
As Forças Armadas não se pronunciaram oficialmente sobre o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), divulgado na última quarta-feira. Pelo menos uma entidade que representa militares e um general da ativa, no entanto, criticaram o documento.
Para o coordenador da CNV, Pedro Dallari, a postura das Forças Armadas cria um clima de "insegurança" para a democracia, que deixa em aberto a possibilidade de as violações dos direitos humanos voltarem a ser uma política de Estado.
"O silêncio poderá passar a impressão de que as Forças Armadas estão ainda de acordo com o que foi feito no passado e que, portanto, poderiam especular com a possibilidade de voltar a fazê-lo no futuro. Isso gera insegurança do ponto de vista da democracia", afirmou.
Dallari participou de uma audiência no Senado para falar sobre o relatório. O documento pediu a punição dos agentes envolvidos nos crimes cometidos durante o período analisado e foi criticado pelos militares.
Críticas
O general de Exército da ativa, Sérgio Etchegoyen, chefe do Departamento Geral do Pessoal, emitiu uma nota, em conjunto com a sua família, repudiando o relatório. Para ele, o trabalho é "leviano". A Comissão responsabilizou o pai do oficial, o general Leo Guedes Etchegoyen, e outros 376 civis e militares, por violações de diretos humanos durante o governo militar, sem apontar os fatos que teriam levado às acusações.
"Ao apresentar seu nome, acompanhado de apenas três das muitas funções que desempenhou a serviço do Brasil, sem qualquer vinculação a fatos ou vítimas, os integrantes da CNV deixaram clara a natureza leviana de suas investigações e explicitaram o propósito de seu trabalho, qual seja o de puramente denegrir", diz a nota assinada pelo oficial.
O Clube Naval também divulgou uma nota de repúdio ao relatório da CNV. O texto, assinado pelo vice-almirante fuzileiro naval Paulo Frederico Soriano Dobbin, acusa o trabalho da CNV de ser "ilegal, parcial e divorciado da realidade". A nota ainda repele as acusações de crimes contra os oficiais da Marinha citados no relatório.
Lista divulgada por militares tem sete erros
Divulgada pelos clubes militares, uma lista de 126 vítimas das organizações de luta armada durante a ditadura militar tem pelo menos sete erros.
Um dos "mortos" por cuja alma "roga-se uma prece" em anúncio publicado no jornal O Globo deu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta semana. Há ainda na relação três abatidos por policiais e três assassinados por criminosos comuns. Assinam o texto os clubes Naval, Militar e de Aeronáutica.
Exemplo
O policial militar aposentado José Aleixo Nunes foi ferido em um ataque da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e da Ação Libertadora Nacional (ALN) em dezembro de 1970. Levou dois tiros de raspão e sobreviveu. Seu colega, o sargento Garibaldo de Souza, e um taxista, baleados no mesmo episódio, na zona leste paulistana, porém, morreram. Garibaldo está na lista dos clubes



