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Imposto do cheque

Governo admite reduzir CPMF até 2009 para atrair votos da oposição

Mudança na alíquota seria apresentada depois da aprovação do texto atual pelo Senado, para evitar atrasos na prorrogação do imposto

Para atrair os votos da oposição e aprovar a prorrogação da CPMF até 2011 no Senado, o governo dá sinais de que no futuro poderá propor a redução da alíquota da contribuição. Qualquer alteração agora no texto original da PEC obrigaria o projeto a voltar à Câmara, o que atrasaria a votação. Mas tanto o presidente em exercício, José Alencar, quanto o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, admitiram nesta terça-feira mudanças na cobrança do imposto.

A emenda, com a atual alíquota de 0,38%, começa a caminhar no Senado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ao participar de um seminário na sede do BNDES, Mares Guia lembrou que um artigo incluído na PEC, aprovada pela Câmara, permite que o governo apresente um projeto de lei reduzindo a alíquota da CPMF:

- Se a situação até o final do ano continuar do jeito que está, com os indicadores favoráveis do jeito que estão, com o país crescendo chegando ao patamar dos 4%, poderíamos, de comum acordo com o Congresso, no ano que vem, negociar alguma coisa nesse sentido. Na PEC hoje tem uma válvula, uma porta de saída, que diz que o governo pode, através de um projeto de lei, mandar para o Congresso uma proposta de redução. Esse é um grande trunfo que nós temos - disse o ministro, para em seguida afirmar que isso poderia acontecer até 2009.

Em mais um esforço do governo para aprovar a prorrogação da CPMF, José Alencar vai se reunir nesta quarta-feira com os líderes de partidos e os presidentes de comissões no Senado. Ele irá acompanhado dos ministros da Saúde, José Gomes Temporão, do Planejamento, Paulo Bernardo, e do interino da Fazenda, Nelson Machado. O presidente em exercício, que participou da posse do empresário Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira em seu quinto mandato na Firjan, confirmou a negociação.

- O que se pode negociar, provavelmente, seja alguma coisa mais para a frente, com compromisso seguro para ser cumprido pelo governo - disse o presidente em exercício, que classificou a manutenção do imposto provisório de "anti-popular".

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) propõe um cronograma que prevê a votação da CPMF na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no dia 7 de novembro, para que ela seja votada no plenário, em primeiro turno, no dia 6 de dezembro. Com isso, a matéria poderia ser votada em segundo turno entre os dias 18 e 19 de dezembro. Já o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), disse que a relatora Kátia Abreu (DEM-TO) vai usar o praxo máximo previsto no regimento:

- Eles vão jogar pesadíssimo na CCJ, mas nós não abriremos mão do prazo regimental. Eles demoraram cinco meses na Câmara e agora querem votar aqui a toque de caixa. Qual é o argumento? - afirmou.

Não é só a oposição que promete dar dor de cabeça ao governo no Senado. Até mesmo parlamentares da base aliada estão cobrando uma proposta concreta de compensação pela aprovação da CPMF com o texto que veio da Câmara. Esse posicionamento foi externado na reunião de líderes, como informa o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).

- Ficou claro que todo mundo quer alguma negociação - disse Casagrande.

Nesta terça-feira, na primeira reunião dos líderes sem Renan Calheiros (PMDB-AL), que tirou licença de 45 dias, os senadores fecharam um acordo para destrancar a pauta de votações.

Lula cobra da base aliada a aprovação da CPMF

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou na manhã desta terça-feira, em entrevista a jornalistas brasileiros na República do Congo, que a base aliada aprove a prorrogação da CPMF - o imposto do cheque - até 2011. Segundo Lula, é para isso que a base existe.

- Na hora de votação, não tem negociação, ou temos base aliada ou não temos - afirmou.

A base governista, porém, não garante os 49 votos necessários para aprovar a emenda constitucional, o que leva o governo a ter que negociar com a oposição. O presidente afirmou também não ter dúvida de que Renan voltará ao comando do Senado.

- Volta, obviamente que ele vai voltar. O Renan apenas pediu licença.

Lula também mandou um recado aos senadores que são contra a prorrogação da CPMF, especialmente os da oposição, afirmando que eles devem pensar no país como um todo e não podem esquecer que já aprovaram o imposto no passado.

- Os senadores estão politicamente calejados e não podem pensar em si próprios neste momento. Eles já aprovaram a CPMF, precisam reler o discurso que fizeram quatro anos atrás.

Perguntado se o fato de a relatora da proposta de prorrogação do imposto na CCJ ser a senadora oposicionista Kátia Abreu (DEM-TO) não tornaria a fatura cara demais para o governo, uma vez que ela é da bancada ruralista, bloco que tem um lobby muito forte e muitas reivindicações ao governo, Lula respondeu:

- Sairá caro se não for aprovada. Quem no planeta Terra pode prescindir de R$ 40 bilhões?

Frisando que o Senado é soberano, o presidente mostrou confiança de que o governo conseguirá aprovar a prorrogação do imposto.

- Acharam que na Câmara seria difícil e ela foi aprovada.

Lula foi firme ao ser perguntado sobre a proposta de aumentar a partilha da CPMF com estados e municípios.

- Não acho compatível que isso ocorra, senão daqui a pouco vai acabar a CPMF. Se isso ocorrer, a CPMF não acaba nunca.

O presidente afirmou que a postura desses políticos que exigem a distribuição da receita não é compatível com o discurso de quem quer acabar com a CPMF.

Hélio Costa admite reassumir mandato para votar CPMF no Senado

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, admitiu nesta terça-feira que poderá reassumir o mandato para ajudar na votação da CPMF. Costa disse, no entanto, desconhecer qualquer negociação para que ele assuma a presidência do Senado, no caso do afastamento defintivo de Renan.

- Não posso certamente fazer qualquer comentário sobre esta pergunta, muito embora fique muito lisonjeado com a própria pergunta. Não tenho nenhuma informação nesse sentido. Eu tenho colaborado de todas as formas, conversado com os meus colegas senadores sobre a importância principalmente da aprovação da CPMF, mas não tenho nenhuma informação sobre qualquer movimentação política no sentido de eu conduzir qualquer negociação - disse Costa, quando questionado sobre a possibilidade de substituir Renan.

O ministro não descartou o retorno ao mandato:

- Eu não descarto porque eu tenho compromissos com o governo de que vou ajudar na aprovação da CPMF como senador. Então o voto que está lá, que me representa, que é o do meu suplente, é um voto do governo. Se tiver qualquer dúvida de que ele não possa votar com o governo eu vou lá no Senado votar com o governo.

O suplente de Costa é o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos defensores de Renan. O ministro disse ainda estar à disposição do presidente Lula para qualquer missão.

- Onde puder ajudar o governo do meu presidente, que já me honrou muitíssimo me convidando para ser ministro, eu estou inteiramente às ordens - afirmou o ministro, que participou de um seminário sobre segurança da informação para servidores do Palácio do Planalto.

Jucá quer mudanças no cronograma de votação da CPMF

Sobre a CPMF, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), admitiu que, se for seguido todo o cronograma regimental de tramitação de uma PEC no Congresso, não haverá tempo para aprovar a prorrogação do imposto até o fim do ano.

- Se for cumprido todo o cronograma do regimento, estoura o ano - disse o líder.

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