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Com a saída da secretaria de Segurança Pública, Fernando Francischini volta a ser deputado federal. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Com a saída da secretaria de Segurança Pública, Fernando Francischini volta a ser deputado federal.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Balançando no cargo desde o confronto entre policiais e professores no último dia 29 de abril, o secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini, pediu demissão no fim da manhã desta sexta-feira (8), em carta endereçada ao governador Beto Richa (PSDB). O Palácio Iguaçu informou que o delegado da Polícia Federal Wagner Mesquita de Oliveira, que comandava o setor de inteligência da Secretaria, responderá interinamente pela pasta.

Eduardo Cunha aconselhou Francischini a sair

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O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ligou três vezes nesta semana para aconselhar Fernando Francischini a deixar a Secretaria Estadual de Segurança Pública e voltar a exercer o mandato de deputado federal.

Cunha disse que seria melhor para Francischini retornar a Brasília e “ajudá-lo” na condução da Casa. Os dois são ligados desde a formação do “blocão”, ano passado, grupo que reunia partidos descontentes com o governo Dilma Rousseff, como o PMDB de Cunha e o Solidariedade de Francischini.

O ex-secretário deve reassumir o mandato na terça-feira (19). O partido já garantiu a ele uma cadeira de titular na CPI da Petrobras. É provável que Cunha manobre para que ele consiga outro posto relevante em comissões permanentes ou pelo menos a relatoria de projetos ligados à segurança pública.

Não se sabe se a atuação de Cunha, no entanto, teve influência do Palácio Iguaçu. Assim como Francischini, o governador Beto Richa (PSDB) também construiu um canal direto de relacionamento com o presidente da Câmara.

Em coletiva de imprensa na última segunda-feira (4), coube a Oliveira apresentar vídeos com indícios da participação de “grupos radicais” – incluindo “black blocs” – no protesto do Centro Cívico, a quem atribuíram o “estopim” da crise. Foram apresentados diversos vídeos e fotografias que, para a secretaria, seriam “evidências” de que o confronto teria sido causado por eles.

Saída conturbada

A situação de Francischini começou a ficar insustentável justamente nessa coletiva, quando ele negou ter sido o responsável pela ação policial que deixou mais de 200 manifestantes feridos no Centro Cívico. Na ocasião, ele afirmou que todo o planejamento e execução foi de responsabilidade do comando da Polícia Militar (PM).

A repercussão negativa das declarações levou o governador a decidir pela saída de Francischini na quarta-feira (6). Segundo fontes do Executivo, ele teria entrado demitido numa reunião feita com o tucano pela manhã, mas saiu mantido como secretário após fazer um apelo emocionado para permanecer na função.

No mesmo dia, porém, o cenário mudou com a divulgação de uma carta assinada por 17 dos 19 coronéis da PM em repúdio à postura de Francischini de atribuir à polícia toda a responsabilidade pelo confronto do dia 29. Além disso, causou ainda mais polêmica um desabafo feito no Facebook pela mulher dele, Flávia Francischini. No texto, sem citar nomes, ela fez críticas indiretas ao grupo político de Richa. Horas, depois apagou a postagem.

A saída de Francischini tornou-se irreversível nesta quinta-feira (7), com o pedido de demissão do comando da PM do coronel César Kogut. Ele alegou ao governador “dificuldades insuperáveis” no relacionamento com a direção da Secretaria . À Gazeta do Povo, Kogut voltou a responsabilizar Francischini pela “batalha” do Centro Cívico. “O secretário conhecia e participou de tudo”, afirmou.

Deputado federal eleito pelo Solidariedade com quase 160 mil votos, Francischini vai reassumir o mandato na Câmara Federal no lugar do suplente Osmar Bertoldi (DEM).

Procurado pela reportagem por meio de sua assessoria de imprensa, Francischini optou por não dar entrevista.

Substituto

Indicado para ocupar interinamente o comando da Secretaria de Segurança Pública, Wagner Mesquita é delegado federal de classe desde 2003. Foi responsável pela Delegacia da PF em Foz do Iguaçu e conduziu operações contra o narcotráfico. Foi chefe do Departamento de Repressão a Entorpecentes, entre outros. Está na Secretaria desde dezembro de 2014.

Muda chefia, mas tropa segue insatisfeita

A troca de comando na pasta da Segurança Pública e na cúpula da Polícia Militar ocorre em meio a uma insatisfação da tropa. A reclamação gira em torno de atrasos em promoções de praças e aspirantes. Segundo alguns, a promessa era de que as dívidas seriam sanadas no dia 1.º de maio, o que não ocorreu.

Na terça-feira (5), a Associação de Praças do Estado do Paraná (APRA) protocolou uma reclamação de falta de enquadramento de soldados, cabos e sargentos. O ofício destaca que os policiais estão “exercendo a graduação sem a contrapartida do estado”.

Segundo o presidente da APRA, Orélio Fontana Neto, cerca de cem soldados que completaram o curso de formação em janeiro ainda recebem como alunos. O valor da bolsa é de cerca de R$ 1,8 mil, enquanto o salário inicial de soldado é de R$ 3,6 mil. Já entre os 300 soldados da PM e dos Bombeiros que terminaram o curso de formação de cabos em outubro, a progressão salarial também não ocorreu.

Os maiores problemas estariam ocorrendo com as promoções de aspirantes a oficiais. Durante a formação, que dura três anos, eles deveriam receber progressões – os alunos de primeiro ano têm direito a bolsa-auxílio de cerca de R$ 2,8 mil; os do segundo, R$ 3,1 mil; e os do terceiro, R$ 3,6 mil. Depois da formação, os aspirantes deveriam receber R$ 6,1 mil. Porém, conforme relatos, não houve acréscimo desde o segundo ano; ou seja, eles estão recebendo, por mês, R$ 3 mil a menos do que determina a tabela.

Conforme relato de policiais militares, o pagamento de progressões atrasadas no dia 1º de maio, conforme promessa do governo, ocorreu apenas para oficiais da tropa.

A carta de demissão assinada pelo ex-secretário de Segurança Pública do Paraná, Fernando Francischini, relata que ocorreu, na sua gestão, “negociação para implantação das promoções e progressões dos Policiais Militares atrasadas”. Segundo o presidente da APRA, as conversas ocorreram, mas não deram resultado.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com as assessorias da PM e da secretaria de Segurança por volta das 18 horas desta sexta. Constatou-se que as respostas sobre os questionamentos levantados na reportagem deveriam ser providenciadas também pelas secretarias da Fazenda e da Administração. Porém, não foi possível obter contato com nenhuma das pastas. A assessoria da Sesp se dispôs a buscar as explicações sobre as questões apresentadas, mas explicou que isso seria impossível sem o posicionamento de outras secretarias.

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