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Relações internacionais

FAO será primeira batalha diplomática de Dilma

Brasil e Espanha são os mais fortes candidatos ao comando da entidade da ONU ligada à agricultura

O ex-ministro José Graziano, candidato brasileiro à direção-geral da FAO, condena os subsídios e as barreiras de importação dos países ricos | José Cruz/Abr
O ex-ministro José Graziano, candidato brasileiro à direção-geral da FAO, condena os subsídios e as barreiras de importação dos países ricos (Foto: José Cruz/Abr)

A primeira batalha diplomática do governo Dilma Rousseff será aberta, oficialmente, amanhã. Depois de protocolar a candidatura do ex-ministro José Graziano à direção-geral do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) na sexta-feira, a briga pelo cargo estará aberta. Questão de honra para o país, a campanha de Graziano deixa de lado o tom diplomático e critica abertamente a possível candidatura de um europeu, antecipando o que deve ser a maior disputa pelo cargo.

O principal rival do ex-ministro brasileiro deverá ser Miguel Ángel Moratinos, ex-chanceler espanhol. Apesar de as candidaturas só serem confirmadas na primeira semana de fevereiro, Moratinos já declarou que é candidato. A munição brasileira será esta: como um representante da região que mais investe em subsídios para o setor agrícola pode querer dirigir um órgão que tem como meta promover a agricultura dos países mais pobres? O fim dos subsídios para setores agrícolas de exportação tem sido uma das maiores batalhas da FAO. O atual diretor-geral, o senegalês Jacques Diouf, é abertamente crítico, responsabilizando os europeus pela dificuldade de os países mais pobres desenvolverem sua agricultura e encontrarem mercado para seus produtos. Em 2010, os europeus gastaram quase 40 bilhões de euros apenas em subsídios.

A campanha brasileira mira diretamente os países do He­­misfério Sul. Já obteve apoio oficial do Mercosul e da Unasul – os grupos que representam a América do Sul – e da Comu­ni­da­­de dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que inclui Portugal, Timor Leste, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo­çambique e São Tomé e Prín­cipe. Na semana que vem, Graziano vai à África, durante a Cúpula das Nações Africanas, angariar votos. Também deve garimpar mais adesões, com a presidente Dilma Rousseff, durante o encontro América do Sul-Países Árabes (Aspa) em Lima (Peru) em fevereiro. Tem ainda a simpatia de caribenhos e outros latino-americanos, incomodados com a possibilidade de um europeu assumir o cargo.

Revezes

Sem nenhum brasileiro em cargos de destaque em organismos internacionais e amargando algumas derrotas nessa área, a candidatura de Graziano, apresentada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é vista como a confirmação do status que o país conquistou nos últimos anos e tem o engajamento pessoal do ex e da atual presidente. O tema central da FAO, o combate à fome interessa diretamente ao Brasil.

A avaliação do Itamaraty é que as chances de Graziano – responsável pela criação do programa Fome Zero no primeiro mandato de Lula – são muito boas. A eleição é feita em rodadas sucessivas, em que o menos votado é eliminado. A expectativa é que Graziano chegue à rodada final da eleição e obtenha cerca de 75 votos, pouco mais da metade dos que devem estar presentes na eleição, em junho em Roma.

A expectativa é que o brasileiro tenha Moratinos como adversário final e a votação pode ser apertada. Apesar de não ter automaticamente o voto dos países desenvolvidos, a força do espanhol pode vir de uma polarização Norte-Sul na eleição.

Moratinos vai usar o fato de a Espanha ser o hoje o maior contribuinte individual da FAO – 40 milhões de euros. Ao mesmo tempo, sua campanha chegou a espalhar que a candidatura de Graziano era um projeto pessoal de Lula e não teria o empenho de Dilma. A avaliação, feita ao jornal espanhol El Pais, mereceu carta de resposta do embaixador em Madri, Paulo de Oliveira Campos. A batalha está apenas começando.

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