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Maranhão

Fundação Sarney será fechada

Investigada por desvio de verbas públicas, entidade ligada ao presidente do Senado não conseguia mais captar doações para continuar funcionando

Fachada do Convento das Mercês, prédio histórico de 1654 onde funciona a Fundação Sarney: propriedade terá de ser devolvida ao governo do Maranhão | Divulgação
Fachada do Convento das Mercês, prédio histórico de 1654 onde funciona a Fundação Sarney: propriedade terá de ser devolvida ao governo do Maranhão (Foto: Divulgação)

Brasília - Investigada por desvio de verbas públicas e obrigada pela Justiça a devolver o prédio centenário que abriga sua sede, no centro histórico de São Luís (Maranhão), a Fun­­dação José Sarney fechará as suas portas. A decisão foi anunciada on­­tem pelo próprio senador José Sar­­ney (PMDB-AP), presidente vitalício da entidade que leva seu nome.

Em nota, Sarney diz que a decisão final caberá ao Conselho Curador da fundação, formado por amigos e assessores dele. "Explicito, com profundo sofrimento, que essa é a minha opinião, em face da impossibilidade de seu funcionamento, por falta de meios, segundo fui informado pelos administradores da instituição", diz o texto da nota.

A razão do fechamento é simples: tornou-se tarefa difícil arrumar doadores que aceitem contribuir com uma fundação sob suspeita. "Os doadores que a sustentam suspenderam suas contribuições, pela exposição com que a instituição passou a ser tratada por alguns órgãos da mídia", afirma a nota do presidente do Senado. "Diante dessa situação de força maior, repito, com grande amargura, que o seu fechamento é o caminho a seguir, embora tal providência dependa de decisão do Conselho Curador da Fundação". O senador disse lamentar a situação: "Lamento pelo Maranhão, que perde um centro de documentação e pesquisa que é uma referência nacional".

A Fundação José Sarney, que reúne documentação da época em que Sarney foi presidente da República (1985-1990), foi lançada ao centro do noticiário em julho passado, depois da revelação de ir­­regularidades na prestação de contas de um contrato de patrocínio que transferiu à entidade R$ 1,3 milhão dos cofres da Petrobras.

Por meio da Lei Rouanet, que permite às empresas converter patrocínios culturais em incentivos fiscais, a estatal repassou o dinheiro para que a Fundação Sarney digitalizasse seu acervo.

Pelo projeto apresentado ao Ministério da Cultura – e aprovado após gestão do próprio Sarney junto ao atual ministro da pasta, Juca Ferreira –, o dinheiro serviria, principalmente, para que as instalações da fundação fossem equipadas com computadores que permitiriam aos visitantes acessar on-line o acervo da instituição.

O contrato de patrocínio foi assinado em 2005, na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em ato solene com a participação de Sarney e do presidente da estatal, José Sergio Gabrielli. O projeto levaria dois anos para ser executado. Passados quatro anos, as metas não haviam sido cumpridas. Além disso, do total de R$ 1,3 milhão, pelo menos R$ 500 mil tinham ido parar em contas de empresas fantasmas e da família Sarney.

Na rol das empresas que receberam dinheiro do patrocínio estavam a TV Mirante e as rádios Mirante AM e FM, de propriedade dos Sarney. Havia também empresas que não existem nos endereços declarados e outras desconhecidas, abertas em nome de afilhados políticos da família.

Ao mesmo tempo, surgiram outros problemas. O Ministério Público do Maranhão anunciou em julho que interviria no comando da fundação, após detectar problemas nas contas apresentadas pela entidade de 2004 a 2007. Além disso, a fundação também estava na iminência de perder sua sede, o Convento das Mercês, prédio de 1654 no centro histórico de São Luís tombado como Patri­­mônio Histórico Nacional.

Desde 1905, o convento pertencia ao governo do Maranhão. Mas em 1990, foi doado à funda­­ção por meio de um decreto assinado pelo então governador, João Alberto, aliado político de Sarney. O Ministério Público Federal recorreu e conseguiu reverter a doação em junho, quando a Justiça determinou que a fundação deveria devolver o convento ao estado.

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