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Um fax, já desgastado pela ação da luz, é um forte indício da ação da máfia dos Sanguessugas no Paraná. Por descuido ou ingenuidade, o documento foi anexado ao processo licitatório de compra de uma ambulância pela prefeitura de Sapopema, no Norte do estado. Nele constam os nomes das quatro empresas que deveriam ser convidadas pela prefeitura para a licitação. O cabeçalho indica que o fax partiu, na data de 7 de maio de 2002, do escritório político do então deputado federal Basílio Villani (PSDB). O esquema de cartas marcadas resultou na negociação de mais uma ambulância do grupo Planam no Paraná. De acordo com dados preliminares da investigação, 84 veículos foram negociados, através de licitações viciadas, em 75 cidades paranaenses.

O telefone que consta no fax pertence hoje a uma ótica, localizada em um shopping de Curitiba. A funcionária que atendeu a ligação feita pelo jornal Gazeta do Povo reconheceu que muitas pessoas ainda telefonam para lá a procura do ex-deputado.

Empresas suspeitas

Santa Maria, Vedovel, Comercial Rodrigues e Lealmaq, por coincidência ou não, foram as empresas convidadas pela prefeitura de Sapopema para a negociação da ambulância. Todas as quatro constam como integrantes da máfia, de acordo com relatório da Polícia Federal. A Vedovel tem ainda o agravante de ser considerada fantasma, já que apresenta um endereço falso como sede, em Curitiba. A Santa Maria, pertencente ao empresário Luiz Antônio Vedoin, que confessou gerenciar o esquema, ganhou a licitação por R$ 76,6 mil. Ainda segundo informações da PF, Comercial Rodrigues e Lealmaq participavam das negociações apenas para legitimar o processo.

Segundo funcionários da prefeitura, que pediram anonimato, foi realizada uma pesquisa de preço antes da licitação. Uma revendedora paranaense teria oferecido o mesmo veículo, em condições idênticas ao adquirido, por R$ 60 mil. Contudo, a empresa acabou não sendo convidada para o processo licitatório. Há ainda outros aspectos chamam a atenção para o caso. Num estranho caso de agilidade do sistema público, todo o processo, desde o pedido de compra ao envio das cartas-convites, tramitou em apenas um dia. Também em 21 de maio de 2002, duas empresas, de estados distantes, retiram o edital de tomada de preços. Em apenas uma semana, já era declarada a vencedora.

Para tornar ainda mais curioso o caso, o pagamento foi fracionado em dois cheques, uma de R$ 64 mil e outro de R$ 12,6 mil, destinados para a mesma empresa. A microfilmagem desses documentos já foi solicitada e deve indicar na conta bancária de quem eles foram depositados. O então presidente da comissão de licitação, Osly de Oliveira, nega conhecimento sobre qualquer irregularidade no processo. Ele diz não se lembrar exatamente da compra e que apenas cumpria ordens, assinando documentos previamente digitados.

Quando Roberto Jorge Abrão (PMDB) assumiu a prefeitura de Sapopema, em 2004, não encontrou uma ambulância e sim uma "van" usada para transporte de passageiros. Ele diz não saber onde estão os equipamentos médicos que deveriam estar no veículo e o motivo que acabou no desvio de função. O ex-prefeito Clóves da Costa Moraes não foi localizado pela reportagem. Cópias do processo já foram enviadas para o Ministério Público, Controladoria-Geral da União, Comissão Parlamentar de Inquérito e Tribunal de Contas.

O escândalo

As investigações preliminares promovidas por todos os órgãos que apuram o escândalo dos sanguessugas indicam que o esquema funcionava da seguinte maneira: um parlamentar apresentava uma emenda para compra de unidade de saúde, por iniciativa própria ou por sugestão da máfia, que entrava em contato para propor que a licitação fosse direcionada. Começava a pressão para a liberação do recurso pelo Ministério da Saúde. Sempre as mesmas empresas participavam da licitação, entregando veículos incompletos ou acima do preço de mercado. O superávit era distribuído entre os participantes da fraude. Ainda não ficou comprovado que todos os prefeitos e parlamentares envolvidos, de alguma forma, no processo, receberam dinheiro para tal. Recente levantamento feito pela Gazeta do Povo apontou que aproximadamente 30% dos veículos comprados com recursos do Ministério da Saúde no Paraná não estão servindo à função a que destinavam originalmente.

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