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Palácio do Planalto

Franklin Martins muda relações do governo com a imprensa

Ministro nunca foi íntimo de Lula, mas está cada vez mais próximo do ponto de vista político

 | Antônio Cruz/ABr
(Foto: Antônio Cruz/ABr)

O ministro da Comunicação de Governo, Franklin Martins, chega ao Palácio do Planalto às 8h30, meia hora antes do chefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse intervalo de 30 minutos, organiza por ordem de importância as notícias do Brasil e do mundo. Em seguida, sobe do segundo – onde fica seu gabinete – para o terceiro andar, em que Lula despacha. Ali, os dois comentam a repercussão diária das ações do governo e o que deve ser feito e dito nas próximas 24 horas pelo presidente.

Essa é apenas a largada diária de uma relação que em um ano e oito meses transformou o jornalista em um dos principais conselheiros de Lula. Franklin nunca foi íntimo de Lula, mas está cada vez mais próximo do ponto de vista político.

Se ao longo do dia a agenda prevê uma cerimônia pública com a presença de repórteres, é preciso reafirmar – em tempos de retração econômica mundial – que o Brasil não vai sentir a crise tanto quanto outros países. Ali, no primeiro encontro matinal com Franklin, Lula já se prepara para enfrentar mais um "quebra-queixo" e dar o recado que, no entender do governo, pode tranqüilizar o país. "Quebra-queixo" é aquela entrevista arrancada em um desorganizado ataque dos repórteres ao entrevistado, com empurra-empurra, pisões e algumas rasteiras. Muitas vezes um queixo sai machucado – daí o nome.

Desde que Franklin assumiu o cargo, em 29 de março de 2007, houve uma mudança radical nas relações entre o governo e a mídia. Arredios ao extremo, o presidente Lula e os ministros mudaram. E muito. "Desde que ele chegou, mudou a comunicação externa e a interna. E o presidente ganhou um conselheiro de peso", diz Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete de Lula.

O presidente também avalia que o ministro mudou as relações entre o governo e a mídia. "O Franklin trouxe para o governo a experiência de quem trabalhou nos principais meios de comunicação do país. Claro que ajudou a melhorar as relações entre governo e imprensa. Nós evoluímos. Acho que a imprensa também evoluiu", disse o presidente.

Hoje, Franklin contabiliza uma entrevista a cada dois dias, seja nos "quebra-queixos", o modelo que considera mais eficaz, porque a repercussão é imediata, seja para um veículo só ou para setores, como rádios, emissoras de tevê , blogs e portais. Nas viagens internacionais mais recentes, Franklin conseguiu de Lula o compromisso de sempre falar com os jornalistas brasileiros e também com os do país visitado.

No contato diário não há restrição quanto aos temas a tratar – da reforma tributária à política partidária, dos assuntos internacionais ao pré-sal, da educação ao impacto social das medidas econômicas e à forma como divulgá-las. O jornalista tornou-se influente e os colegas, dentro e fora do Planalto, admitem isso. É comum um ministro, de qualquer área, responder, quando indagado como foi a reunião com o presidente: "Perguntem ao Franklin."

O "conselheiro" Franklin é conciliador ao montar as estratégias de comportamento político e de comunicação do governo, mas não foge ao confronto, quando necessário. Como no caso do debate interno sobre a Lei da Anistia, que uma parte do governo quer rever e outra não – a revisão serviria para tentar condenar os torturadores do tempo do regime militar (1964-1985). O jornalista chegou a pôr o cargo à disposição, acompanhando o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannucchi, por discordar que na prestação de informações ao Supremo Tribunal Federal (STF) prevalecesse apenas a posição estritamente jurídica da Advocacia-Geral da União (AGU). Acabou vencendo um meio termo: seguirá a posição da AGU, mas os demais ministérios envolvidos no assunto também darão seus pareceres.

A influência de Franklin pode ser sentida até em assuntos triviais. Em novembro, Lula e seus ministros foram convidados para a partida de futebol entre as seleções do Brasil e de Portugal, na reinauguração do Estádio Bezerrão, na cidade-satélite do Gama. Franklin foi contra: "Dar mole para fotografias sobre carros oficiais e notícias da presença de autoridades num jogo em que o público ficou de fora para quê? É oferecer a cabeça de graça", comentou, segundo um assessor de Lula.

Ninguém foi ao jogo. Nem o ministro do Esporte, Orlando Silva.

Ao saber que seria feita esta reportagem procurando contar como se tornou um ministro influente em tão pouco tempo, mesmo sem ter filiação partidária e nunca ter sido "amigão" do presidente, Franklin respondeu que não gostaria de comentar um assunto que, pelo tema, o deixaria constrangido. "O convívio diário com os meios de comunicação é muito importante para o governo. Acho que nunca vamos equilibrar o jogo, mas é ruim ser goleado sempre por 4 ou 5 a zero. É melhor perder por 3 a 2 ou 2 a 1. Meu trabalho se resume nisso."

Concordou falar sobre seus métodos de trabalho. Disse que procura estar sempre ao lado do presidente nas viagens. Estando no local dá para sentir a temperatura dos meios de comunicação, se, por exemplo, há queixas dos repórteres com relação ao tratamento recebido. Outra utilidade das viagens: jogar conversa fora com o presidente, uma vez que os percursos são longos e há tempo de sobra para além, dos despachos burocráticos, comentários de filmes e de música e até para pequenos desabafos.

Do alto do seu 1,94 metro, Franklin passa uma imagem sisuda, reforçada pelos comentários políticos que fazia nas TVs Globo e Bandeirantes e na Rádio CBN, nos oito anos e meio antes de se tornar ministro. Seu passado também remete a isso. Líder estudantil, integrante do grupo que seqüestrou o embaixador Charles Elbrick em 1969 e conseguiu, com isso, libertar 15 prisioneiros, entre eles José Dirceu, Franklin treinou guerrilha em Cuba. Mas diz que foi um aprendizado que serviu para quase nada. Por seu passado, não pode entrar nos Estados Unidos. Não lamenta isso: "Nem os EUA nem eu deixaremos de ser o que somos por causa desse episódio." Além dos contatos do presidente Lula com jornalistas que fazem a cobertura diária no Palácio do Planalto, Franklin costuma receber repórteres em seu gabinete. Conversa sempre reservadamente, o que no jargão jornalístico é chamado de off. Repete o que durante oito anos fez a jornalista Ana Tavares, que assessorou o então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e é considerada – por Franklin também – o modelo de discrição que sabia passar informações importantes, ajudar os jornalistas a sair de pistas erradas e a divulgar bem o presidente.

Franklin é, pessoalmente, arredio às entrevistas no Palácio da Alvorada, normalmente concedidas a um só órgão de comunicação e a um entrevistador. Gosta mais da agitação dos "quebra-queixos", das coletivas com muita gente, do tumulto. Diz, sempre que solicitado, que a relação entre governo e imprensa deve ter característica de atividade cotidiana, como escovar os dentes, amarrar os sapatos, tomar banho.

"São coisas que você tem de fazer porque são parte da comunicação do governo com a sociedade."

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