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Getúlio Vargas: carta-testamento em que explica o gesto fatal  e a morte com um tiro no peito. | Arquivo
Getúlio Vargas: carta-testamento em que explica o gesto fatal e a morte com um tiro no peito.| Foto: Arquivo

Uma carta. A forma inatual e simbólica (quase prosaica) com que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) declarou sua “paz armada” à presidente Dilma Rousseff (PT) fez reviver a antiga tradição das missivas políticas que abalaram esta e outras repúblicas.

De pronto, vem à memória o exemplar mais célebre: a carta-testamento de Getúlio Vargas (1882-1954) em que o presidente explica o gesto fatal (um tiro no peito) que tomou em seu quarto no Palácio do Catete em 24 de agosto de 1954.

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A despedida de Vargas é um documento visceral e tem duas versões: uma manuscrita com texto mais conciso e uma outra datilografada que foi distribuída à imprensa na manhã do dia 25.Em ambas, destaca-se o final contundente:

“... lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história. ”

Assim que foi divulgada, colegas de imprensa reconheceram na carta a prosódia do jornalista José Soares Maciel Filho, um dos redatores ocultos dos discursos de Getúlio. A questão nunca resolvida de todo por seus biógrafos. Fato é que a carta de Getúlio mudou a maré da política nacional, jogou a opinião pública contra seus opositores e interferiu no processo sucessório.

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Exatamente oito anos depois, em 25 de agosto de 1961, quando o governo já era sediado em Brasília, outra carta presidencial balançou os alicerces da República. Numa rápida e inesperada carta de renúncia, o presidente Jânio Quadros (1917-1992) mais confunde do que esclarece sobre as razões que o fizeram apear do poder:

Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública”.

Sabemos que Jânio era um missivista contumaz e até o final de sua vida política ordenou, conspirou e cativou através de cartas e bilhetinhos.

Uma reportagem recentemente produzida pelo jornalista Marcelo Remígio, da agência O Globo, mostra que nem a circulação de cartas entre os gabinetes mais poderosos nem o jeito de fazer política no pais mudou muito nos últimos 130 anos.

Nas centenas de cartas que princesa mandou ao pai, o imperador Pedro II e a outros familiares, ela relata que sofre com “fogo amigo” dos partidos aliados, alguns ávidos por cargos outros por derruba-la da cadeira, que é sabotada por pautas bomba no Congresso (como a Lei áurea e a Lei do ventre Livre) e por lideranças da oposição que querem que ela saísse do pais. Semelhanças com a situação política atual não são coincidência, mas as cartas revelam uma princesa de pulso firme e detentora de um humor ácido.

Na história recente, houve a “Carta ao Povo Brasileiro” escrita pelo então candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na carta arquitetada por seu publicitário Duda Mendonça, Lula tentava expor uma face mais moderada com intenção de acalmar o mercado e aumentar até a classe média a base eleitoral do petista. Saía de cena o sindicalista virulento e entrava o “Lulinha Paz e Amor”, persona com a qual Lula venceu a eleição. Nela Lula fazia uma promessa sobre um tema atualmente quente: “ A questão de fundo é que, para nós, o equilíbrio fiscal não é um fim, mas um meio. Queremos equilíbrio fiscal para crescer e não apenas para prestar contas aos nossos credores.Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus compromissos”.

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Gandhi e Hitler

Na política internacional há inúmeros outros casos com consequências importantes. Na América Latina, há a autodefesa em forma de carta em que o então advogado Fidel Castro Ruiz desafia à Justiça cubana que o prendera em 1953: “Me condenem, não importa. A história me absolverá”.

Uma das missivas políticas mais famosas é a “carta-aberta” do escritor francês Èmile Zola (1840-1902) ao presidente da República, Félix Faure em 1898. Na carta, Zola acusava oficiais do exército francês de terem ocultado a verdade no processo em que o capitão Alfred Dreyfus fora condenado por espionagem e alta traição. Com o nome de J’Acusse (Eu Acuso) a carta foi para as primeiras páginas dos jornais e viraram um dos livros mais célebres da história francesa.

São famosas também as cartas do líder indiano e pacifista Mahatma Gandhi (1869-1948) ao ditador alemão Adolf Hitler (1889-1945) um pouco antes do início das movimentações que deflagraram a segunda guerra mundial em 1939.

“Durante esta estação, enquanto os corações dos povos da Europa anseiam por paz... É muito pedir que você faça um esforço por isso?”, suplicava.

Sabemos, infelizmente que s as palavras de Ghandi não tocaram o coração de Hitler. O que não sabermos é o efeito que as pretensamente ternas palavras de Temer farão à sensibilidade da presidente Dilma, que anda à flor da pele nestes idos de dezembro.

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