de cada um deles. E, até o fim do ano, a lista deve aumentar, já que a intenção da Advocacia-Geral da União (AGU) é processar todas as pessoas que tiveram algum envolvimento com o esquema.

A reportagem procurou todos os citados, mas nem todos foram localizados e apenas alguns aceitaram falar sobre o assunto. Mas estes relataram detalhes do procedimento de compra das ambulâncias.

O ex-prefeito de Campo do Tenente Adalberto Bicudo Quevedo afirma que ainda não foi chamado para prestar esclarecimentos, mas que quer contar como tudo aconteceu. "Eles (representantes das empresas) me procuraram e disseram que queriam um valor diferente daquele estabelecido no convênio, que era de R$ 62 mil. Quando percebi que podia não receber a ambulância por causa desse acordo, propus pagar os R$ 9 mil de diferença como contrapartida da prefeitura. Mas eu dei o golpe neles e não paguei nada." Quevedo disse que foi informado que poderia comprar a ambulância só de algumas empresas e que concordou com a proposta para não perder o direito de receber o veículo.

O ex-prefeito de Campo Largo Affonso Portugal Guimarães afirma que, junto com o comunicado da liberação da verba, chegou à prefeitura um modelo de edital de licitação. "Acreditamos que o modelo era autorizado pelo Ministério da Saúde", diz. Ele argumenta que nenhum prefeito recusa a possibilidade de ganhar uma ambulância para a cidade e que não tem como controlar os preços de todos os produtos comprados pela prefeitura.

"Daí aparece um vagabundo ganhando dinheiro nas suas costas", conta Guimarães. Ele, que é médico, teve o saldo da conta bancária bloqueado, por determinação da Justiça. Quem também teve as contas bloqueadas foi o ex-prefeito de Irati, Antonio Toti Colaço Vaz. Ele diz que as ambulâncias compradas eram boas e que estão funcionando bem ainda hoje. Vaz afirma que uma auditoria do Ministério da Saúde concluiu que a licitação foi regular. Já o ex-prefeito de Fazenda Rio Grande, Antonio Wandscheer, está com um imóvel em Curitiba indisponível por decisão judicial. Ele afirma que está preparando a defesa e que está tranquilo. Ele alega que não foi beneficiado financeiramente com a compra.

O argumento de que não houve qualquer vantagem financeira própria também é usado pelo ex-prefeito de Paraíso do Norte, Edneu Aureo Verderio. "A ambulância veio completinha e ninguém me pediu nada. Não me ofereceram nem pediram dinheiro", alega. Mas reconhece que foram enviadas cartas-convites, para participar da licitação, para as empresas sugeridas por envolvidos no esquema. "Fiquei indignado com tudo isso porque tratam a gente como bandido", diz Mario Masakazu Moribe, ex-prefeito de Lunardelli, reclamando do processo de investigação, que tem 11 mil páginas e informa que o veículo não está sendo usado. Moribe afirma que não pagou nem a contrapartida da prefeitura, que seria de R$ 12 mil e estava prevista no convênio.

O ex-prefeito de Coronel Vivida, Ivanir Francisco Ogliari, acredita ter sido envolvido no caso por conta de uma infeliz coincidência. A emenda parlamentar que beneficiou a cidade com a destinação de um veículo para a saúde foi apresentada por um deputado federal que, a princípio, não participava do esquema dos sanguessugas. Mas uma empresa da quadrilha foi a vencedora da licitação de um ônibus adquirido pelo município. "Quem é que iria saber? Ninguém me procurou para pedir nada. A empresa soube da licitação porque certamente acompanhava todas as liberações pelo Ministério da Saúde. O bem está sendo usado há seis anos, e não foi superfaturado."

Lucrativo

Roberto Adamoski, que comandou Quatro Barras, destaca que poucas empresas se especializaram na venda de veículos para a área de saúde e que, com controle das verbas liberadas pelo governo federal, cercavam todas as licitações feitas no Brasil. Com vendas em quantidade, o negócio tornava-se mais lucrativo. "Uma auditoria avaliou o veículo comprado pelo mesmo preço que pagamos", assegura.

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